A Casas Bahia quadruplicou o prejuízo em relação ao mesmo período do ano passado e registrou um resultado negativo de R$ 836 milhões no terceiro trimestre, impactado pelos custos do plano de reestruturação. É quase R$ 150 milhões a mais do que projetava a corretora Genial, por exemplo, numa estimativa que já era mais pessimista que a média do mercado, no relatório divulgado nesta semana.
Trata-se do segundo pior resultado trimestral da companhia, depois das perdas contábeis do quarto trimestre de 2019.
Ao mercado, a companhia tenta transmitir a mensagem de que o pior passou. A expectativa da varejista é que o plano de reestruturação seja concluído até o fim do ano, para virar 2024 com a casa arrumada, afirma o CEO do grupo, Renato Franklin, ao Pipeline.
Desde que assumiu como CEO, em maio, Franklin vem liderando uma série de ajustes na empresa, como redução das despesa com marketing, fechamento de seis mil vagas e de 38 lojas só no último trimestre, o que deve trazer uma economia de R$ 370 milhões por ano. “Esperamos ver a captura total dos benefícios dessas medidas do plano de transformação e um balanço limpo no segundo semestre de 2024, mas podemos até antecipar”, diz o CEO.
A companhia fez também uma redução de estoque de mercadorias de R$ 1,5 bilhão em relação ao mesmo período do ano passado e de R$ 780 milhões frente ao segundo trimestre. O grupo reduziu o estoque de produtos de baixo giro, como modelos de eletrodomésticos de linhas passadas, com saldões e migrou categorias com margens negativas e tíquetes médio baixos, como materiais de limpeza e bebidas, para venda exclusiva no marketplace (3P).
Apesar da mudança no estoque, Franklin diz que a empresa tem o volume adequado para a Black Friday, que espera que seja um evento com descontos mais “racionais”. “Antes havia um desconto muito grande porque tinha que aproveitar a Black Friday para a queima de estoques e hoje o varejo como um todo está mais racional”, disse.
A empresa continuou queimando caixa e as medidas de ajuste levaram a um Ebitda negativo de R$ 66 milhões no trimestre. Sem essas despesas do plano, o prejuízo líquido teria sido de R$ 376 milhões no terceiro trimestre e o Ebitda teria ficado positivo em R$ 354 milhões.
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Para melhorar a estrutura de capital, a varejista levantou R$ 622 milhões em uma oferta subsequente de ações em setembro, captou R$ 500 milhões com bancos já no quarto trimestre e realizou a monetização de R$ 663 milhões com ativos tributários. Agora, está estruturando um fundo de recebíveis (FIDC), inicialmente de R$ 600 milhões.
O fundo pode chegar a R$ 1,5 bilhão e a companhia aportará 20% em cotas subordinadas, que são as primeiras a absorver as perdas em caso de inadimplência. O FIDC será usado para financiar o crediário, substituindo o crédito bancário. O grupo espera liberar até R$ 1,5 bilhão em crédito comprometido com os bancos, referente a operações de Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência; com o crescimento do FIDC, essa liberação pode chegar a até R$ 5,4 bilhões, afirma Franklin.
A dívida bancária respondia por 84% da dívida financeira da empresa, que encerrou o terceiro trimestre em R$ 10,7 bilhões. Desse total, R$ 5,5 bilhões são de operação de crediário. Na dívida consolidada, R$ 1,9 bilhão é de curto prazo e a Casas Bahia tinha, ao fim do terceiro trimestre, caixa de R$ 2,8 bilhões.
A queda da taxa Selic, hoje em 12,25%, deve trazer uma redução da despesa financeira da companhia, além de incentivar o consumo. “A cada 1% de redução da taxa Selic, temos uma economia de R$ 160 milhões na despesa financeira”, diz Elcio Mitsuhiro Ito, CFO da Casa Bahia. Segundo Ito, a taxa de inadimplência na carteira do crediário do grupo tem se mostrado controlada, diferentemente de outros players de varejo.
Desde que fez IPO, em 2013, então como Viavarejo, o pior resultado da companhia havia sido no fim de 2019, com prejuízo contábil de R$ 854 milhões, conforme levantamento da L4 Capital. Naquele período, a companhia teve que ajustar o resultado conforme uma investigação feita a partir de denúncia anônima sobre irregularidades contábeis. Operacionalmente, no entanto, havia registrado lucro. O segundo pior, agora desbancado, era no terceiro trimestre de 2021, com prejuízo de R$ 638 milhões.
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