O rapper mineiro Fabrício Soares, conhecido pelo nome artístico FBC, começou a sua trajetória no hip hop há quase duas décadas, nos primórdios dos Duelos de MCs de Belo Horizonte – capital que vem atraindo os holofotes do rap nacional para além do eixo Rio-São Paulo.
Em 2021, o artista assistiu a um “booom” de público, reproduções nas plataformas e presenças em festivais pelo país ao lançar o álbum “BAILE“, uma parceria com o produtor VHOOR que propôs um revival do miami bass, subgênero mais “solar” do hip hop que fez sucesso nos anos 1980 e 1990.
Neste ano, FBC continua a sua jornada de experimentações sonoras no álbum “O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta“, que explora as fases da dance music e promove rimas sobre essas três temáticas em uma narrativa “jorgebenjística”.
Em entrevista ao JC, realizada por conferência de vídeo em seu estúdio em Belo Horizonte, o artista falou sobre o processo criativo do disco, os desafios de um artista vindo da periferia e a sua conhecida admiração pela cultura do Recife: “É como um outro país que fala português”, brinca. FBC será atração do 21º Coquetel Molotov, marcado para 21 de outubro no campus da UFPE.
Entrevista – FBC, rapper
JC – Como você chegou na sonoridade do álbum “O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta”?
Em 2020, fui para a Europa e o servidor do Spotify foi atualizado, passando a me mostrar um monte de playlists desse continente, da África, do Oriente Médio e do Leste Europeu. Eu me deparei com várias playlists de house e notei que a galera fazia um house rimado. Tinha a batida do house, mas a galera rimava como se fosse um rap. Isso chamou a minha atenção. Quando voltei para o Brasil, trabalhei no álbum “BAILE” e passei o ano seguinte todo ocupado rodando com esse álbum.
Ao mesmo tempo, fui procurando mais, descobrindo, redescobrindo coisas que eu já tinha escutado quando era criança e adolescente, já que o house é um estilo de música muito popular. Se escuta house em novelas, filmes, propagandas, nas rádios que tocam esses “Summer Eletrohits”. Até que surgiu uma janela para que pudesse convidar Pedro Senna e Ugo Ludovico para executar esse novo disco. Eu já tinha feito vários shows do “Baile”, tinha ganhado bastante dinheiro, e chamei os caras para ver no que iria dar. Assim nasceu o álbum.
JC – Apesar do despertar com as playlists no exterior, quais influências nacionais você citaria? Fala-se muito do Jorge Ben, mas muita gente também lembrou do “Boogie Naipe”, do Mano Brown, artista que também veio do rap.
As pessoas associam a esse nomes porque o disco traz gêneros que não são meus. São gêneros antigos, coisas datadas. Lembra o “Boogie Naipe”, do Mano Brown, por conta do jeito que a guitarra bate, mas esse disco é algo totalmente diferente. O “Boogie” não tem nada a ver com house. As pessoas também falam muito do Tim Maia, mas a única semelhança com ele é o uso dos metais, algo da soul music. Eu nunca ouvi o álbum “Racional”, do Tim Maia. Acho que por conta de uma treta que eu tive com um tio que era colecionador de vinil e ouvia. Minha família tinha um pessoal que veio da roça, sem tanta sensibilidade quanto às questões da cidade, que dizia que tudo era coisa de “vagabundo, maconheiro e ladrão”.
Na pandemia, eu entrei em uma vibe de recuperar a minha brasilidade, principalmente depois de voltar da Europa e entender que eu já ouvia aquelas coisas. Eu já tinha ouvido tudo aquilo. Talvez eu tenha até de encontrar o meu tio e pedir desculpas. Acho que eu poderia estar errado em algum momento naquela coisa da adolescência, de ser rebelde.
A grande referência nacional para esse álbum foi o Nill, do Sound Food Gand, que fazia algo similar aqui no Brasil. Já o tema das coisas que eu falo ali são totalmente inspiradas no Jorge Ben Jor. Sou apaixonado por ele, tenho uma tatuagem dele no braço. O álbum é uma coisa ‘jorgebenjística’: o amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta. É sobre olhar…
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