Em períodos de tempestade, quem investe em ações foge em massa para as colinas. Ou melhor: para a proteção dos grandes muros das hidrelétricas e das torres dos parques eólicos.
O setor elétrico tem engrenagens complexas, mas é fácil traçar as razões que colocam várias das companhias do setor entre as favoritas do mercado: previsibilidade e regulação. E isso se traduz em alta capacidade de pagar dividendos.
Os contratos firmados com o poder público podem chegar a 35 anos e têm receita previsível. Por se tratar de um setor com foco no longo prazo, boa parte das companhias já encerrou o seu ciclo mais crítico de investimentos – tendo uma fatia mais generosa do lucro para distribuir aos seus acionistas (não que isso seja verdade para todas, como veremos adiante).
São 34 elétricas listadas na B3. Dessas, 15 compõem o Índice de Energia Elétrica (IEE), o “Ibovespa” do setor. Só que melhor do que o índice-mãe. Desde 2018, o IEE vem dando um banho no Ibov: 120% x 61%.
Entre as atuais integrantes do IEE, nove tiveram ganhos na casa dos três dígitos nos últimos cinco anos, com Cemig e Copel na ponta.
O índice tinha uma alta concentração de estatais, mas a nova safra de privatizações, iniciada no governo Temer, em 2016, atraiu investidores. A saída da União do capital controlador da Eletrobras (ELET6) em 2022 acelerou o processo. Em 2023 foi a vez da Copel, e o governo de Minas Gerais já deu os primeiros passos para que a Cemig siga o mesmo caminho.
Antes disso, outra mudança nas estatais modificou a fotografia do setor elétrico: a venda de subsidiárias deficitárias que sofreram com a crise hídrica de 2012 e a pressão governamental por tarifas mais baixas. Com esses ativos fora do balanço, as estatais ganharam eficiência e as privadas, como a Equatorial (EQTL3), a Neoenergia (NEOE3) e a Energisa (ENGI11), se consolidaram no mercado e ganharam espaço nas carteiras de dividendos dos investidores.
Para medir quão boa pagadora uma empresa é, utiliza-se o dividend yield – uma métrica que calcula a relação entre o preço das ações e a fatia distribuída na forma de remuneração aos acionistas.
Em 2022, das 25 empresas da bolsa que mais pagaram dividendos, sete eram do setor de energia elétrica. Segundo dados da plataforma Quanted, as com os maiores dividend yield nos últimos 12 meses dentro do IEE são Auren (AURE3, 10,74%), Taesa (TAEE11, 9,58%), Cemig (CMIG4, 8,63%), Engie (EGIE3, 8,21%) e CPFL Energia (CPFE3, 8,10%) – retornos sólidos para o longo prazo quando se entende que a Selic, em condições normais de temperatura e pressão, tende a ficar abaixo de 7%.
Para entender melhor o potencial dessas empresas dentro de uma carteira de investimentos, convém dar um passo para trás e ver como o setor funciona.
Ele se divide em três grandes segmentos: geração, com as responsáveis pela produção de energia; transmissão, com aquelas que transportam a eletricidade país adentro; e distribuição, com as encarregadas do last mile, ou seja, levar os elétrons das centrais de transmissão até a sua tomada.
A grande maioria das elétricas se dedica a mais de uma dessas atividades. Das 15 integrantes do IEE, apenas três são especializadas em uma única área: ISA Cteep (TRPL4) e Taesa, de transmissão, e AES Brasil (AESB3), de geração.
Entre as demais, cada uma opera em diferentes segmentos, com níveis distintos de exposição em cada um. Considerando apenas essas diferenças, já seria possível montar uma carteira diversificada somente com ações do setor elétrico. Só que tem mais.
Veja, por exemplo, as empresas com foco em geração. Cada uma opera seu leque de fontes – que pode ser hídrica, eólica, solar, térmica… Dependendo do recurso, os riscos e oportunidades de cada negócio mudam.
A matriz brasileira é predominantemente hidrelétrica. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2022 60,04% da eletricidade veio dessa fonte. Na sequência, temos as usinas térmicas, com 21,9%. Depois a energia eólica, com 13%, a solar, com 3,96% e, para finalizar, a nuclear, com 1,1%.
Com as fortes transformações dos últimos anos, os analistas concordam que as mudanças futuras devem ser mais lentas e menos drásticas, já que boa parte das privatizações foram encaminhadas. E com uma menor disponibilidade de vendas de ativos,…
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