De outubro a dezembro, a previsão de chuvas pode ser o ‘ponto de virada’ para um bom desenvolvimento da próxima safra de café (2024/25), que, se correr bem, deve suportar a oferta do grão no mercado global. Tudo vai depender da transição entre inverno e primavera.
As altas temperaturas e o tempo seco dos últimos alertas assustam os produtores de café no país, porque o próximo mês será crucial para o início do desenvolvimento da nova safra brasileira. E é dela que o mercado internacional do grão depende, como projeta o analista da Safras & Mercado, Gil Barabach.
Com a taxa de juros mais alta nos Estados Unidos e o recuo da economia na Europa, ambos principais compradores do café do Brasil, o continente asiático passa a ser forte alternativa de mercado comprador, abrindo uma oportunidade para a cafeicultura brasileira.
Para as perspectivas futuras do café, o clima é um fator central, ressaltou Barabah. Se permanecerem altas temperaturas e estiagem, as consequências serão estresse hídrico e de temperatura, além de perda de potencial produtivo em 2024/25, afetando as estimativas de oferta do grão, o que leva o mercado a se proteger diante de riscos climáticos.
As altas nos preços do grão nas bolsas internacionais, notadas em alguns dias do último mês, foram reações do mercado à imprevisibilidade do clima. Em Nova York, o preço do café arábica caiu 4% e o robusta, em Londres, subiu 48% desde o início de 2023. A arbitragem entre os dois é de 45,02 cents com o arábica voltando a ganhar valor em relação ao robusta, destacou o analista.
Barabach alertou, ainda, que essa projeção pluviométrica no Brasil pode sustentar a percepção do mercado de que o país “vai emendar 2023/24 e 2024/25, com uma nova safra cheia, reforçando o cenário de abastecimento de café no mundo”.
“Estamos no olho de furacão no mercado de clima, cuja principal característica é a volatilidade, o que mexe um pouco com os preços, ainda que não tanto como o produtor queria”, afirmou durante o evento online da consultoria, o 6º Agri Week de tendências agropecuárias.
Abre alas ao café do Brasil
A atividade econômica mundial, de acordo com as previsões de julho do Fundo Monetário Internacional (FMI), demonstra uma acomodação, embora tenha pedido a “tração de alta” e isso abre oportunidades para o Brasil surfar a onda da demanda, mirando outros mercados, como a Ásia.
“A dinâmica da economia mundial já se deslocou para a Ásia e é importante que o consumo de café brasileiro também se direcione para este continente, trabalhando de forma mais intensa com essa prospecção de consumo”, explicou Barabach.
A partir dos próximos meses, a cena deve se alterar com uma perspectiva de salto na produção, principalmente da brasileira, e também atribuída a uma folga sustentada pelo crescimento das exportações e recomposição de estoques apoiados no grão brasileiro.
“Vai ter mais café brasileiro no mercado internacional, vai ter mais exportações brasileiras e vai ter um pouco mais de folga no abastecimento do arábica, o que começa a ser sinalizado nos preços. Uma mudança fundamental do mercado”, disse.
E o câmbio?
As variações no valor do dólar influenciam as expectativas dos cafeicultores, porque, de um lado, podem oferecer pagamentos melhores aos grãos e, de outro, também podem elevar os custos de produção.
Algumas mudanças, como a aprovação do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) da taxa de juros norte-americana, cuja estimativa de corte só deve se desenhar em meados de 2024, provoca um cerrado mais “carrancudo” externamente, perdendo para o euro, como relacionou Barabach.
Para o Brasil, a realidade é distinta, porque está havendo uma apreciação do real, ligada basicamente ao corte de juros do Conselho de Política Monetária (Copom) de 0,50%, divulgado ontem, após reunião do grupo.
“Essa aceleração [de cortes de juros] diferencia o cenário externo junto com a melhora do quadro macroeconômico, apoiado em correções positivas no PIB e correções negativas na curva de inflação, o que se reflete no dólar”, explicou o especialista.
De acordo com ele, o dólar está buscando patamar mais baixo e, se manter a volatilidade, com quedas acentuadas na média das últimas semanas, pode favorecer os custos de produção que já se iniciaram e continuam no início de ciclo do café a partir de outubro.
Read More: Se chover, vai ter mais café brasileiro no mercado global | Café