A reviravolta que a Getninjas enfrentou nas últimas semanas teve como personagem relevante um investidor que tem se mantido discreto em meio à queda de braço entre o fundador da companhia, Eduardo L’Hotellier, e a Reag Investimentos, agora principal acionista.
A ARC Capital, gestora que acompanhou a Reag na ofensiva que derrubou a proposta de redução de capital feita pela empresa, tem como controlador Sergio Firmeza Machado, o ex-banker do Credit Suisse no Brasil que chegou a ter uma das maiores remunerações globais do banco suíço. Além da carreira bem-sucedida em banco de investimento, Machado ganhou publicidade por ser filho do ex-senador cearense Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro investigado na Lava Jato.
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Firmeza Machado comprou o controle da ARC em 2019, três anos depois de ter deixado o Credit Suisse. Quando saiu do banco, ele havia acabado de aderir a um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito das investigações que envolviam o pai e empreiteiras. Desde então, manteve-se fora do radar público.
A ARC tem hoje cerca de R$ 830 milhões sob gestão, segundo dados da Anbima referentes a setembro.
O primeiro avanço da ARC sobre a Getninjas se deu semanas depois de a empresa ter proposto a redução de capital e de a Reag ter se tornado acionista. No início de outubro, um dos fundos da gestora, o Master, comprou uma participação de 9,84%. Em paralelo, um dos cotistas do Master, o fundo Arctic, gerido pela WHG Capital, adquiriu outros 7,87%. Em comunicado assinado por Machado, a ARC indicou que os dois estavam alinhados e deveriam ser considerados um conjunto de 17,71%.
Enquanto isso, a Reag também estava avançando. A gestora de João Carlos Mansur, que havia comprado 5% da Getninjas uma semana antes da proposta de redução de capital, informou o aumento da fatia para 18% no mesmo dia do anúncio da empresa. Em seguida, posicionou-se contra a estratégia da diretoria. Na visão de Mansur, usar dinheiro do caixa para distribuir aos acionistas seria desperdiçar capital para um M&A que pode diversificar e impulsionar o negócio.
As gestoras continuaram avançando no capital da Getninjas e, na data de votação contra a distribuição de capital, Reag e ARC somavam 48% da companhia. L’Hotellier questionou ARC, WHG e Reag se havia uma movimentação conjunta, o que poderia ser uma forma de evitar a poison pill, que dispararia a oferta pública de aquisição a partir de 25% do capital. A Reag negou vínculo com a ARC e a WHG e informou que faria a OPA.
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Na Getninjas, ainda há quem argumente sobre uma articulação entre as casas. Mas a Reag, que agora já chegou sozinha ao patamar de 30%, chegou a se reclamar na CVM contra o que considera uma “ilação descabida” de L’Hotellier. A ARC também afirma não ter vínculo com a Reag e diz que comprou ações da Getninjas porque viu que a empresa estava valendo menos do que tem em caixa.
O edital da OPA terá de ser lançado 60 dias após o acionamento da poison pill, em dezembro, e a Reag já indicou que vai trabalhar com o preço de R$ 4,52, a média dos últimos 30 pregões anteriores à poison pill. Ao Pipeline, a ARC afirmou em nota que ainda não sabe se vai aderir à OPA da Reag ou seguirá como acionista relevante. A decisão será tomada quando a Reag apresentar um plano de negócios para a Getninjas.
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