Nesta quinta-feira, a conclusão do maior acordo de compra e venda de uma empresa de saúde animal da história completa exatos três anos. No dia 3 de agosto de 2020, a americana Elanco informou ter concluído a aquisição da unidade de saúde animal da Bayer após desembolsar US$ 5,17 bilhões em dinheiro, além de repassar uma parte de suas ações à multinacional alemã. Passados três anos, uma das protagonistas do negócio bilionário acredita que a consolidação do segmento deve prosseguir, mas com outras feições.
Em uma sala ampla na sede brasileira da Elanco, em São Paulo, Jeff Simmons, o principal executivo global da companhia, disse que, para ele, a tendência é que os acordos de fusões e aquisições envolvam empresas regionais, que atendem a alguns países ou mesmo a um só mercado. O que se desenha, avalia, é uma ação mais intensiva dos órgãos antitruste para barrar negócios que envolvam as gigantes que dominam o segmento.
“Há menos empresas para comprar, mas mais medicamentos para se fazer parcerias ou aquisições”, afirmou Simmons à Globo Rural. “Nunca vi tantas oportunidades para acionistas e clientes quanto hoje”, disse o executivo, que atua no segmento há mais de três décadas — e inclui nessa experiência uma temporada no Brasil, no início dos anos 2000.
Quarteto de líderes
A Elanco, que teve receita de US$ 4,7 bilhões no ano passado, é atualmente uma das quatro líderes globais na indústria de saúde animal. Também estão nessa lista a Zoetis, que fechou 2022 com receita de mais de US$ 8 bilhões, e as farmacêuticas Merck, que faturou quase US$ 60 bilhões no ano passado, sendo US$ 5,55 bilhões com a MSD, seu braço de atuação em saúde animal, e Boehringer Ingelheim, companhia alemã que encerrou 2022 com faturamento de 24,1 bilhões de euros, dos quais 4,6 bilhões de euros com seus negócios em saúde animal.
Quando uma empresa como a Elanco afirma que as “oportunidades para acionistas e clientes” são numerosas, há quem possa se perguntar se novas aquisições estão a caminho. “Provavelmente, não”, afirmou Simmons. “Temos um pouco de dívida ainda. Nosso foco é gerar caixa”, garantiu.
Parcerias regionais
Segundo o executivo, a Elanco já é parceira de grandes empresas que têm atuação regional, em mercados como China e América Latina, o que não necessariamente exige uma aquisição para a companhia ganhar espaço nesses mercados. Entre as de médio porte, outro nicho da segmentação, há, explica ele, as que fabriquem produtos genéricos ou aditivos nutricionais para animais de produção comercial. E, entre as possibilidades de parcerias, ele cita com mais ênfase o universos de startups e empresas inovadoras. “São pessoas que estão pegando uma droga voltada à saúde humana e trabalhando nela para desenvolver uma aplicação para animais. Podemos fazer parceria com essas empresas e levar a droga para todo o mundo”, afirma.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da classe média em diferentes países tem elevado a demanda global por proteínas animais. Esse quadro favorece grandes exportadores de carne, o que tende a reforçar as vendas da indústria de saúde animal, projeta o executivo.
No Brasil, onde a história da empresa começou com a pecuária, o setor produtivo continuará representando de 40% a 50% da receita da companhia no futuro próximo, diz Simmons. “Continuamos vendo grandes oportunidades na pecuária brasileira”, frisou.
Bichos de estimação mais “humanos”
Outro motor da expansão da indústria é o fenômeno da “humanização” dos animais de companhia. “Os bichos de estimação saíram do quintal para dentro da casa e, agora, estão subindo nas nossas camas”, brincou Simmons.
Para ele, a aproximação entre tutores e animais, que se acentuou durante a pandemia da covid-19, é uma tendência global. Segundo ele, cada nicho da indústria tem suas vantagens. O segmento de animais de companhia costuma ter margens mais altas que o de criações comerciais, mas exige mais representantes de venda e investimento em promoção. “No Brasil, temos como crescer em ambas as áreas, animais de fazenda e de estimação. Nem todo país oferece essa oportunidade”, disse ele.
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