Uma investigação do jornal britânico The Guardian revelou que alguns dos principais bancos europeus ajudaram as empresas de combustíveis fósseis a angariar mais de 1 trilhão de euros (R$ 5,26 trilhões) com a venda de títulos corporativos desde o acordo climático de Paris. Entre as empresas que receberam recursos, está a brasileira Petrobras.
O Guardian trabalhou em conjunto com outros jornais europeus e com as plataformas holandesas Investico e Follow the Money para analisar detalhadamente 1,7 mil emissões de títulos (bonds) registradas na Bloomberg. Foram analisadas apenas transações ocorridas desde o Acordo de Paris, em 2016, quando mais de 190 países concordaram em limitar o aquecimento global através da redução da emissão de gases de efeito estufa.
Assim, o estudo apontou que, a despeito da emergência climática e de muitas dessas instituições financeiras terem anunciado reduções em suas emissões diretas e indiretas, elas continuam a lucrar com a expansão do petróleo, gás e carvão, apoiando a venda de títulos de combustíveis fósseis.
A pesquisa revelou 1 trilhão de euros em tais títulos, emitidos globalmente desde o início de 2016. Os bancos envolvidos seriam o Deutsche Bank da Alemanha, HSBC e o Barclays da Grã-Bretanha, e os bancos franceses Crédit Agricole e BNP Paribas.
O Deutsche Bank foi o principal facilitador, atuando na emissão de títulos com valor total de 432 bilhões de euros desde o acordo de Paris. Ao mesmo tempo, o banco prometeu reduzir as suas “emissões financiadas” para o setor do petróleo e do gás em 23% até 2030 e 90% até 2050.
Já entre as empresas que emitiram os títulos e receberam os recursos, a petrolífera estatal do México, Petróleos Mexicanos, emergiu como a maior beneficiária, arrecadando 115 bilhões de euros desde 2016. A Petrobras arrecadou 38 bilhões de euros no mesmo período, enquanto a russa Roseneft levantou 34 bilhões de euros. Shell e a BP captaram 31 e 29 bilhões de euros de títulos, respectivamente.
Títulos corporativos como fonte alternativa de financiamento
Os títulos corporativos são emitidos por empresas no mercado financeiro para arrecadar fundos para projetos específicos, ou para suas operações gerais. São como uma nota promissória entre a empresa e os investidores que compram o título – estes recebem os rendimentos posteriormente. Os bancos ganham comissões subscrevendo e comercializando os títulos aos seus clientes e outros investidores, e prestando serviços de consultoria ou administrativos.
No esforço para alcançar emissão zero de carbono, os maiores bancos da Europa enfrentam uma pressão crescente para limitar o seu apoio financeiro às empresas de combustíveis fósseis através de empréstimos diretos. Diante do estudo recém-revelado, defensores do investimento sustentável apontam que os bancos estão usando a emissão de títulos como forma de apoio financeiro “oculto” às empresas poluidoras. Enquanto isso, fazem propaganda sustentável por reduzir os empréstimos diretos às companhias.
Segundo o The Guardian, a maioria dos bancos opta por não contabilizar as vendas de títulos quando medem o seu desempenho em matéria de alterações climáticas, ainda que os valores injetados na empresas acabem resultando em novos projetos poluidores.
Andreas Rasche, professor de negócios na sociedade no Centro para a Sustentabilidade da Copenhagen Business School, criticou os bancos por não assumirem a responsabilidade pelo seu papel de intermediário nessa forma de financiar recursos.
“A participação em atividades de subscrição [dos títulos] torna os bancos cúmplices nas emissões decorrentes de títulos emitidos por empresas de petróleo e gás. Você as ajuda a arrecadar dinheiro e sabe para que esse dinheiro será usado – portanto, você está envolvido na atividade”, diz ao The Guardian.
Comentário dos bancos envolvidos
Mencionado como o principal banco facilitador na emissão desses títulos o Deutsche Bank afirmou num comunicado que “reduziu significativamente o seu envolvimento com o setor do petróleo e gás desde 2016 e, em particular, no ano passado”. Acrescentou que o “não tem qualquer intenção de mudar o âmbito dos negócios de…
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