Nasce uma pessoa, nasce uma conta. Isso já pode ser realidade no Brasil, com o investimento de instituições financeiras, nos últimos anos, voltado à criação de contas especiais para menores de idade. Os produtos simplificados permitem, em geral, recebimento de mesadas, pagamentos via Pix, emissão de cartões de débito, saques e investimentos em CDB ou CDI, introduzindo a educação financeira para crianças e adolescentes.
Em um ano, o número de contas Yellow do C6 Bank, que atende de recém-nascidos a adolescentes de 17 anos, cresceu em duas vezes.
— Lançamos esse programa em 2020, e a adoção segue sendo muito relevante. Cresceu, do início do ano até agora, 30%. O principal propósito da conta Yellow é ser um instrumento para colocar a educação financeira no ambiente familiar desde cedo — explica Maxnaun Gutierrez, head de Produtos para Pessoa Física do C6.
Esses produtos têm encontrado uma demanda cada vez maior das famílias. Um ano após o lançamento da modalidade, o Nubank, por exemplo, já acumula mais de 1,2 milhão de clientes na modalidade. Caixa Econômica Federal, Picpay, Itaú, Inter, Mercado Pago, Bradesco e Banco do Brasil também oferecem contas para menores, de diferentes faixas etárias.
A maioria das instituições permite a abertura de conta virtualmente, e exige que o responsável seja cliente e acompanhe as transações financeiras dos filhos.
— Se, por um lado, a criança ou o adolescente passa a ter autonomia para administrar o dinheiro, o responsável também consegue orientar e acompanhar. O responsável acessa a movimentação do filho via SMS ou push (notificação do aplicativo sobre os valores que estão sendo utilizados, a partir de R$ 30) — explica Larissa Novais, diretora de Clientes Varejo do BB.
Ficou mais fácil
No Banco do Brasil, um serviço do tipo existe desde 1997, mas era feito presencialmente nas agências. Com a entrada de fintechs no mercado, o banco expandiu e remodelou o produto, transformando a antiga BB Teen para o BB Cash, com navegação lúdica no aplicativo e games. Desde que foi lançada a novidade, em junho de 2022, já são 180 mil contas abertas.
Kenia Palmeira já abriu uma conta BB Cash para seu filho Pedro, de 13 anos.
— Essa conta facilita a transferência de dinheiro se ele precisa comprar um remédio e está sozinho em casa, se vai comprar a ração dos pets, se vai para um passeio da escola. Além de permitir que ele guarde dinheiro, quando ganha como presente de aniversário — conta.
Para Pedro, a conta em seu nome tem facilitado a vida.
— Com a minha conta, eu posso fazer Pix, o que é prático e simples — opina.
Ao participar das dinâmicas rotineiras das famílias, os produtos de bancos voltados para menores são estratégicos a curto e longo prazos.
— É a fidelização de toda a família. A curto prazo, mantém os pais no C6, já que normalmente querem garantir que o filho tenha acesso a educação financeira. Consequentemente, queremos ter esse cliente na conta C6 normal, quando ele fizer 18 anos — explica Gutierrez.
O Banco Central informou que o menor de 16 anos precisa ser representado por um responsável legal. Os maiores de 16 e menores de 18 anos não emancipados também devem ser assistidos.
Avaliação preliminar
Para especialistas, os novos produtos bancários para menores seguem a mesma lógica do lançamento, no passado, das contas para universitários.
— É uma preocupação do banco de captação de novos clientes e de atrair mais recursos, em termos de produtos, para o futuro cliente se fidelizar à instituição. Para pais e filhos, pode ser interessante como um primeiro contato prático com a educação financeira. Mas cuidados precisam ser tomados, como analisar a relação contratual de longo prazo. Os pais precisam entender as tarifas e as exigências. A relação com o dinheiro não é uma brincadeira. O banco quer cliente, contrato, tarifa e conceder crédito. Por isso, é fundamental entender quais são as regras do jogo — avalia Carla Beni, economista e professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Donato Souza, advogado especialista em direito bancário, ressalta que é fundamental os pais observarem as ferramentas de controle parental das contas.
— Os bancos estão interessados em captar clientes e recursos, oferecer crédito e aplicar tarifas e taxas. Ler o contrato é fundamental antes de contratar o serviço. Para menores, é melhor redobrar o cuidado — observa.
Estratégias de atração
Como parte da estratégia para atrair os pais e instigar as crianças, os bancos apresentam plataformas intuitivas e customizadas, com personagem de filmes e desenhos nos aplicativos.
— No caso do C6, a criança pode escolher entre seis cores para o cartão de débito dela e customizar seu nome atrás. Meu filho é fã de Naruto, então escolheu a cor laranja e usa no cartão o sobrenome de um personagem. Isso gera o engajamento dele querer usar e mostrar para os amigos. A parte lúdica ajuda a divulgação — avalia Maxnaun Gutierrez.
O encantamento dos pequenos clientes também é feito por meio de pacotes de benefícios que incrementam as contas digitais. Os clientes Start, do Player’s Bank do Itaú — conta voltada para gamers de 14 a 17 anos —, têm ofertas exclusivas como descontos em Xbox Game Pass ou na loja do time e-spors Mibr.
A aba Mimos do app do Next Joy — conta para menores (de 0 a 17 anos) do banco digital do Bradesco — traz descontos em cursos de Inglês, pizzaria, loja de games e assinatura de streaming.
O que os bancos oferecem
Next Joy (banco digital do Bradesco): Conta poupança gratuita para menores de 0 a 17 anos. Oferece conteúdo de educação financeira e skins personalizadas, além de cartão de débito, Pix, pagamento de boletos, recarga de celular, mesada programada, compra de Gift Cards e acesso a uma plataforma de benefícios chamada “Mimos”.
Nubank: Oferece uma conta para menores de 10 a 17 anos. Para abertura da conta, é necessário que o responsável legal seja cliente e faça a solicitação pelo próprio app.
Caixa Econômica: Para abrir a conta é preciso ir a uma agência da Caixa com os documentos ao responsável e do menor. Para beneficiários de programas sociais, é prevista a abertura de conta do tipo Poupança Social Digital, de forma automática. A movimentação pelo menor está condicionada à autorização do representante.
C6 Bank: Oferece a conta Yellow, de 0 a 17 anos. A contratação é feita no app do C6 Bank pelo pai ou mãe. O menor pode fazer seu cadastro e personalizar o cartão de débito vinculado à conta, com apelido e cor. A conta permite ainda fazer Pix, pagar contas, receber mesada e fazer investimentos no CDB.
Picpay: Jovens a partir dos 16 anos podem abrir uma conta gratuita e ter acesso a investimentos nos cofrinhos, pagamentos de boletos, recargas de celular e transporte, compras de gift cards, exceto produtos de crédito.
iti (banco digital do Itaú): Menores de idade, a partir de 14 anos, podem abrir conta. Uma das ferramentas possibilita poupança e investimentos diferenciados conforme o objetivo e metas, e acesso a rendimento diário equivalente a 100% do CDI.
Itaú: O Player’s Bank oferece a conta Start, para gamers entre 14 a 17 anos. A solução é gratuita e oferece Pix e pagamento de boletos. Os gamers têm acesso a ofertas exclusivas. A conta tem limite diário de movimentação em R$ 300 e mensal em R$ 2 mil.
Banco do Brasil: A BB Cash é voltada para menores entre 10 e 17 anos, e oferece cartão de crédito, Pix e investimentos. O responsável deve ser correntista do Banco do Brasil. Os jovens têm acesso a cartões de presente, jogos e podem pedir dinheiro aos pais pelo app. É possível ter poupança ou fundo de investimento, guardando dinheiro para a faculdade e intercâmbio.
Inter: O banco tem dois produtos: a conta Kids é destinada para crianças de 0 a 12 anos, e a Inter You atende adolescentes de 13 a 17 anos. As contas têm Pix, cartão de crédito, poupança e investimentos. Há ainda recarga de celular, cartões de presente e marketplace. O responsável não precisa ser correntista do Inter.
Mercado Pago: A Conta 13+ é voltada para adolescentes de 13 a 17 anos. Para aderir, é preciso indicar o responsável. O banco oferece cartão de débito sem tarifa, Pix, recarga de celular e compras online, incluindo gift cards. Há ainda a função Reserva, para poupar nas categorias “Organização”, “Pé-de-meia” e “Emergências”.
E no que usam?
Apesar de algumas contas bancárias digitais atenderem até recém-nascidos, os principais clientes têm idade entre 13 e 17 anos, segundo o Next Joy. Eles usam a ferramenta, em geral, para receber mesadas e pagar pequenas despesas do dia a dia. No Mercado Pago, uma pesquisa recente mostrou que os clientes desta faixa etária movimentam R$ 268 por mês, em média. Compras em supermercados, redes de fast food, restaurantes, lojas de departamentos e serviços são os principais gastos.
Assim, com pequenas transações, eles começam a aprender como lidar com o dinheiro — o que, para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), pode influenciar numa relação mais saudável com as finanças na vida adulta.
“O quanto antes esse menor se relacionar com os produtos e serviços dos bancos, mais facilmente entenderá o funcionamento do sistema financeiro. Além disso, é uma boa oportunidade para aplicar na prática os conceitos de…
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