- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
“Não vim guiar cordeiros, vim despertar leões.”
Foi com esta frase que o candidato à Presidência da Argentina Javier Milei, representante do partido La Libertad Avanza, definiu sua surpreendente vitória neste domingo (13/08), nas eleições primárias do país.
Com 30% dos votos, Milei, de 52 anos, tornou-se assim o favorito para vencer as eleições presidenciais, que ocorrerão em 22 de outubro.
O candidato, que se define como libertário, superou as duas forças que governaram o país nas últimas duas décadas: o macrismo (Juntos por El Cambio), que obteve 28% dos votos; e a coalizão peronista-kirchnerista, Unión por la Patria, que obteve 27%.
Mas, embora o resultado seja surpreendente — as pesquisas não davam a ele nem 20% de intenção de votos —, a verdade é que Milei já tinha se tornado um fenômeno político polêmico na Argentina nos anos recentes.
Parlamentar desde 2021, economista e amante de cachorros, Milei tem agitado os debates políticos com propostas como a dolarização da economia, a privatização de estatais e o fechamento (ou “dinamitar”, em suas palavras) do Banco Central.
Ele também já anunciou ideias como a permissão à venda de armas e órgãos humanos.
Soma-se a isso sua oposição à legalização do aborto e à educação sobre questões de gênero nas escolas públicas.
Milei é frequentemente comparado com outros políticos da direita radical, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o brasileiro Jair Bolsonaro.
“Conseguimos construir uma alternativa competitiva que não só vai acabar com o kirchnerismo, mas também com a ladra casta política e inútil que existe neste país”, disse o candidato, pouco depois do resultado das primárias ter sido divulgado.
Afinal, qual são as propostas de Milei — e as fortes críticas a elas? Confira.
‘Dinamitar o Banco Central’
A Argentina vive uma situação crítica devido à alta inflação que, no ano passado, chegou a 100% na inflação anual.
E foi na economia que a figura de Milei foi impulsionada: formado como economista da Universidade de Belgrano, ele participou várias vezes como analista de economia em programas de televisão.
Nessas participações, ele foi construindo o que é a base de sua proposta econômica: primeiro, a dolarização da economia, imitando o modelo de outros países da região como o Equador.
“Os equatorianos estão muito melhores que os argentinos. Os números do Equador impressionam. A renda multiplicou por dez e a inflação foi pulverizada”, disse Milei ao jornal espanhol El País.
Em segundo lugar nas propostas está o fechamento do Banco Central. Milei já defendeu em várias entrevistas que a criação da instituição, em 1935, foi o início de todos os problemas do país.
Terceiro: a redução nos gastos públicos. Nessa linha, Milei quer reduzir o número de ministérios para apenas oito (atualmente são 18 ministérios, sem contar outras agências estatais).
O candidato do La Libertad Avanza propõe a redução dos subsídios às empresas prestadoras de serviços e que o valor da tarifa real seja repassado aos usuários.
Outra proposta é abolir o limite da quantidade de dólares que um cidadão argentino pode adquirir por mês.
Essas propostas, principalmente a dolarização do país e o fechamento do Banco Central, receberam fortes críticas de outros analistas econômicos.
“A proposta de fechar o Banco Central significa voltar a uma discussão já travada há dois séculos”, disse o economista Guido Agostinelli ao jornal Página 12.
Agostinelli argumentou que o Estado precisa regular o mercado financeiro para proteger a poupança dos cidadãos e que não existe país desenvolvido sem banco central
“A experiência mais recente em que os depósitos dos poupadores não puderam ser garantidos foi com o corralito [medida de 2001 que determinou o congelamento dos depósitos bancários e limites semanais para saques] de Domingo Felipe Cavallo à frente do Ministério da Economia, o que é hoje justamente reivindicado por toda a ala libertária.”
Armas e venda de órgãos
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