É surpreendente a recorrência de erros nas projeções econômicas para o Brasil nos últimos três anos. Durante esse período, as projeções do Relatório Focus, divulgadas no início de cada ano para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ficaram em média 3 pontos percentuais abaixo dos resultados efetivamente alcançados.
No início deste ano, economistas previam um crescimento econômico entre 0% e 0,5%. No primeiro semestre, o PIB acumulou um aumento de 3,7%. As revisões já começaram, com o Bank of America, por exemplo, agora estimando um crescimento de 3% para 2023 e revisando para cima as previsões para o PIB de 2024, projetando um aumento de 2,2%.
No ano passado, as projeções iniciais apontavam que a relação Dívida/PIB alcançaria 95%, mas no final do ano, ficou em 75%, uma discrepância notável de 20 pontos percentuais.
Não cabe aqui um pedido de desculpas – até porque o mercado não faz mea culpa e raramente reconhece seus erros, optando por simplesmente ajustar as suas projeções.
Será que não passou da hora de pararmos, analisarmos e entendermos o que está errado? O porquê desses erros grosseiros, praticamente homogêneos e sempre para o mesmo lado (negativo)?
Será que já não está evidente que os modelos econométricos de sempre aplicados ao Brasil estão equivocados e precisam ser atualizados? O que será que eles estão deixando de observar?
Eu tenho as minhas hipóteses para contribuir com esse debate, e algumas delas parecem ser bastante óbvias. Acredito que este exercício pode indicar que o Brasil está entrando em um ciclo fortemente virtuoso.
Primeiramente, parece-me que as projeções econômicas não estão capturando completamente os ganhos de produtividade resultantes das reformas estruturais implementadas no Brasil desde o governo Temer (agosto de 2016 a 2018). Isso inclui a Reforma Trabalhista, a Reforma Previdenciária, os novos Marcos Regulatórios (para o setor de gás, saneamento, portos, ferrovias, garantias, entre outros), a privatização da Eletrobras, a independência do Banco Central, e assim por diante.
Não podemos esquecer o fato de que o Banco Central aumentou a taxa básica de juros no Brasil de 2% para 13,75% e conseguiu levar a inflação de volta em direção à meta em um período de apenas dois anos, e isso ocorreu durante um ciclo eleitoral. Isso é coisa de país civilizado. Diferentemente das economias mais desenvolvidas dos Estados Unidos e da Europa, a inflação no Brasil já está abaixo do limite superior e demonstra tendência de convergir para o centro da meta.
Além das reformas estruturais, o desempenho excepcional do setor agrícola está se tornando um fenômeno que está transformando o cenário das contas externas do país. Em conjunto com o agronegócio, nos próximos 4-5 anos, prevemos um aumento significativo na produção do pré-sal, o que tornará o Brasil um grande acumulador de divisas estrangeiras. Isso não beneficia apenas a moeda brasileira.
O primeiro impacto positivo é sentido pelos exportadores, que posteriormente aumentam os níveis de consumo local e investem em novas cadeias de produção, realizam aquisições e transformam a dinâmica local, difundindo a renda em termos regionais e, posteriormente, em todo o país.
E, por fim, chegamos a um ponto crítico nesta discussão.
Nós convivemos nos séculos 20 e 21 com governos perdulários, que absorveram todos os recursos disponíveis no mercado, pagando juros altos, espremendo a iniciativa privada e tornando o acesso ao crédito extremamente custoso e difícil. Isso, por sua vez, levou a um fenômeno conhecido como “crowding out”, no qual o aumento dos gastos públicos é acompanhado pela redução dos investimentos privados.
No entanto, quando analisamos a transformação estrutural do Brasil nos últimos 5-6 anos, é evidente que estamos vivenciando um aumento dos investimentos privados no país. Isso se tornou possível devido à redução da participação estatal na economia, o que abriu espaço para o setor privado e para o mercado de capitais. Como resultado, o custo de captação para as empresas diminuiu, possibilitando o surgimento de centenas de fundos de infraestrutura, imobiliários e FIAGROS.
Todos esses fatores representam mudanças estruturais que, em minha opinião, não estão sendo adequadamente consideradas pelos economistas em suas…
Read More: O caminho do ciclo virtuoso brasileiro