Reprecificação dos ativos de risco em escala global traz dúvidas sobre a possibilidade da Selic alcançar níveis inferiores a 10%
Marcada por uma reprecificação dos ativos de risco em escala global, a segunda metade de setembro trouxe dúvidas para uma parcela do mercado e dos analistas locais, sobre a possibilidade da taxa básica de juros, a Selic, alcançar níveis inferiores a 10%.
Pouco antes, em meados de agosto, o mercado futuro de taxas de juros chegou a precificar uma Selic de 8,75% ao final do ano que vem.
Segundo Relatório Econômico Mensal Outubro/2023 realizado pela Porto Asset Management, um fator que pode explicar mudanças tão expressivas nas expectativas sobre a taxa básica de juros é o chamado hiato do produto e onde os Bancos Centrais estimam que ele se encontre.
Os analistas responsáveis pelo levantamento explicam que, teoricamente, a elevação da taxa de juros aumenta a ociosidade, tornando o hiato do produto mais negativo e, consequentemente, gerando menor pressão inflacionária.
Uma vez materializada esta dinâmica, altas menos intensas e frequentes dos preços levam à expectativa de juros mais baixos, evidenciando a conexão entre os ciclos dos juros e da atividade.
A recente revisão do hiato para cima, tanto pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte americano, como pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, sugere uma política monetária mais restritiva nos dois casos.
Nos Estados Unidos, juros altos por mais tempo. Já no Brasil, é observada uma redução da Selic mais cautelosa. As duas circunstâncias combinadas, de acordo com a análise divulgada, levaram à reprecificação dos ativos observada em setembro.
Cenário externo e juro doméstico
Para fundamentar o cenário de juro doméstico, os especialistas da Porto Asset Management retomam os dados de agosto deste ano.
O argumento fundamental era que tanto o cenário de juros externos como a evolução do prêmio de risco doméstico (função principalmente do quadro fiscal) determinariam o espaço para apreciação do Real e, consequentemente, a intensidade e profundidade do ciclo de corte da Selic.
A elevação na estrutura nos EUA impacta diretamente o nosso juro neutro e provoca desvalorização do Real, o que por sua vez pressiona a inflação.
Por outro lado, os analistas ressaltam que o maior preço do petróleo pode auxiliar a dinâmica fiscal doméstica, ainda que também contribua para uma inflação persistentemente mais alta.
A perspectiva da Porto Asset Management sobre a questão fiscal é de que a meta de déficit zero para 2024 dificilmente será atingida.
Segundo a análise, a proposta do governo está concentrada na elevação da arrecadação e coloca números ambiciosos em cima das diversas medidas até agora apresentadas.
No entanto, aquelas já implementadas ainda não refletiram o potencial arrecadatório esperado. Como não há disposição em reduzir gastos, a conclusão natural é que 2024 será novamente um ano de déficit primário.
Em contrapartida, de acordo com o relatório, a dinâmica econômica doméstica permanece mais resiliente que o esperado. Nesse sentindo, o Banco Central brasileiro reviu a estimativa de hiato do produto no Relatório Trimestral de Inflação divulgado ao final de setembro.
Neste documento, o Copom reforça que o hiato está menos negativo do que o estimado no trimestre anterior, e que não deve haver mudanças relevantes nesse quadro nos próximos vários trimestres.
Tanto o comunicado como a ata da reunião de setembro do Copom reforçaram que, na ausência de uma revisão relevante do hiato, das expectativas de inflação ou da inflação realizada, não há motivos para rever o ritmo do ciclo de cortes neste momento.
Portanto, a evolução do ambiente doméstico confirma a análise dos especialistas da Porto Asset Management de que a taxa de juros encontra-se em patamar restritivo e deve seguir em queda lentamente.
O relatório para outubro de 2023, aponta ainda uma característica pendular da expectativa do mercado. Se há dois meses a precificação de juro terminal abaixo de 9% era considerada exagerada,…
Read More: Cenário externo influencia expectativas da taxa básica de juros