O recente caso de uma australiana que foi demitida depois que o chefe usou um software que rastreava atividade de digitação levantou novas questões sobre o monitoramento do trabalho remoto. O gerente alegou que a função exigia mais de 500 toques no teclado por hora – ela tinha uma média de menos de 100.
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Esse não foi um relato isolado. Em julho, Michael Patrón, um usuário do X, antigo Twitter, fez um post dizendo que acabara de demitir dois trabalhadores que usavam tecnologia de movimento do mouse para simular que estavam trabalhando. Patrón descobriu o fato com um relatório da Time Doctor, empresa de análise de dias de trabalho, que identificou que havia longos períodos de tempo em que os trabalhadores não estavam digitando.
Carlo Borja, gerente de marketing de conteúdo da Time Doctor, disse ao Business Insider que eles fornecem painéis em tempo real e relatórios de progresso que ajudam as empresas a avaliar os níveis de produtividade de seus funcionários, especificamente seu tempo de entrada e saída, intervalos e uso da web e de aplicativos.
O Time Doctor também oferece uma ferramenta de rastreamento de tela que permite às empresas visualizar a tela de um funcionário por meio de gravações ou capturas de tela – ela pode ser ativada e desativada conforme necessário.
“Ajudamos as empresas a ficarem tranquilas com análises de produtividade”, disse ele.
A Time Doctor viu os negócios melhorarem nos últimos anos, à medida que o trabalho remoto decolou, disse Borja, e o movimento de retorno ao escritório não eliminou a demanda por software de rastreamento de funcionários.
“Agora, pós-pandemia, mesmo com as pessoas voltando aos escritórios, as empresas estão se adaptando à configuração do trabalho híbrido”, disse ele. “Isso torna o Time Doctor ainda mais valioso.”
Mais de 200 mil pessoas rastreadas no mundo
As empresas há muito usam software de rastreamento de funcionários para manter o controle sobre os trabalhadores. Mas à medida que mais empresas adotaram o trabalho híbrido e totalmente remoto nos últimos anos, estes produtos tornaram-se muito mais populares. Borja disse que mais de 298 mil funcionários em todo o mundo estão sendo rastreados usando o software da empresa – seus maiores clientes estão nos EUA, Reino Unido e Austrália.
Uma pesquisa do Resume Builder de março com 1.000 líderes empresariais dos EUA que lideravam uma força de trabalho principalmente remota ou híbrida descobriu que 96% deles usam alguma forma de software de monitoramento de funcionários. Antes da pandemia, apenas 10% dessas empresas o utilizavam, descobriu a pesquisa. Cerca de três quartos dos entrevistados disseram ter demitido funcionários com base nas descobertas de seu software de rastreamento.
Como as empresas rastreiam seus funcionários
O sistema de monitoramento do JPMorgan, por exemplo, rastreia tudo, desde a frequência no escritório até o tempo gasto na redação de e-mails, informou o Insider no ano passado. Na fábrica da Tesla em Nova York, os trabalhadores disseram à Bloomberg que a empresa monitora o quão ativos eles estão em seus computadores – e que, como resultado, eles evitavam ir ao banheiro.
Outras empresas rastreiam cliques do mouse ou usam fotos de webcam para garantir que os funcionários estejam em seus computadores. Oito das 10 maiores empresas privadas dos EUA monitorizam a produtividade dos seus funcionários, informou o The New York Times no ano passado.
De acordo com dados do Resume Builder, apenas 5% dos líderes empresariais que relataram usar software de rastreamento disseram que seus funcionários não sabiam que estavam sendo monitorados. Embora Borja tenha afirmado que a Time Doctor incentiva seus clientes a divulgar o uso de software de rastreamento aos seus funcionários, não pode garantir que o façam.
“Ainda é, em última análise, uma escolha do proprietário da empresa”, disse ele.
No Brasil, é permitido monitorar funcionários?
A lei 14.442 — que discorre sobre as regras do trabalho remoto, promulgada em setembro do ano passado — não menciona o termo “monitoramento”. Por isso, as empresas devem agir com cautela. Advogados explicam que o monitoramento pode ser feito desde que nas estações de trabalho da empresa, com o cuidado de não ferir os princípios de privacidade e inviolabilidade dos funcionários.
Apesar disso, existem também no Brasil empresas que fornecem softwares de monitoramento para outras empresas. Esse tipo de recurso ganhou o apelido de “bossware”, em referência à palavra boss (chefe, em inglês).
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