A vida de quem investe em renda variável continua desafiadora. Em setembro, o Ibovespa até fechou no azul, com alta de 0,6%, mas bem distante de recuperar o tombo de 5% de agosto. Isso sem falar que o índice conseguiu o ‘chorinho’ de recuperação no último dia do mês.
Até o momento, a máxima ‘juros para baixo, bolsa para cima’ não se concretizou como investidores imaginavam. Em 20 de outubro, o Banco Central promoveu mais um corte das taxas de juros, a Selic, de 0,5 ponto percentual, para 12,75%. Porém, nada da bolsa deslanchar.
Na opinião de analistas, o cenário externo atuou como uma ‘âncora’, impedindo que o Ibovespa avançasse como os mais otimistas supunham. O Brasil não é uma ilha e depende dos investidores gringos para suportar seu mercado acionário.
De acordo com a Ágora Investimentos, as últimas sinalizações do Fed indicam que provavelmente há espaço para mais aumento de juros por lá e que, provavelmente, a política monetária permanecerá restritiva por um período mais longo. Esse mudança entornou o caldo para os investidores, que esperavam juros mais amenos.
Toda essa conjuntura fez com que os títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo, de 10 anos batessem o maior nível desde 2006, canalizando o dinheiro da bolsa para a renda fixa. Ao todo, o gringo bateu em retirada do Brasil com R$ 1,6 bi debaixo do braço em setembro.
“Em nossa visão, é difícil imaginar o cenário em que um Banco Central consiga trazer a inflação à meta sem causar algum tipo de desaceleração econômica e, portanto, devemos seguir atentos a leitura dos dados econômicos por lá”, coloca.
A corretora levanta ainda um ponto interessante para sustentar sua tese: nas últimas sete vezes em que o FED chegou ao seu “pico” de juros, em seis delas houve algum tipo de recessão nos Estados Unidos nos trimestres seguintes.
Na Europa, a economia também dá sinais de fraqueza e, possivelmente, alguns países da região passarão por algum tipo de recessão. Apesar disso, a Ágora diz que na China, em que pese a frustração com o baixo ímpeto de crescimento, não vê sinais de uma crise mais aguda, o que pode servir com algum alento aos preços das commodities.
O BTG Pactual recorda que nos últimos dois meses, o Ibovespa acumula uma queda de 9% em dólar. As taxas de juro mais elevadas nos EUA, a deterioração das perspectivas econômicas na China e as preocupações renovadas sobre a situação fiscal do Brasil são os culpados, diz.
Brasil, mostra a tua cara
Sim, apontar o dedo para o cenário externo pode parecer tanto quanto fácil. Porém, Jerome Powell e sua preocupação com a inflação americana não são os únicos responsáveis pela fraqueza da bolsa, segundo as casas de análise.
De acordo com os analistas do BTG, os investidores poderão ficar cada vez mais preocupados com a situação fiscal do Brasil. Segundo o novo arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso em 22 de agosto, para que o governo cumpra a meta declarada de déficit fiscal zero para 2024, será necessário aumentar significativamente as receitas fiscais no próximo ano (exigindo R$ 169 bilhões extras em receitas ou 1,5% do PIB).
Para atingir seu objetivo, o governo enviou ao Congresso um pacote de propostas (medidas provisórias e projetos de lei) que acredita que podem gerar as receitas necessárias para equilibrar o orçamento. Dessas medidas, apenas a que altera as regras de funcionamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) foi aprovada.
“A capacidade do governo para aprovar as suas propostas de aumento de receitas fiscais está intrinsecamente
correlacionada com a sua base de apoio no Congresso. A nossa impressão é que a base existente do governo pode não ser suficiente para obter a aprovação das medidas e a expansão da sua base de apoio pode exigir uma
remodelação ministerial mais profunda do que a que a administração tem feito”, explica.
Para Ágora, o cenário externo adverso, por si só, já justificaria o movimento de cautela por aqui, “mas também destacamos uma piora nas expectativas em relação ao cenário fiscal…
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