Mais um corte da Selic e, curiosamente, mais uma vez, a Bolsa reage em forte baixa. Às 10h55 (horário de Brasília) desta quinta-feira (21), o Ibovespa operava em queda de 1,90%, aos 116.434 pontos, a princípio “ignorando” a movimentação do Comitê de Política Monetária (Copom) da véspera, que cortou a taxa Selic em 50 pontos-base, para 12,75%.
Usualmente, um corte de juros pela autoridade monetária é positivo para a Bolsa brasileira. Há fluxo de saída da renda fixa, que passa a pagar menos, para ativos de risco; as empresas veem seus faturamentos e financiamentos aumentarem, já que o crédito está mais barato; e companhias gastam menos com suas dívidas. Mas não é essa a reação de curto prazo no mercado.
O que acontece, para especialistas, é que outra autoridade monetária “acabou com a festa”. O Federal Reserve, dos Estados Unidos, que manteve a fed funds no intervalo entre 5,25% e 5,50% na última reunião da véspera, trouxe um tom duro no seu comunicado – sinalizando que vê a taxa avançando de novo nesse ano, com outra alta de 25 pontos-base, e que não a vê caindo durante 2024.
“A gente tem que lembrar que tivemos uma decisão de uma manutenção de taxa de juros, mas com tom hawkish [duro], como a gente diz no jargão de mercado, por parte do banco central americano. Isso, obviamente, contamina os ativos brasileiros de alguma forma”, fala Luis Garcia, CIO da SulAmerica Investimentos.
“Acho que a queda é reflexo de aversão ao risco após um discurso um pouco mais duro do Federal Reserve ontem. Como consequência, vemos a curva de juros nos EUA abrindo, o dólar se valorizando e as bolsas recuando”, menciona Luís Fernando Azevedo, head de Equity Research da Oriz Partners.
Os treasuries yields para dez anos ganham 12,5 pontos-base, a 4,472%, e os para dois anos, cinco pontos, a 5,17%. Quando os títulos do tesouro americano, que são considerados os ativos “mais seguros do mundo”, pagam mais, cria-se um fluxo de capital para os Estados Unidos. Com isso, o DXY, que mede a força da moeda americana frente a outras divisas de países desenvolvidos, sobe 0,40%, aos 105,5 pontos. Frente ao real a alta é de 1%, a R$ 4,928 na compra e a R$ 4,929 na venda.
“Nesta manhã, as taxas de juros dos títulos do governo dos EUA atingiram os níveis mais altos desde 2007,”, fala a equipe da Monte Bravo investimentos. “Nas suas Projeções Econômicas, os membros fizeram ajustes significativos nas expectativas em relação às taxas de juros. A nova perspectiva elevou a média das taxas de juros para 2024 para 5,6%, em comparação com os 5,1% anteriores”, completam.
Fora isso, os benchmarks americanos caem. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuam 0,62%, 0,78% e 0,88%.
Já há algum tempo, especialistas mencionavam que a Bolsa brasileira estava muito suscetível às decisões monetárias americanas. O Ibovespa, com as falas do Fed, sofre até mesmo mais do que os índices de Nova York, já que países emergentes costumam perder mais quando a aversão ao risco sobe.
No Brasil, a curva de juros acompanha a americana, apesar da queda da Selic. Os DIs para 2024 até caem um ponto-base, a 12,25%, mas os para 2025 e 2027 sobem, respectivamente, 2,5 e 4,5 pontos, a 10,55% e10,52%. As taxas dos contratos para 2029 e as dos para 2031 ganham, ambas, sete pontos, a 11,06% e 11,36%, respectivamente.
“Para mim, investidores trabalhavam com a hipótese de que o Banco Central brasileiro poderia trabalhar com cortes de 75 pontos-base. A sinalização do Fed afastou essa possibilidade e o mercado está passando por esse ajuste, com [a visão de] um corte menor”, fala Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos.
Fernando Ferreira, estrategista da XP, também apontou que na curva de juros havia alguma probabilidade de uma aceleração desse corte, talvez para 0,75 nas próximas. “Então o mercado tem que continuar se ajustando a essa é a magnitude de corte 0,5. Além disso, o comunicado fala sobre a questão fiscal das metas estabelecidas, o que coloca ali uma dúvida de que, caso o governo tenha que mudar a meta ou não cumpra a meta, se isso pode impactar a magnitude dos cortes futuros ou quanto que o Copom vai continuar cortando”, aponta.
Ferreira complementa ao dizer que o Copom também trouxe no comunicado falas sobre a alta de juros nos Estados Unidos.
Entre as maiores…
Read More: Por que a Bolsa tem forte queda mesmo com o novo corte da Selic?