Com todos os olhares voltados para a guerra na Ucrânia, o próximo conflito do continente europeu pode estar mais ao norte. Após os esforços da Otan para ajudar Kiev a se defender da Rússia, a aliança militar pode entrar em uma rota de colisão direta com Moscou na região do Ártico. Em meio ao derretimento do gelo na região, diversos países definem o oceano inexplorado como peça-chave para os seus interesses comerciais e estratégicos. Após os trâmites para a entrada da Suécia na Otan, a Rússia será o único país do Círculo Polar Ártico a não estar na aliança militar.
Moscou já deixou claro que quer expandir a sua presença na região, assim como a China, interessada em aplicar uma “Rota da Seda Polar” no Ártico. Os países nórdicos, que acenderam o alerta em relação à Rússia após o início da guerra na Ucrânia e os constantes casos de espionagem e sabotagem, se preocupam com a segurança na região. Os Estados Unidos também mudaram a postura, reforçando os exercícios militares e abrindo um posto diplomático em Tromso, uma cidade costeira no Ártico norueguês, primeira representação diplomática na região desde os anos 90.
Com a aceleração das mudanças climáticas a área ficou mais acessível para novas rotas de transporte, bem como à extração de petróleo e gás, aumentando a visibilidade da região.
O Ártico é dividido entre oito países, que fazem parte do chamado Conselho Ártico, fórum intergovernamental criado para cooperação e coordenação em relação a assuntos que envolvem os países do Ártico, que são Estados Unidos, Canadá, Islândia, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega e Rússia. Depois do início da guerra na Ucrânia, as atividades do grupo ficaram congeladas, por conta da recusa dos países-membros de continuarem a cooperação com a Rússia.
“A Rússia já deixou muito claro que quer desenvolver a sua parte do Ártico, o que faz com que a Otan fique preocupada com a possibilidade de uma rivalidade entre o Ocidente e Moscou na região”, aponta Marc Lanteigne, professor associado de ciência política da Universidade de Tromso, na Noruega.
O Círculo Polar Ártico se tornou mais relevante por conta das mudanças climáticas, que permitiram que a região fosse vista com forte potencial de recursos, ampliando o interesse de países que possuem uma parcela do Ártico e também de outras nações que querem explorar o que o Ártico tem a oferecer, como a China.
Segundo um estudo publicado pelo grupo de especialistas em clima da ONU em agosto do ano passado, a região do Círculo Polar Ártico aqueceu a uma taxa quatro vezes mais rápida do que o resto do planeta nos últimos 40 anos. Outra pesquisa de novembro de 2022 que foi publicada pela ICCI (Iniciativa Climática Internacional da Criosfera) aponta que as emissões de gases estufas podem derreter todo o gelo do Ártico até 2050.
“Estamos vendo mudanças muito rápidas no ambiente, com mais possibilidade de navegação. Algumas décadas atrás seria completamente impossível cogitar a exploração de recursos do Ártico, mas agora os países estão mais interessados nestes recursos”, avalia Lanteigne.
Segundo dados do Instituto Americano de Geociências, a região do Ártico possui 90 bilhões de barris de petróleo (16% do total global) e 44 bilhões de gás natural líquido (38% do globo).
Para o professor de política externa finlandesa do Instituto Finlandês de Relações Exteriores, Harry Mikkola, as mudanças climáticas no Ártico podem trazer consequências severas globalmente, mas o derretimento do gelo pode encurtar as rotas marítimas entre Ásia e Europa.
De acordo com Paal Sigurd Hilde, professor de estudos de guerra do Instituto Norueguês para Estudos de Defesa, a atenção dada à região do Círculo Polar Ártico é exagerada. “É muito caro extrair petróleo e gás no Ártico, é obviamente mais fácil fazer isso de países como a Arábia Saudita, então muitas expectativas em torno de petróleo e gás no Ártico não vão acontecer”, analisa o especialista.
Hilde destacou também que o tráfego marítimo no Ártico…
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