A Getninjas está disposta a seguir com o plano de distribuição de caixa mesmo que o seu principal investidor, a Reag Investimentos, seja contrário à proposta. A Reag tem pouco mais de 24% do capital. Até agora, a nova acionista e o fundador da companhia, Eduardo L’Hotellier, não concordaram em ponto algum: estratégia, caixa e até na interpretação do artigo da Lei das S/A que trata do direito de recesso de minoritários.
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L’Hotellier, que é também CEO da empresa, diz que a proposta da Reag para usar o caixa em aquisições ignora o fato que os acionistas podem pedir o reembolso do investimento nas ações. Se o valor patrimonial da empresa for superior ao preço em bolsa — que é o caso da Getninjas —, o acionista receberá o equivalente ao valor patrimonial.
A depender do número de acionistas dissidentes e do valor a ser reembolsado, a empresa pode acabar ficando sem caixa, o que inviabilizaria a aquisição e o próprio negócio. É isso o que a Getninjas quer evitar. A solução encontrada pela companhia foi propor a distribuição de parte do caixa, para poder diminuir o seu valor patrimonial, e assim sair dessa sinuca de bico.
“Não conseguiremos fazer o que a Reag quer se não fizermos a distribuição de caixa. Estou há quase dois anos tentando fazer aquisições e não consigo”, disse o fundador ao Pipeline. “Um gestor experiente como o da Reag deveria saber disso. Talvez eles não tenham prestado muita atenção.”
Para o executivo, o timing é positivo para realizar uma redução de capital porque a empresa está próxima de um breakeven, o que significa que a companhia já está operando de forma eficiente e teria potencial para crescer. No segundo trimestre, a Getninjas teve lucro líquido de R$ 1,5 milhão, o primeiro resultado positivo em um trimestre desde um IPO.
Já o CEO da Reag tem uma visão diferente. Para João Carlos Mansur, a Getninjas está dando uma “desculpa” ao levantar a questão do direito de recesso. “O direito de recesso só é aplicável quando há mudança no estatuto social, ou então quando há fusão”, ele afirmou.
Mansur disse que a Reag vai propor o seu plano para a empresa na assembleia de acionistas e espera que a redução de capital não seja reprovada. “Mas se for aprovada, a empresa deixa de existir, e a gente vai embora”, disse.
O gestor, aliás, explicou ao Pipeline o motivo das diferentes comunicações que a Reag fez para determinar quem de fato estava comprando a participação. Na semana passada, quando anunciou uma posição de 18%, a Reag disse que as negociações haviam sido realizadas por meio de fundos de clientes. Depois, disse à imprensa que era um investimento com capital dos sócios da gestora.
Segundo ele, como o dinheiro aplicado no investimento era dos sócios e não da própria gestora, a Reag entendeu que deveria classificá-lo como de terceiros, como se os próprios sócios fossem clientes. “Mas depois conversamos com o regulador e eles nos disseram que, se o beneficiário final é o mesmo, poderíamos dizer que era capital proprietário”, disse.
A assembleia de acionistas está prevista para o dia 23 de outubro. Se a redução for aprovada, a Reag vai receber montante semelhante ao que investiu, e vende a posição que sobrar.
A Getninjas tem cerca de R$ 270 milhões em caixa e está propondo uma distribuição de R$ 223,5 milhões, ou R$ 4,40 por ação. O valor representa 70% do que a empresa captou no IPO. Se a redução de capital se confirmar, a empresa seguirá com cerca de R$ 60 milhões em caixa, ainda superior ao que já chegou a ter no pré-IPO.
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