5 de
setembro de
2023,
13h30
Com dezenas de milhões de visualizações, golpes de todo tipo se proliferam no Facebook, plataforma da Meta que não tem combatido o problema de forma eficaz e lucra com anúncios pagos para divulgar essas fraudes.
Da falsa promessa de valores a serem recebidos à promessa igualmente enganosa de dinheiro em troca de avaliação de posts, os golpes usam até mesmo a marca do Facebook — sem qualquer moderação por parte da empresa.
Mesmo golpes já noticiados seguem ativos e com o conteúdo enganoso impulsionado por meio de anúncios.
- Um levantamento feito pelo Aos Fatos contabilizou seis golpes que foram difundidos por ao menos 802 publicações e 3.458 anúncios pagos no Facebook em agosto de 2023;
- As publicações somadas resultaram em pelo menos 42,7 milhões de visualizações;
- Os golpes identificados são difundidos por meio de contas falsas no Facebook;
- As contas promovem publicações e inserem anúncios para difundir sites enganosos;
- Os golpistas usam, inclusive, o nome do próprio Facebook em golpes que circulam na plataforma;
- Os números são apenas estimados em virtude de limitações da biblioteca de anúncios e de inconsistências nos mecanismos de busca da plataforma, que não permitem aferir com precisão o volume e o alcance das publicações.
GOLPE DO ‘LIMPA NOME’
No início de agosto, o Aos Fatos identificou que o golpe mais visualizado no Facebook foi o do “Limpa Nome”, no qual perfis falsos conseguiram fazer com que 138 posts fossem visualizados mais de 30 milhões de vezes. Inicialmente, as contas enganosas difundiram um domínio, registrado no dia 2 de agosto, que imitava a identidade visual do site Serasa Limpa Nome para ludibriar usuários que buscavam quitar dívidas com bancos e lojas no varejo.
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Após a publicação da reportagem, os golpistas criaram novos perfis falsos, que foram responsáveis por ao menos 94 posts e que passaram a difundir outros três domínios — registrados entre os dias 12 e 19 de agosto — para aplicar o mesmo golpe, o que segue acontecendo.
Para obter sucesso, o golpe explora vulnerabilidades socioeconômicas das vítimas, que são expostas a trechos editados de reportagens de emissoras de TV sobre programas e serviços federais ou privados. Neste caso, os golpistas usaram o nome do Desenrola Brasil — um programa federal que visa a renegociação de dívidas lançado em julho, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Feirão Limpa Nome — mutirão anual de negociação de dívidas, que neste ano aconteceu em março.
A vulnerabilidade socioeconômica das vítimas pode ser associada a outros fatores para um golpe ser bem sucedido. Fábio Fekete de Noronha, especialista em segurança digital do Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) e coordenador da Comissão de Prevenção a Fraudes da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), listou alguns desses fatores no evento de lançamento da campanha “tem cara de golpe”, na sede do Banco Central, em São Paulo.
Entre eles, estão:
- A baixa consciência digital do cidadão brasileiro;
- A especialização técnica do golpista brasileira é acima da média global. Segundo o último levantamento feito pela Febraban, em 2020, cerca de 70% dos golpes aplicados no Brasil são vinculados a engenharia social, que consiste em uma manipulação psicológica feita pelo golpista para que a vítima ceda dados confidenciais;
- A alta sensação de impunidade para a criminalidade.
Os golpistas também fazem as vítimas terem a impressão de que estão sendo injustiçadas e as fazem acreditar que têm direito a um determinado valor retido indevidamente por bancos ou concessionária de serviços públicos.
Exemplo disso foi um golpe que prometia reaver valores de ICMS oriundos da conta de luz — impulsionado por ao menos quatro publicações e 128 anúncios em um período de 48 horas no Facebook —, além de outro que dizia restituir valores retidos pelos bancos, que poderiam ser pesquisados e devolvidos por meio de sites…
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