Se um político entra em decadência, é comum a piada de que “não ganha mais nem eleição para síndico”. Mas foi-se o tempo em que para ocupar esse cargo bastava ter boa relação com os vizinhos. Nos últimos anos, gerir prédios com centenas – ou mesmo milhares – de moradores tem exigido cada vez mais conhecimento de gestão e olhar empresarial. Tanto é assim que muitos condomínios passaram a contratar síndicos profissionais, que não vivem no local e cobram uma taxa para desempenhar a função.
Levantamento da Lello Condomínios, maior administradora do País, aponta mudanças no perfil dos síndicos paulistanos. Em relação à análise anterior, de 2019, eles se tornaram mais jovens – pouco mais de 1/3 têm mais de 60 anos – e ficam menos tempo no cargo: a média foi encurtada de três para dois mandatos. E a proporção de condomínios que decidiu contratar profissionais específicos para a função subiu de 11% para 13%.
Por trás dessa mudança, está o entendimento de que as tarefas não se resumem a fiscalizar e pôr ordem no condomínio. “Hoje é quase um curador daquele espaço. Isso faz com que se tenha perfil mais profissionalizado, porque assim é capaz de perceber questões invisíveis, que antes só apareciam quando estourasse o problema”, diz Angélica Arbex, diretora de Marketing da Lello Condomínios.
“Gerir um condomínio é muito equivalente a gerir uma empresa. Em média, 90% dos condôminos têm o imóvel como principal patrimônio. Eles se preocupam no quanto aquele ativo valerá no futuro. Assim, buscam síndicos que se preocupam com a valorização patrimonial e a atualização de equipamentos”, diz Angélica.
Do empresário que também é síndico ao síndico que virou profissional
Gerir ativos é justamente a especialidade de Nelson José Hyppolito, de 52 anos. Diretor comercial em um banco, ele se mudou para o condomínio onde mora atualmente em 2015 e ficou incomodado com a forma como o local era gerido.
“Um condomínio precisa de gestão, gerenciar conflitos e, principalmente, pensar em prosperidade. Muitas coisas no condomínio não me agradavam, percebi falhas na gestão anterior, como a coordenação de novas obras, de benfeitorias. Eram feitas por conhecidos, gente antiga que fazia o serviço, mas não tinha qualificação técnica ou o custo-benefício adequado”, lembra ele, que mora no Tatuapé, zona leste paulistana.
Já no ano seguinte, Nelson assumiu a função de síndico, que mantém até hoje. “Para obras e serviços, comecei a fazer uma espécie de licitação, com busca de ao menos três orçamentos. Outra frente foi trabalhar a gestão de caixa, visando sempre redução de custos. É possível negociando com fornecedor, reduzindo água e luz, e tentando receita extra, como ceder espaço para a instalação de máquinas para vendas de produtos”, conta. O prédio onde mora tem 36 apartamentos, divididos em 18 andares.
Alex Santos Costa, de 42 anos, comprou um imóvel em 2015 e, como morador, virou síndico logo no primeiro ano. Foram vários os problemas encontrados num imóvel recém-entregue pela construtora. Mas a experiência profissional que ele tinha – atuava na supervisão de uma empresa que terceiriza serviços de segurança – ajudou a organizar as coisas.
Os desafios que superou como síndico morador fizeram com que, três anos mais tarde, se tornasse profissional da área. Hoje, além de gerir uma empresa de terceirização de serviços de manutenção e zeladoria, Costa é síndico profissional. Ele vive no Campo Limpo, na zona sul, e está à frente de oito condomínios em bairros diversos, como Morumbi, Água Funda, Vila Olímpia e Saúde.
“No início, a ideia era cuidar do que era meu, mas acabei pegando só ‘bucha’. Condomínio direto da construtora (havia uma série de pendências a serem resolvidas). Eles deram o suporte, mas foi difícil. Aí abri a mente”, explica.
“Tenho uma pessoa que trabalha comigo no escritório, que diariamente verifica as contas dos condomínios, acompanha os vencimentos dos laudos, etc”, relata. “E semanalmente eu visito os condomínios para conferir a operação.”
Vale a pena contratar um síndico…
Read More: Busca por síndico profissional cresce, mas maioria ainda é morador: quando ter