Economistas ouvidos pelo g1 avaliam que a equipe econômica do governo falhou, nos primeiros oito meses, ao não dar ao corte de gastos o mesmo peso que tem dado à elaboração de medidas de aumento de arrecadação.
Em entrevistas, os especialistas também apontaram possíveis reduções de despesas que podem ser implementadas pelo Executivo (veja as sugestões aqui).
Tebet diz acreditar em meta de déficit zero
O que dizem analistas e o governo
Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, disse que a agenda de correção de distorções do sistema tributário do Ministério da Fazenda, com medidas para elevar a arrecadação, parece correta.
E acrescentou: “eventual incorporação de medidas pelo lado do gasto reduziria esse desequilíbrio”.
Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena, avaliou que o início do ajuste pelo aumento da arrecadação é correto, pois em sua visão “não dá para atacar tantas frentes de uma vez só, sob pena de perder em todas”, mas acrescentou que é preciso avançar em medidas pelo lado do gasto em um segundo momento.
Bráulio Borges, pesquisador associado do FGV Ibre, elogiou as medidas de aumento de arrecadação do governo, mas acrescentou que elas podem não ser aprovadas, podem sofrer questionamento jurídico ou serem “desidratadas” pelo Legislativo. Por isso, para atingir as metas fiscais, avaliou que é importante que o governo também faça ajustes nas despesas.
“Se o governo quiser viabilizar o reajuste real do salário mínimo sem comprometer outras despesas, e se quiser executar aquele mínimo de investimentos públicos, sem que haja risco de contingenciamento [bloqueio de recursos], para cumprir as metas de resultado primário, é importante olhar para medidas de contenção de despesas”, disse Borges.
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, afirmou nesta semana, no Congresso, que falta um pouco de atenção, por parte do governo federal, ao gasto público.
“Falta mais ênfase no [corte de] gasto, estamos fazendo um ajuste muito voltado para a arrecadação, e esse desequilíbrio precisa ser corrigido”, declarou.
Segundo ele, as contas públicas arrumadas são uma condição fundamental para redução da taxa de juros — que não pode ser feita de maneira voluntarista.
Pelo governo federal, o secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, Sergio Firpo, disse que a preocupação dos analistas do mercado financeiro é válida e que ela será endereçada com mais peso na medida em que tenha início o processo de revisão dos gastos públicos.
Segundo ele, a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025, a ser enviada em abril do próximo ano, trará as primeiras análises de políticas públicas feitas pelo governo federal.
Procurado pelo g1, o Tesouro Nacional não respondeu, até a última atualização dessa reportagem, por que o governo se movimenta rapidamente para elevar receitas e quase não corta gastos. Também não informou se vai enviar novas propostas de mudanças legais para reduzir despesas obrigatórias.
Quais gastos podem ser revisados
1) Gastos com servidores, por meio de uma reforma administrativa
Os gastos com servidores do governo federal estão estimados em R$ 380 bilhões em 2024, ou 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
É a segunda maior despesa primária do governo, perdendo apenas para a Previdência Social (R$ 913 bilhões, ou 8% do PIB).
“O caminho para o ajuste pelo lado dos gastos passa pela adoção de processos de avaliação e revisão de gastos. Além disso, revisão de políticas de indexação e correção automática de salários e remunerações. Nisso, a reforma administrativa poderia ajudar, eventualmente”, disse o economista Felipe Salto, da Warren Rena.
2) Gastos previdenciários, por meio de uma nova reforma da Previdência
A lógica é que, com o aumento da proporção de idosos no país no futuro, também cresçam as despesas com o pagamento de benefícios previdenciários — que não podem ser menores do que um salário mínimo.
Segundo o economista Paulo Tafner, as projeções…
Read More: Economistas pedem ao governo maior ênfase na redução de gastos e indicam