Brasil merece líderes que enfrentem os desafios com transparência e que reconheçam seus erros, escreve Rosangela Moro
A economia de uma nação é frequentemente comparada a uma grande máquina, com engrenagens complexas, peças móveis e componentes intrincados que devem funcionar em harmonia para manter o todo em movimento. Em muitos aspectos, a analogia pode ser apropriada.
Uma economia saudável depende de uma infinidade de fatores, de políticas monetárias e fiscais até o comportamento de consumidores e empresas. Mas quando uma engrenagem dessa máquina começa a falhar, o mecanismo inteiro pode desmoronar.
No Brasil atual, com o envio do Ploa (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2024 pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, testemunhamos o desgaste de várias dessas engrenagens. Esse é o panorama desafiador que enfrentamos. Entender como chegamos aqui e para onde podemos ir exige uma avaliação mais profunda.
A promessa de qualquer governo, em essência, é de prosperidade, segurança e um futuro melhor. Ao longo dos anos, o PT (Partido dos Trabalhadores) não foi diferente em suas promessas. O partido, ao longo de seus anos de gestão, sempre trouxe uma certa ilusão de prosperidade. A promessa de um Brasil mais justo, de uma economia fortalecida e de uma população beneficiada. No entanto, o que vemos hoje é uma sucessão de equívocos, avanços pontuais e retrocessos gigantescos que prometem afetar futuras gerações –mas a retórica política nunca se altera.
Vamos entender isso voltando aos anos 2000. Os ventos econômicos sopravam a favor do Brasil, e um operário recém-eleito prometia mudanças. Seu 1º governo, apesar de toda a retórica, manteve uma essência econômica bastante semelhante à de FHC. Afinal, as estatísticas não mentem: durante esse período, o Brasil registrou crescimento do PIB de cerca de 4% ao ano, beneficiado por um cenário global favorável, com a China e outras economias emergentes em pleno vapor. As exportações brasileiras cresceram em média 20% ao ano, e os preços das commodities, como soja e minério de ferro, dispararam.
Porém, como toda boa trama envolvendo o PT, houve reviravoltas. Antes mesmo de 2006, o país sentiu o baque das notícias do escândalo do Mensalão. Os números mostraram o tamanho do impacto: em 2005, a confiança do consumidor caiu 15% e o investimento estrangeiro direto no Brasil encolheu 5%. Contudo, foi a confusão fiscal que realmente fez soar os alarmes.
Misturar as contas do Tesouro Nacional com as de empresas estatais como BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobras não é só um deslize ético, mas um erro contábil monumental. Dados do próprio governo mostram que, em 2009, cerca de R$ 40 bilhões foram “emprestados” pelo Tesouro Nacional ao BNDES, um número que não apareceu nos balanços oficiais daquela época. A gastança reinou em um nível nunca visto e, com isso, a insegurança também fez a festa. O Brasil foi cada vez mais se endividando e tendo um crescimento falseado.
Tivemos então o governo Dilma, e aqui tudo passou a piorar ainda mais. Uma década já se passou se tentando colocar o Brasil nos eixos. Agora, Lula ressurge em um 3º mandato e o fantasma de seus antigos equívocos ainda rondam o Planalto quando o presidente parece querer repetir o passado prometendo um Brasil próspero. No entanto, a distância entre promessas e realidades se tornou cada vez mais evidente.
No Brasil de 2023, o velho parece novo de novo e os erros de outrora parecem condenados a virar rotina. O partido, em uma dança de amnésia coletiva, prefere seguir cegamente a aprender com suas falhas. Como dizem, ao ignorar a história, estamos fadados a repeti-la. Pelo visto, é o que está ocorrendo agora.
Arremato com a indagação: Quanto mais isso custará ao Brasil? A proposta orçamentária apresentada por Haddad trouxe à luz as consequências dessas promessas não cumpridas. Seja por mera incompetência ou por uma visão equivocada da economia. Os erros do passado agora se manifestam como um pesadelo para o presente e, potencialmente, para o futuro.
A tentativa de Haddad de elevar a arrecadação sem, paralelamente, propor uma redução significativa das despesas é uma verdadeira equação impossível. Em qualquer economia, a ideia de que só aumentar a receita sem controlar os gastos pode levar a um equilíbrio é falaciosa. No Brasil, essa ilusão se torna ainda mais perigosa dada a…
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