Nas redes sociais multiplicam-se as páginas que dão conselhos de poupança. Mas também de investimento, com “influencers” a acenar-lhe com um estilo de vida capaz de fazer cair o queixo até ao chão. Todo o cuidado é pouco, sobretudo em época de crise. “Se garantem algo é porque estão a enganar”. Fraudes e burlas há muitas. Mas há como se proteger. E também como denunciar
Bogdan Bob, 24 anos, apresenta-se como “analista técnico” e “trader” perante os mais de 28 mil seguidores do Instagram. É responsável pela página Forex Portugal. Há quatro anos, através da Internet, interessou-se por este mercado cambial. Durante dois anos, diz, ficou “fechado em casa” e estudou-o ao pormenor. E hoje tem uma dica-chave para todos os que querem investir através das redes sociais.
“Os pseudo-traders metem-te carrões e notas à frente. É tudo mentira. Nunca ninguém pode garantir nada. Nem 10 euros. Se garantem é porque estão a enganar. Neste mercado, 95% são fraudes, burlas. Nunca se pode confiar o dinheiro a outras pessoas. Porque esses burlões não colocam o dinheiro no mercado, mas no próprio bolso”.
Bob, como é conhecido, garante que investe apenas o seu próprio dinheiro e que não gere contas de terceiros. “Não tenho regulamento de CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o regulador dos mercados] e não posso fazer estas coisas”, justifica. Os dias são passados a analisar os mercados, os melhores padrões, o histórico de preços. E é essa experiência que procura transmitir aos seguidores. “Eu nunca dou conselhos, não digo para investir aqui ou ali, simplesmente partilho o que faço no meu dia a dia, as minhas análises”.
Sem ter formação certificada na área financeira, este influenciador digital insiste na importância de perder tempo a aprender como funciona o mundo dos investimentos. “Há muita gente à procura. Ouvem que se pode ganhar dinheiro, entram sem preparação, sem gestão do risco. Compram a ideia de que é fácil. Mas não. É preciso um plano. Se só querem fazer dinheiro, é para esquecer logo”. Bob confessa que se cansou de denunciar casos de fraude que usam o Forex como fachada.
“Vendem emoções. Fazem lavagens cerebrais. Muitas vezes são pessoas que nem têm dinheiro para investir, que recorrem a empréstimos. Se enganasse as pessoas, também podia ter um Ferrari ou Lamborghini”.
Na sua página, este “trader” tem disponível uma formação para descobrir as “oportunidades reais do mercado financeiro”. “Sem esquemas”, “sem promessas falsas”, assegura. E com um “método comprovado”. E que método é este? “Transmito as minhas habilidades, a minha experiência. Mas, como é óbvio, os alunos que fazem a formação não vão ganhar logo dinheiro”.
Em abril de 2021, a CMVM alertou que o “influencer” Cláudio André não estava autorizado nem habilitado e exercer intermediação financeira em Portugal, disponibilizando-se a receber o contacto de todos os que com ele tinham “estabelecido qualquer relação comercial”. Apresentando-se como “empreendedor”, o influenciador digital, com mais de 31 mil seguidores, destacou-se por prometer ajudar outros jovens a investir no mercado cambial.
“Até a CMVM lançar o comunicado, muito bem. A partir do momento em que lança o comunicado, muito mau: houve uma quebra de inscrições. Os seguidores deixaram de se associar a mim. Foi por água abaixo”, confessa.
Mais de um ano depois, Cláudio André diz que foi mal-entendido por parte do regulador dos mercados, após ter tentado explicar a sua situação várias vezes. “Não cometi nenhum crime. A CMVM pensava que eu estava a dar aconselhamento. Mas não, estava a fazer publicidade a uma plataforma [de ensino sobre o mercado cambial]. Eu só fazia publicidade. Não lhes dizia para comprar ou para fazer investimento”.
Apesar dos pedidos de ajuda que ainda recebe de seguidores que querem começar a investir, Cláudio André diz que não o faz. “Cortei com tudo”, resume – até com o plano para abrir uma empresa devidamente registada junto da CMVM.
Nas redes, apresentou-se com tendo uma vida luxuosa, com direito a carros de luxo – um argumento para que outros pudessem segui-lo nos investimentos. Mas, segundo o próprio, era tudo uma “estratégia de marketing”.
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