Neste 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, o Brasil de Fato relembra a atuação combativa de um símbolo da luta feminista no Brasil: Nalu Faria, que morreu no último mês de outubro, concedeu entrevista contundente a Amanda Harumy e Mariana Davi Ferreira no programa Diplomacia de Base, ligado ao Instituto Diplomacia para Democracia. Um importante trecho desta entrevista será apresentado aqui.
Coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Nalu destacou algumas das importantes conquistas históricas do movimento, que luta pela erradicação da pobreza e da violência contra as mulheres. “Nós, enquanto mulheres, também temos que construir a nossa força política articulada a outros movimentos para fazer com que o feminismo seja uma agenda política de todos”, destacou.
É importante destacar que a entrevista foi concedida em janeiro de 2022, e, com isso, algumas informações podem estar descontextualizadas nos dias atuais. Por exemplo, ainda não tinha acontecido a eleição que, enfim, tiraria Jair Bolsonaro (PL) da presidência da República, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A íntegra da entrevista será publicada no livro Diplomacia de Base: Internacionalismo dos Movimentos Populares, organizado por Harumy e Ferreira e pelo Instituto Diplomacia para Democracia. Com prefácio de João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o livro tem previsão de publicação para o próximo mês de dezembro.
Confira abaixo destaques da entrevista:
Amanda: A convidada de hoje é a Nalu Faria, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) no Brasil e do Comitê Internacional da MMM. Hoje é uma quinta-feira mais triste. Todos nós ficamos sabendo da morte da cantora e artista tão importante que é e foi a Elza Soares, mas acredito que tem tudo a ver com o nosso tema, o movimento de mulheres, o movimento feminista e as resistências que vêm sendo construídas. Para começarmos, gostaria que você apresentasse o movimento, que se declara antirracista e anticapitalista, e foi fundado nos anos 2000.
Nalu Faria: Bom, a Marcha surge em um momento muito parecido com o que nós estamos vivendo aqui e no mundo, que era justamente de hegemonia do neoliberalismo. Nós, aqui nas Américas, estávamos começando nossa luta contra a Alca [Área de Livre-Comércio das Américas]. A Marcha começou em formato de uma campanha que quis posicionar a luta das mulheres desde uma perspectiva mundial, porque avaliamos que, naquele contexto de globalização neoliberal, nossas respostas também tinham que ser em nível mundial a partir de uma visão crítica ao neoliberalismo e anticapitalista. Havia um debate em relação à questão econômica centrada na pobreza, onde as políticas do Banco Mundial, dos organismos multilaterais e dos governos falavam no máximo sobre mitigar a pobreza ou reduzir seus impactos.
A MMM começou se posicionando com a visão de que era necessário erradicar a pobreza e a violência contra as mulheres. Isso orientou todo o nosso projeto político. Primeiro, a ideia de que tínhamos que ser um movimento antissistêmico e que precisava ter um enraizamento de base muito grande. Ao mesmo tempo em que deveríamos ser um movimento internacional mundial, teríamos que estar conectadas aos processos da base. Nas conferências das Nações Unidas, havia todo um processo de articulação pelas cúpulas, mas não estava conectado com os movimentos de base. Então, a Marcha surge de uma visão crítica em relação a isso.
Resumindo, no nosso movimento podemos identificar três questões. A primeira é a visão política e crítica ao neoliberalismo, mas desde uma perspectiva anticapitalista e antissistêmica. A segunda questão era a compreensão da importância de disputar uma visão do feminismo pela esquerda, desde os setores populares, entendendo que havia uma disputa, com um processo de institucionalização do feminismo. Aqui nas Américas, isso era muito forte, com um rebaixamento da agenda política. Em terceiro lugar, pensar um processo organizativo baseado na auto-organização das mulheres, mas que, concomitantemente, construísse relações de aliança…
Read More: Dia para Eliminação da Violência Contra as