Num cenário de aumento na procura por contas para crianças e adolescentes, os bancos apresentado apresentam plataformas intuitivas e customizadas, com personagem de filmes e desenhos nos aplicativos. A estratégia, além de instigar os mais novos, atrai também os pais, em busca tanto de ferramentas para facilitar o pagamento das despesas cotidianas dos filhos, quanto como ferramenta de educação financeira.
- Cresce a procura por contas bancárias para crianças e adolescentes. Veja prós e contras
- Canais do EXTRA no WhatsApp: Assine o canal Emprego e Concursos e receba as principais notícias do dia
— No caso do C6, a criança pode escolher entre seis cores para o cartão de débito dela e customizar seu nome atrás. Meu filho é fã de Naruto, então escolheu a cor laranja e usa no cartão o sobrenome de um personagem. Isso gera o engajamento dele querer usar e mostrar para os amigos. A parte lúdica ajuda a divulgação — avalia Maxnaun Gutierrez, head de Produtos para Pessoa Física do C6.
O encantamento dos pequenos clientes também é feito por meio de pacotes de benefícios que incrementam as contas digitais. Os clientes Start, do Player’s Bank do Itaú — conta voltada para gamers de 14 a 17 anos —, têm ofertas exclusivas como descontos em Xbox Game Pass ou na loja do time e-spors Mibr.
A aba Mimos do app do Next Joy — conta para menores (de 0 a 17 anos) do banco digital do Bradesco — traz descontos em cursos de Inglês, pizzaria, loja de games e assinatura de streaming.
No que eles gastam?
Apesar de algumas contas bancárias digitais atenderem até recém-nascidos, os principais clientes têm idade entre 13 e 17 anos, segundo o Next Joy. Eles usam a ferramenta, em geral, para receber mesadas e pagar pequenas despesas do dia a dia. No Mercado Pago, uma pesquisa recente mostrou que os clientes desta faixa etária movimentam R$ 268 por mês, em média. Compras em supermercados, redes de fast food, restaurantes, lojas de departamentos e serviços são os principais gastos.
Assim, com pequenas transações, eles começam a aprender como lidar com o dinheiro — o que, para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), pode influenciar numa relação mais saudável com as finanças na vida adulta.
“O quanto antes esse menor se relacionar com os produtos e serviços dos bancos, mais facilmente entenderá o funcionamento do sistema financeiro. Além disso, é uma boa oportunidade para aplicar na prática os conceitos de ganhar, gastar e poupar em um único local”, afirma a entidade.
Pix é favorito
Com o celular na palma da mão quase que todo o tempo, a digitalização do dia a dia também se reflete na vida financeira dos mais jovens. Num contexto em que o Pix é o meio de pagamento mais usado no país — no último dia 11, um novo recorde de transações diárias foi batido, com 152,7 milhões de operações, segundo o Banco Central (BC) — crianças e adolescentes bancarizados não destoam da população em geral.
Os pagamentos instantâneos encabeçam as 23 milhões de transações feitas por clientes menores de idade no Mercado Pago, entre janeiro e junho deste ano. No C6, só em agosto deste ano, o volume transacionado por contas Yellow foi 75% via Pix.
— O uso no dia a dia dos menores é de Pix. Sobra dinheiro e eles investem — explica Maxnaun Gutierrez, head de produtos para pessoa física.
Das transações a partir de contas Yellow do C6, 24% são via cartão de débito e 1% com saque. Quando o assunto é investimento, os clientes Yellow aplicam duas vezes mais do que resgatam.
No BB Cash, conta do Banco do Brasil focada nos adolescentes, foram quase três milhões de operações via Pix enviadas e 1,7 milhão de operações via Pix recebidas nos últimos três meses.
— Os clientes menores de idade relatam a facilidade em pagar com Pix e com cartão, seja em wallets (carteiras de pagamento digital) ou por aproximação, usar gift cards para jogos e apps de transporte e alimentação, guardar seu dinheiro e ver os rendimentos, além da rapidez e da comodidade em receber dinheiro diretamente pela conta e não mais por meio de dinheiro físico — explica Larissa Novais, diretora de Clientes Varejo do BB.
Aos 13 anos, Pedro Palmeira é um dos clientes do banco. Ele diz que a conta em seu nome tem facilitado a vida.
— Com a minha conta, eu posso fazer Pix, o que é prático e simples — opina.
Educação financeira é o 1º passo
Muito além de guardar moedas no cofrinho, o aprendizado sobre poupança, reserva, custos, investimentos, dívidas, gastos e muitos outros conceitos de educação financeira será fundamental para a formação de uma geração mais consciente e menos endividada. Por isso, especialistas defendem que uma eventual conta bancária venha acompanhada de conceitos econômicos valiosos.
Especialistas em finanças, Hulisses Dias é criador do canal no YouTube a Carteira da Olívia, em referência à filha de 2 anos e meio. Ele acredita que, quanto mais cedo começar a experimentar as noções de educação financeira, mais chances as crianças terão de aplicá-las de forma efetiva:
— Com educação financeira, a criança aprende a lidar melhor com os impulsos emocionais, a postergar a recompensa. A criança aprende Matemática, Português, Geografia, História e como assuntos variados influenciam na vida dela e no seu dinheiro.
Maxnaun Gutierrez, do C6, diz que os menores contam com pílulas de educação financeira dentro do aplicativo Yellow.
— A experiência de navegação no aplicativo é mais simplificada. Parece uma rede social, com pílulas feitas numa linguagem para criança e adolescente, ensinando sobre uso do cartão, segurança, uso de Pix e pagamento de boleto, por exemplo. Para investir, o menor cria um objetivo, como um videogame, e informa quanto custa. Assim, ele pode colocar quanto tem, e o app diz quanto falta para chegar ao objetivo — explica.
Menores são mais vulneráveis
O Pix, ferramenta preferida para pagamentos entre os menores com contas digitais, também tem sido estratégico para golpes aplicados no país. De acordo com uma pesquisa conduzida pela fintech de proteção financeira digital Silverguard, 1,7 milhão de fraudes financeiras via Pix foram aplicados em 2022, e quatro de cada dez brasileiros já foram vítimas de alguma tentativa de golpe ao usar esse meio de pagamento. O motivo do sucesso das fraudes, acima de brechas tecnológicas, é a engenharia social usada no crime, ou seja, as narrativas convincentes elaboradas pelos criminosos.
— O verdadeiro vilão não é o Pix, mas sim a supercriatividade e a elaboração dos golpes de engenharia social. Por isso, é muito importante o letramento em segurança financeira digital por todo mundo que faça transações financeiras, principalmente pelo celular — explica Marcia Netto, CEO da Silverguard.
Por conta da inocência e da pouca experiência tanto no mundo virtual quanto no financeiro, Marcia Netto considera que as crianças e os adolescentes brasileiros podem ser ainda mais vulneráveis a golpes. Dayana Costa, DPO da Incognia, empresa que oferece soluções para segurança de contas em toda a jornada digital, concorda:
— Os menores estão muito mais sujeitos a serem vítimas. E, por isso, é papel conjunto dos pais e dos bancos não só adotarem medidas de segurança para protegê-los, mas conscientizá-los para isso — afirma ela, descrevendo fraudes comuns: — Os criminosos podem se passar por gerentes de bancos e até pais, em contato por telefone ou WhatsApp, para pedir dados pessoais para a criança ou o adolescente, pedir transferência bancária. Podem pedir para clicar em um link que vai instalar um malware no celular do menor, que consegue alterar o valor e o destino de um Pix. Então, é importante ensinar cuidados.
Além disso, Dayana cobra dos bancos uma linguagem simples nos aplicativos voltados a menores, para que entendam o que fazem e consigam tomar decisões certas.
- Futuro: Um estudo do Banco Central mostrou que jovens que frequentaram aulas de educação financeira tinham menos tendência de se endividar em relação aos que não aprenderam sobre o assunto.
- Livros infantis: O primeiro contato com a educação financeira pode ser feito por meio de livros infantis que tratam de dinheiro de forma lúdica.
- Nas escolas: Diferentemente da geração dos pais, as crianças terão noções de educação financeira porque agora é uma disciplina obrigatória nas escolas.
- Nas redes sociais: Muitos jovens estão usando as redes sociais para falar sobre educação financeira com outros jovens e compartilhar suas experiências.
- Atividades: Mesmo antes do início da educação formal, os pais podem introduzir os conceitos de educação financeira no dia a dia da criança. De forma lúdica, elas podem aprender brincando de supermercado, criando um cofrinho, além de jogos.
- Rotina: Aproveite as tarefas diárias para introduzir e ensinar educação financeira às crianças. Fale sobre o consumo consciente, a importância de evitar o desperdício. Ao fazer compras, mostre quanto se gasta com as despesas de alimentação. Converse sobre educação, trabalho, poupança e investimentos.
O que os bancos oferecem
Next Joy (banco digital do Bradesco): Conta poupança gratuita para menores de 0 a 17 anos. Oferece conteúdo de educação financeira e skins personalizadas, além de cartão de débito, Pix, pagamento de boletos, recarga de celular, mesada…
Read More: Conta em banco ajuda nos gastos diários e na educação financeira de crianças e