A notória saída de capital estrangeiro da Bolsa brasileira tem sido alvo de discussão nos últimos dias, ainda mais levando em conta o início do corte da Selic pelo Banco Central no início do mês o que, a princípio, traria mais capital externo. Em agosto, até a sexta-feira da semana passada (18), a Bolsa brasileira já contabilizava uma saída líquida de R$ 8,6 bilhões de fluxo estrangeiro, no que deve ser o mês de maior saldo negativo no ano.
Grande parte dos motivos vem do cenário internacional: o pessimismo maior com a China, maior parceira comercial do Brasil, e a expectativa de uma política de juros mais apertada pelo Federal Reserve estão entre os fatores para a fraqueza observada nos últimos dias, que levou o Ibovespa a ter um recorde de treze baixas seguidas, interrompidas apenas na última sexta-feira (18). Porém, já no início desta semana, o principal benchmark da Bolsa brasileira voltou a ter forte queda, acumulando perdas de mais de 6% somente em agosto.
Além disso, está no radar o aumento das emissões de títulos por parte do Tesouro dos Estados Unidos, na esteira do rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Fitch, o que justificou maior remuneração para os investidores carregarem os papéis, também impactou o mercado. A liquidez diminuiu, afetando o Ibovespa e as bolsas internacionais.
Soma-se a isso o noticiário sobre o impasse para a votação de importantes pautas econômicas pelo Legislativo nacional, ainda que analistas não vejam este como o grande motivo para a saída de capital.
Em meio a tantos fatores, analistas questionam se há mudanças estruturais na tese de investimentos na Bolsa brasileira ou se o movimento de saída do estrangeiro é pontual.
Cabe destacar, conforme apontou Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, para o Broadcast, que o investidor estrangeiro tem sido o grande diferencial para a nossa Bolsa, porque o Brasil tem registrado resgate de fundos de investimentos e multimercado em todos os meses do ano. “Só em julho é que os fundos de investimento registraram saldo positivo”.
Conde, da Levante, diz ainda que o investidor estrangeiro conseguiu prever em junho e julho alguns fatores que contribuem para a tese brasileira: o Banco Central esperou a inflação baixar para começar o início de corte da Selic; o arcabouço fiscal foi aprovado no Congresso, e a reforma tributária, na Câmara.
“A venda pelos investidores estrangeiros é por pura realização de lucros, por ter conseguido antecipar bem a alta da Bolsa. Não tem nada a ver com deixar de acreditar no arcabouço fiscal ou na reforma tributária por aqui”, afirma. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que, se houver acordo, o projeto poderá ser votado já na próxima terça-feira (22).
Quando o fluxo vai voltar?
Analistas, estrategistas e parte dos gestores de mercado seguem otimistas com a Bolsa brasileira e projetam a volta do fluxo estrangeiro, ainda que haja divergências sobre o “timing” para tanto, podendo demorar para um retorno mais robusto de capital.
O Bank of America ressalta que e o Ibovespa “segue esperando por compradores”, mas mantém a visão de que a alta da Bolsa ainda não se encerrou.
De qualquer forma, uma recuperação pode demorar a vir, levando em conta a entrada de investidores no geral. Ao fazer uma pesquisa com gestores na América Latina, o BofA apontou que uma maioria dos participantes espera que investidores mudem para ações apenas quando a taxa Selic atingir 10% ao ano, enquanto 32% avaliam que será necessário um juro menor para esse movimento acontecer.
A considerar as previsões dos mesmos gestores no levantamento, isso não deve ocorrer neste ano, uma vez que metade dos gestores consultados afirmaram enxergar a Selic entre 11,75% e 12% neste ano. Uma parcela de 34% prevê a taxa abaixo de 11,75%.
Já o sentimento em relação às ações brasileiras permanece positivo, com 88% enxergando o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, acima de 120 mil pontos no final do ano e 44% vislumbrando o índice acima dos 130 mil pontos.
Atualmente, o Ibovespa ex-commodities é negociado com cerca de 10% de desconto em relação aos históricos, contra apenas 5% de desconto de um mês atrás.
A Ágora Investimentos também segue com visão positiva, apesar de ver um cenário de “bull market” como improvável no…
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