Parece que o “inverno das startups” está, finalmente, acabando. Depois do volume histórico de transações realizadas em 2021, que totalizaram US$ 5 trilhões, a temperatura e o volume de operações haviam despencado em 2022 e no primeiro semestre de 2023. No entanto, o mercado parece estar se preparando para uma nova rodada de transações relevantes, especialmente no segmento de tecnologia.
O responsável por essa agitação é o setor de Inteligência Artificial (IA), que começou a despontar a partir do segundo semestre do ano passado como uma área promissora no mercado de fusões e aquisições, impulsionado, principalmente, pelo lançamento, no final de novembro, do ChatGPT. A ferramenta de IA generativa desenvolvida pela OpenAI sacudiu o mundo e recebeu, poucos meses depois, um investimento de cerca de US$ 10 bilhões da Microsoft, acirrando a concorrência neste mercado com outras gigantes, como Alphabet (Google), Amazon e Meta.
As empresas e tecnologias de IA não são exatamente novas, mas o seu salto inovativo ocorreu a partir de 2014, com o aprimoramento dos modelos de IA generativa, sistemas que têm a capacidade de gerar um conteúdo baseado em informações disponíveis em seus bancos de dados. Isso é feito a partir do uso de redes antagônicas generativas (generative adversarial network, ou GAN), que permitem à IA criar e avaliar os dados gerados por ela, expandindo sua curva de aprendizado de forma independente e exponencial.
Porém, muito embora exista uma agitação impulsionada por conta das oportunidades em IA, o momento ainda é de cautela, vale dizer. Em uma avaliação das transações conduzidas pela PWC, o volume e os valores das operações de M&A realizadas no primeiro semestre de 2023 foram 4% e 12% menores, respectivamente, do que os níveis averiguados no segundo semestre de 2022, ano que já amargava uma ressaca do ápice de transações realizadas em 2021. Na comparação entre os primeiros semestres de 2023 e 2022, a queda é ainda maior, correspondendo a uma redução de 9% e 39%, respectivamente.
Por outro lado, as empresas de IA generativa estão indo na contramão dos demais mercados transacionais, conforme os números apresentados pelo PitchBook, que indicam um acréscimo relevante de US$ 4 bilhões investidos no setor em 2022, para mais de US$ 12 bilhões de operações anunciadas ou concluídas apenas no primeiro trimestre deste ano. Dentre os fundos mais ativos no setor, destacam-se Sequoia, Soma Capital e Tiger Global Management.
Neste sentido, também chamam a atenção transações como a aquisição da startup MosaicML (fundada há apenas dois anos e com somente 62 colaboradores) pela Databricks, por US$ 1,3 bilhão; ou, ainda, o investimento realizado pela Thomson Reuters, que pagou US$ 650 milhões pela Casetext, um assistente de IA destinado a advogados. Os dois casos são bons exemplos de operações acontecidas este ano que movimentaram o setor de IA.
Olhando além do mercado americano, a surpreendente rodada semente (seed) realizada na startup de tecnologia francesa Mistral AI foi a maior transação dessa espécie já efetuada na Europa, superando cheques realizados durante o auge dos valuations de tech ocorridos nos últimos anos. A empresa, fundada por Arthur Mensch, ex-Google, Timothée Lacroix e Guillaume Lample, ambos ex-Meta, levantou em seu primeiro mês de vida nada menos do que 105 milhões de euros (equivalentes a US$ 113 milhões ou cerca de R$ 550 milhões), em operação liderada pela Lightspeed Venture Partners e tendo como investidores Redpoint e indivíduos como o ex-CEO do Google Eric Schmidt e o bilionário francês das telecomunicações Xavier Niel, dentre outros, em operação que sinaliza o possível destino de boa parte do capital disponível no mercado de M&A nos próximos meses.
Outras repercussões desse repentino – e amplo – interesse em IA podem ser sentidas pelo mercado, como a expressiva valorização das ações da Nvidia, impulsionada sobretudo pela demanda gerada pelo uso de seus hardwares (sobretudo placas de vídeo e chips de alta performance) na realização das operações e cálculos requeridos para o processamento da IA generativa. A companhia alcançou o ATH (all times high) em meados de julho e, após uma queda de cerca de 10%, retomou às altas nos últimos pregões da bolsa de NY.
Cabe pontuar, contudo, que o ciclo transacional das…
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