O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, é conhecido por sua proposta de dolarizar a economia e extinguir o BCRA, como é conhecido o Banco Central do país. O que nem todo mundo sabe é que, dentro de seu ultraliberalismo, Milei também é um defensor do bitcoin (BTC).
Mais precisamente, Milei se declara anarcocapitalista, uma corrente de pensamento que cultua o individualismo por intermédio da propriedade privada, do livre mercado e da abolição do Estado.
Sem um país formado, não há moeda fiduciária — emitida por um banco central, como o real ou o dólar — e a unidade de troca utilizada, na visão dos defensores dessa linha ideológica, seria uma criptomoeda. A maior delas, o bitcoin, é a preferida dos “ancaps”.
Assim, a notícia da chegada de Milei à Casa Rosada se popularizou no universo cripto — e a procura por BTC e outras criptomoedas aumentou na Argentina, conforme levantamento da Ripio.
“As stablecoins têm sido cada vez mais usadas e as várias instâncias da eleição na Argentina consistentemente aumentaram o volume de busca por elas”, explica Sebástian Serrano, CEO e cofundador da Ripio, empresa de tecnologia blockchain multiprodutos com forte presença no país.
Em números: a procura por bitcoin na Argentina
A procura por BTC na corretora deu um salto de 20% na semana que confirmou a vitória de Milei.
Entre 20 e 26 de novembro — ou seja, na semana seguinte à eleição — houve um aumento de mais de 45% na compra de bitcoins em comparação com a semana anterior.
Mas as buscas por stablecoins (criptomoedas lastreadas em ativos estáveis, como o dólar) foram ainda mais surpreendentes, registrando um crescimento de mais de 600% em comparação com o domingo anterior ao pleito.
Na semana que antecedeu a eleição, mais de 1 milhão de unidades da stablecoin Criptodólar (UXD) foram negociados. O ticket médio de compra dessa criptomoeda também foi 50% maior do que na semana anterior.
Mas por que stablecoins e não o bitcoin?
Em primeiro lugar, os hermanos sempre tiveram preferência pelo dólar americano por questões históricas — a moeda destacou-se como uma reserva de valor capaz de proteger contra as sucessivas crises no país.
E a recente proposta de dolarização da economia de Milei também ajudou no crescimento dos números da corretora.
“Esse movimento ficou evidente principalmente com o UXD, que rapidamente se tornou a principal stablecoin negociada na Ripio Wallet, com um market share de cerca de 50%, superando outras moedas como o Dai (DAI), USDt (USDT) e USDC (USDC)”, diz Serrano.
Desde muito antes…
Esse aumento da procura por criptomoedas na Argentina na verdade é um movimento que passou a acontecer desde o começo do ano, segundo o CEO da Ripio.
Entre julho e agosto, por exemplo, a corretora registrou um aumento de 110% nas transações de ativos digitais, praticamente dobrando o volume negociado na plataforma.
Já no primeiro turno das eleições houve um aumento significativo. Entre setembro e outubro, a procura foi 68% maior, segundo dados da corretora. Cumulativamente, de julho até o final de outubro, foi possível observar um incremento de 30% no volume de stablecoins negociadas.
O mercado de criptomoedas da Argentina
Um estudo recente da Chainalysis, empresa especializada em levantamentos on-chain envolvendo ativos digitais, mostrou que Brasil e Argentina foram os países que mais receberam criptomoedas entre junho de 2022 e julho de 2023. Cada um recebeu cerca de US$ 85 bilhões, de acordo com a pesquisa.
Contudo, o cenário no país vizinho é bastante diferente. A Argentina lida com uma inflação de três dígitos, a faca do Fundo Monetário Internacional (FMI) no pescoço e uma profunda crise social, com a pobreza atingindo mais de 40% da população.
Com o peso argentino cada vez mais desvalorizado e uma imposição do governo, que limita o acesso ao dólar para criação de reservas de valor, a população se voltou para as stablecoins lastreadas na moeda norte-americana, identificou a Chainalysis.
“Criptomoedas são amplamente conhecidas na Argentina. Cerca de cinco milhões [de uma população de 45,8 milhões] usam criptomoedas, dois milhões delas na nossa plataforma”, diz o head de compliance da Lemon Cash, uma exchange que opera no país.
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