Nos últimos dois meses, o saldo de investimento estrangeiro na B3 ficou negativo em R$ 12 bilhões. Essa conta considera as compras e as vendas de ações feitas no mercado secundário (ações já listadas) e a participação deste investidor em novas ofertas de capital, sejam elas iniciais (IPO) ou subsequentes (follow on).
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Em agosto, o fluxo ficou negativo em R$ 10,4 bilhões, contra R$ 1,5 bilhão de setembro. Já no acumulado de 2023, a movimentação está positiva em R$ 20 bilhões – um montante ainda 77% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.
A situação fica mais delicada quando isolados os números referentes apenas ao mercado secundário, ou seja, de ações já listadas em Bolsa. Nesta seara, o fluxo está negativo em R$ 14,8 bilhões nos últimos dois meses e positivo em apenas R$ 9,2 bilhões no acumulado de 2023, volume 86,8% mais baixo do que no mesmo período de 2022.
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A fuga de capital externo preocupa, já que os estrangeiros representam cerca de 53% dos investidores da B3. “Eles têm uma grande participação no mercado local, são muito relevantes e as movimentações deles acabam fazendo preço (impactando o Ibovespa), tanto para o bem quanto para o mal”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.
Desde o início de agosto, quando o fluxo estrangeiro começou a inverter para o negativo, o Ibovespa vem devolvendo boa parte da valorização do ano. Entre janeiro e julho, o principal índice de ações subia 11%, aos 121,9 mil pontos.
Entretanto, no oitavo mês de 2023, o IBOV fechou em queda de 5,09%. Em setembro, o indicador ficou quase no zero a zero, com uma leve alta de 0,71%. E somente entre a última segunda-feira (2) e terça-feira (3), dois primeiros pregões de outubro, o Ibov acumula uma desvalorização de 2,7%, aos 113,4 mil pontos.
Agora, o salto no acumulado do ano foi reduzido para 3,36%.
Gringos na caça ao tesouro (americano)
A principal explicação para a saída dos gringos da Bolsa brasileira é a situação dos EUA, principal economia do mundo. Por lá, ainda há uma grande incerteza em relação aos rumos da política monetária. A inflação americana medida pelo Consumer Price Index (CPI), chegou a apresentar uma alta 9,1% em 12 meses no ano passado (junho de 2021 a junho de 2022), a maior em mais de 40 anos.
Para conter o avanço recorde dos preços, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) passou a subir os juros no país. Até março do ano passado, a taxa alvo era de 0,25%. Hoje, está no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano, maior nível em 22 anos, e pode não parar por aí.
Apesar de ter caído para uma alta de 3,7% nos últimos 12 meses (agosto de 2022 a agosto de 2023), a inflação não é considerada como um tema resolvido e ainda está fora da meta, de 2%. Na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, equivalente ao Comitê de Política Monetária brasileiro), realizada no dia 20 de setembro, a autoridade monetária norte-americana deixou clara a possibilidade de novas elevações nos juros.
Com a alta das taxas, os rendimentos dos títulos do tesouro dos EUA ficaram maiores. A “treasury” de 10 anos, por exemplo, está oferecendo a maior rentabilidade desde 2007. Historicamente, quando os títulos americanos estão mais atrativos, há uma saída de investidores de mercados emergentes, como o Brasil, para a renda fixa americana.
Esse fenômeno é conhecido como “fly to quality” ou “fuga para a qualidade”, em português. “Esse movimento de saída do estrangeiro de Bolsa não é uma particularidade só do Brasil. Temos vivido um movimento de ‘risk-off’ (grandes investidores saindo do risco) muito grande, em…
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