A primeira previsão de safra argentina de grãos 2023/2024 pela Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) aponta para 136,3 milhões de toneladas, um avanço de 70% em relação à safra anterior (80,32 milhões de toneladas), prejudicada pela “catastrófica seca” que atingiu o país vizinho.
Segundos os dados da BCR, a safra de 2023/2024 representa um retorno ao patamar que prevaleceu entre 2018/2019 e 2021/2022, período durante o qual a produção argentina oscilou entre 130 milhões e 140 milhões de toneladas de grãos.
De forma mais precisa, as projeções da BCR indicam uma colheita de 56 milhões de toneladas de trigo (avanço de 138,8% ante a safra 2022/2023), 47,8 milhões de toneladas de soja (+64,4%) e 15,6 milhões de toneladas de trigo (+35,7%).
Para Bráulio Borges, economista sênior da consultoria LCA e pesquisador associado do IBRE-FGV, essa recuperação projetada da safra argentina “tende a reforçar a perspectiva de queda dos preços das commodities agrícolas em 2024, dada a relevância sistêmica argentina para a oferta global desses produtos”.
Em recém-publicado artigo no Blog do Ibre, o pesquisador aponta que, se forem levadas em conta as projeções de consenso entre analistas internacionais para as commodities, deve haver deflação próxima de 3% no IPA-DI (índice de preços ao atacado) da FGV em 2024. Ele contrasta essa perspectiva com a inflação positiva de 4% que analistas brasileiros têm para o IPA-DI.
Na verdade, como explica Borges, a previsão de mercado é a variação implícita nas projeções de consenso para o IGP-M e para o IPCA, já que o sistema Focus do Banco Central deixou de coletar projeções para o IPA há alguns anos.
De qualquer forma, aponta o economista, “a desinflação varejista pode ser maior do que se projeta hoje”.
No seu artigo, o pesquisador lembra que, em abril do ano passado, também olhando para as previsões sobre preços de commodities de analistas internacionais, ele projetou deflação de 9% do IPA-DI em 2023. Naquele momento, a mediana do Focus apontava inflação de 4% do indicador este ano.
Borges nota que o IPA-DI teve variação de -11,5% nos 12 meses até julho de 2023, e de -8,3% de janeiro a julho. O indicador, segundo o Focus (variação implícita no IGP-M e IPCA), deve fechar este ano em -8,5%, valor próximo dos -9% que o economista da LCA projetava em abril de 2022.
“Portanto, parece que meu exercício errou bem menos do que as projeções de consenso para o IPA formuladas em abril do ano passado”, escreveu Borges.
O economista argumenta que os analistas internacionais no primeiro semestre do ano passado viam forte queda do preço das commodities até o final de 2023 a partir do patamar pressionado naquele momento pelo início então recente da guerra na Ucrânia. Já os analistas brasileiros “basicamente extrapolavam, para o futuro, a alta média observada nesse mesmo indicador nos 10 anos anteriores (até antes da pandemia)”.
Agora, de acordo com o analista, há expectativa internacional de queda do preço de boa parte das commodities até o final de 2024, com destaque para as agrícolas, mesmo com a expectativa à frente do fenômeno El Niño. Ele ressalva que, em algumas commodities não agrícolas, como cobalto, paládio e gás natural, há expectativa de altas significativas.
Fazendo um exercício em que entram também premissas sobre câmbio, combustíveis no Brasil e preços de algumas commodities mais nontradables, como arroz, feijão e boi gordo, Borges projeta agora IPA-DI de -7,6% em 2023 e -2,7% em 2024. No caso deste ano, está relativamente próximo da projeção implícita no Focus (-8,5%) mas, para 2024, novamente há divergência, pois a projeção implícita no Focus é de aproximadamente +4%.
Em um segundo passo do exercício, o pesquisador estima o impacto dessas diferentes trajetórias do IPA-DI (a implícita no Focus e a do seu exercício levando em conta as projeções internacionais para as commodities) no IPCA. Para 2024, isso significaria um IPCA 1,3 ponto porcentual (pp) inferior ao consenso de mercado (de 3,9% quando ele publicou o artigo, em 31/8).
No caso de 2023, o IPCA até ficaria ligeiramente mais alto (+0,2pp) com a projeção do exercício de Bráulio, que vê deflação do IPA-DI um pouco menor que a projetada implicitamente no Focus agora.
Em outras palavras, a análise…
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