Estudo revela que iniciativas de jornalismo independente esbarram em repetição de temas da mídia tradicional e estão alheias às questões locais
Carlos Plácido Teixeira | Jornalista
Diretor do SJPMG
A mídia independente da região do Centro-Oeste de Minas não se configura como jornalismo alternativo à mídia hegemônica. Ao contrário, os sites, portais e blogs de notícias reforçam e legitimam a mídia hegemônica como fonte prioritária do jornalismo que produzem e das informações que colocam em circulação.
A conclusão, extraída do estudo “Arranjos independentes de jornalismo online em Minas Gerais”, contribui para uma visão ampliada sobre o panorama das iniciativas desenvolvidas por jornalistas na internet atualmente em todo o País e, até mesmo, no planeta. Os professores Janaina Visibeli, Gilson Raslan e Ana Laura Correa demonstram, no final das contas, que o jornalismo independente praticado no interior, em localidades carentes de cobertura local, não consegue ser inovador. Muito menos contestador, como muita gente, principalmente quem tem mais de 50 anos, pode imaginar quando se depara com o tema de imprensa independente ou alternativa.
Diferenças históricas
A dificuldade de sobrevivência é praticamente o único ponto em comum entre a imprensa alternativa dos tempos da ditadura militar com a desenvolvida atualmente. O estudo mostra a predominância da ‘repostagem’ de matérias da grande mídia, especialmente do Grupo Globo e seu portal G1. Também reforça a força da pauta nacional sobre os assuntos locais, de interesse direto dos moradores dos municípios e suas regiões.
Como consequência, a falta de transposição de temas de relevância e interesse nacional para a escala regional cria um duplo problema. Primeiro, não qualifica a opinião pública. Além disso, ao privilegiar os assuntos nacionais, apurados pela mídia hegemônica, os veículos independentes não justificam sua própria existência, uma vez que o leitor pode por si mesmo buscar a fonte geradora da informação, que também está disponível online.
Conclusões mostram mais do mesmo
A análise dos dados coletados evidencia, então, a falta de estratégias de diferenciação dos projetos em relação aos conteúdos editoriais disponíveis no mercado tradicional. Faltam inovações destinadas a atrair leitores, apoiadores ou assinantes. A mesma falta de inovação é evidente em relação às formas de sustentabilidade, pouco inovadoras em relação ao que é ofertado pelo negócio das empresas de notícia. Há, então, a repetição do cenário de crise do negócio do jornalismo.
“No que se refere às pautas locais, vimos que os conteúdos são prioritariamente gerados por releases de organizações públicas e que não há qualquer esforço dos produtores desses arranjos em apurar o material, produzir uma reportagem com fôlego sobre pautas sociais, econômicas, políticas e culturais da cidade onde o arranjo está ou mesmo da região”, relatam os pesquisadores. Como resultado prático, lamentam os pesquisadores, a população permanece dependente dos conglomerados midiáticos para acessar o conteúdo jornalístico, especialmente regional.
A ausência de cobertura prioritariamente local consolida o cenário de concentração dos meios como formadores de percepções e ideologias. Mesmo com as tecnologias de informação e comunicação contemporâneas, o direito à comunicação ainda não se faz cumprir, pois não há diversidade de fontes, conteúdos, perspectivas que qualifiquem, informem e formem as pessoas para que façam suas escolhas cotidianas.
“Ao observarmos que há cidades em que não há nenhum veículo de comunicação local no tempo presente, pode-se afirmar que essas cidades fazem parte do que tem sido denominado deserto de notícias, territórios nos quais não circulam notícias locais e nos
quais se sobrepõem o noticiário estadual, nacional, mundial produzido pelos grandes grupos de mídia”, reitera o estudo, assinalando as perdas para a perda de vitalidade do debate público, a pluralidade de vozes.
A pesquisa
O estudo sobre…
Read More: Jornalismo independente: estudo define panorama das iniciativas na internet