O advogado Fernando Lusvarghi, um dos principais membros da Unick Forex, tenta reerguer sua carreira e se desvencilhar da empresa gaúcha, acusada de ser uma pirâmide financeira.
De sua casa em Bragança Paulista (SP), onde é monitorado por meio de uma tornozeleira eletrônica, Lusvarghi concedeu uma entrevista exclusiva ao Livecoins, pelo Skype.
Mais magro e aparentemente abatido – diferente da época em que aparecia em vídeos afirmando que a Unick era confiável -, ele falou sobre novos negócios, disse que sente “pesar” pelas vítimas do negócio e falou sobre sua relação com a empresa fundada pelo empresário Leidimar Lopes, presidente do negócio.
Durante o bate-papo, Lusvarghi, que ficou foragido por pouco mais de um mês ano passado, tentou se isentar da culpa pela ruína da Unick e deu a entender que também foi vítima da empresa, que captou quase R$ 30 bilhões e prejudicou mais de 1,5 milhão de pessoas, segundo o processo que corre na Justiça.
Se foi vítima ou algoz, só o processo que corre na Justiça dirá. Veja abaixo trechos da entrevista:
Você vai fazer uma live hoje. O que vai falar?
O meu objetivo maior é estar em contato direto com as pessoas e mostrar para elas que sou um profissional sério, que infelizmente prestou serviço para a Unick Forex. Além disso, quero desmistificar um pouco essa imagem negativa que criaram a meu respeito.
Nas lives que pretendo fazer, vou abordar temas do direito empresarial e focar em gestão empresarial, que é minha área de atuação. Acho que posso ajudar os empresários brasileiros, que são bons no que fazem, mas pecam muito em questões administrativas, que são minha expertise.
Você tenta se desvencilhar da empresa, mas era um dos principais rostos do negócio e inclusive garantiu várias vezes que a Unick Forex era confiável. Por que mudou de discurso?
Olha, as informações que eu tinha como diretor jurídico e como prestador de serviço não mostravam nenhum tipo de problema. Até mais ou menos agosto, quando gravei o último vídeo junto com o Leidimar Lopes, eu acreditava que o projeto era real. Inclusive quando as pessoas me perguntavam, eu falava sobre a legalidade e mostrava o que eu acreditava dentro da análise do conceito que eu tinha sobre o que é o marketing multínivel.
Mas a gestão de tudo isso não era feita por mim. Eu não tinha acesso e não gerenciava a esse nível. Eu acreditei muito nesse projeto e até indiquei a empresa. Em outubro, no entanto, fomos surpreendidos pela operação que divulgou muito mais informações sobre como o negócio realmente funcionava.
Nota: na denúncia feita à Justiça, o MPF (Ministério Público Federal) informou que Lusvarghi era um dos responsáveis por planejar as atividades da Unick Forex, prestar garantia fictícia para os investidores, receber valores captados de clientes e controlar pagamentos e pedidos de saques.
Apesar da operação da PF ter derrubado a Unick Forex em outubro, a empresa já vinha atrasando pagamentos. Ou seja, você já sabia dos problemas.
Quando falei com eles (Leidimar Lopes e cabeças do esquema) sobre essa dificuldade de pagamentos, o que eles justificaram é que estavam com dificuldade não por falta de capital, mas sim por problemas de estrutura que tinham junto aos bancos, bancos digitais e plataformas de pagamento que operavam. Acreditei. E eu não trabalhava no Sul. Eu ia para lá só a cada três meses, então não tinha muitas informações sobre a veracidade das afirmações.
Você se sentia confortável em trabalhar para uma empresa que não tinha autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para oferecer contratos de investimento coletivo?
Trabalhava com uma empresa que eu acreditava que não oferecia contratos de investimento coletivo. Minha visão como advogado era que empresa vendia os acessos a plataformas educacionais e fazia pagamentos dentro de um plano de marketing multinível sustentável. Tanto que a gente tinha com a CVM um processo administrativo e estávamos respondendo o que era pedido.
Nota: A reportagem perguntou para Lusvarghi como ele vê a Unick agora, depois de tudo o que foi revelado nos pela investigação, e se ele acha hoje em dia que o negócio não passava de uma pirâmide financeira. Ele disse que não poderia responder nada relacionado a essa questão, pois é um dos réus do…
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