Reconhecido como um dos principais executivos no ramo de livrarias do mundo, o presidente-executivo da rede americana Barnes & Noble e da britânica Waterstones, James Daunt, acredita que o foco do mercado deva ser único: a venda de livros. Em entrevista a VEJA, ele critica a diversificação de sortimento promovida por algumas redes (casos, no Brasil, de Cultura e Saraiva, que hoje lutam contra a falência) e surpreende ao revelar que não vê a gigantesca Amazon e tampouco os novos formatos de livros como algo prejudicial para a existência das livrarias. “A Amazon é incrivelmente eficiente e mais barata para os consumidores. O lado positivo dela é ampliar o acesso aos livros. Com ela, mais pessoas compram livros. E isso é bom”, afirma Daunt. “Eu acredito que se uma livraria se concentra em fazer o que sabe de melhor, a Amazon não será um concorrente direto dela.”
Algumas redes de livrarias tradicionais do mercado brasileiro, como a Cultura e a Saraiva, expandiram muito na última década utilizando linhas de financiamento público e investindo em megalojas, com a venda de diversos produtos além dos livros. Hoje, esse modelo parece ter sucumbido. Como o senhor avalia o mercado atualmente? Eu acredito que contanto que não se perca de vista o negócio principal, pode-se vender outras coisas além dos livros. Mas se você perde os livros de vista para focar em outros segmentos, você deixará de ter uma boa livraria já que as outras vertentes não vão te transformar em uma boa loja. Para mim, é isso. O problema das grandes cadeias do varejo, nas quais eu encaixo a Barnes & Noble e a Waterstones, foi terem perdido, no passado, seus principais negócios de vista ao tentar fazer dinheiro com outras coisas. Quando elas ampliaram muito o leque de opção na livraria, tornaram-se piores em sua principal atividade, que é vender livros. Depois disso, tiveram que começar a cortar custos, o que as tornaram ainda piores como livrarias. Eu não faço ideia do que esteja acontecendo no Brasil. E isso não é uma crítica a essas empresas. É somente algo que aconteceu conosco.
O senhor é conhecido como “o homem que salvou a Waterstones” da falência. Como foi esse processo? Eu acho que o que nós fizemos no Reino Unido de forma bem-sucedida no começo – e, agora, também nos Estados Unidos – foi olhar para nossos princípios básicos como uma livraria, com maior cuidado em como classificamos e exibimos os livros, para que o consumidor se sinta mais à vontade para escolher. O problema, para uma grande rede, é trabalhar com isso de formas diferentes em lugares diferentes, capacitando os livreiros locais e descentralizando as decisões nas lojas. Para uma grande rede de varejo, isso é uma coisa difícil de se fazer. A livraria é um formato de negócio que agrada a todas as idades, de bebês e crianças a pessoas mais velhas. Todos gostam. Quando você sabe trabalhar isso bem, a loja se torna um grande atrativo. E essa base renovável de clientes mostra que esse não é um negócio do passado, como alguns fazem crer.
A Barnes & Noble tem sido elogiada pela guinada que tomou após a aquisição pelo fundo Elliott, em 2019. A empresa voltará a investir em aberturas de unidades? Sim. Eu penso que é preciso abrir novas lojas para atualizar o negócio, eventualmente fechando uma loja antiga para abrir outra. A Barnes & Noble é muito grande. Entre 2009 e 2019, a empresa não investiu praticamente nada. Eu até entendo parar de investir em novas lojas por um tempo, mas não para sempre. Se você faz isso, o negócio acaba morrendo eventualmente. No nosso último ano fiscal, nós investimos mais de 100 milhões de dólares na abertura de unidades. Estamos fazendo isso porque o negócio está funcionando.
Quais foram as mudanças no estilo de gestão após a sua chegada? Nós diminuímos consideravelmente a nossa sede para um tamanho menor possível, que esteja lá apenas para dar suporte às lojas. Esse é o meu trabalho e o das pessoas que trabalham aqui. Além disso, entendemos a necessidade de recompensar adequadamente o nosso time, sobretudo o gerente das lojas, porque a liderança é algo muito importante no negócio. Também é fundamental ter alguém que saiba trabalhar bem com eventos e redes sociais. Em suma, nós estruturamos mais as lojas e investimos em treinamento, desenvolvimento e na remuneração adequada para termos…
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