Com o primeiro ano do governo Lula a dois meses de se encerrar, é fundamental que as organizações de oposição de esquerda fortaleçam sua independência e organizem um plano de luta unificado. Foi com esse objetivo que diversas entidades se reuniram na noite da quinta-feira (19), na Plenária Nacional Sindical e Popular.
A atividade realizada na sede da CSP-Conlutas, no centro de São Paulo, reuniu movimentos sociais, por moradia e da juventude, além de sindicatos e partidos políticos da esquerda. O momento foi de reflexão sobre diversos temas, em especial os ataques aprovados neste ano contra a classe trabalhadora brasileira.
O arcabouço fiscal, que limita investimentos públicos, as privatizações, o marco temporal das terras indígenas, as reformas Administrativa e do Ensino Médio, a falta de investimentos para garantir moradia digna e o desinvestimento em políticas públicas destinadas às mulheres foram alguns exemplos citados pelos participantes.
“Propomos fortalecer todos os dias de mobilização do calendário de lutas da classe trabalhadora”, explicou Atnágoras Lopes, em seu discurso como representante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas durante o evento. “Para a ultradireita, nós queremos dizer que vamos combater qualquer viés fascista até o último segundo da nossa vida. Mas faremos isso sem o discurso de que é preciso defender o governo Lula, que é capacho da banca internacional. Nosso projeto é com base na perspectiva de um mundo livre, fraterno e igualitário”, disse.
Oposição se constrói na luta
Nas intervenções uma ideia foi comum: a oposição de esquerda em âmbito nacional só poderá nascer de uma ativa mobilização posta em prática nas ruas, locais de trabalho e com o protagonismo dos trabalhadores e trabalhadoras em unidade.
A greve dos trabalhadores do Metrô, CPTM e da Sabesp, em São Paulo, realizada no último dia 3, foi citada como exemplo a ser seguido. Na ocasião, a maior cidade do país parou completamente contra as privatizações. A ação se destacou pela organização e adesão das categorias, bem como o amplo apoio da população.
“No último dia 3, demos um salto efetivo de qualidade na efetividade da luta contra os ataques dos governos. Aqui em São Paulo contra o Tarcísio, mas temos de organizar a classe para os ataques nacionais, como a tentativa de privatização dos metrôs federais em Recife e Porto Alegre”, defendeu Alex Fernandes, metroviário e representante da Unidos pra Lutar.
A professora da rede pública Lorena Fernandes, militante da CST (Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores), endossou essa necessidade: “Impulsionar essas lutas é o nosso papel. As burocracias sindicais fazem de tudo pra estancar a insatisfação da nossa classe e temos de combater esta inércia”.
Solidariedade ao povo palestino
A solidariedade ao povo palestino e a necessidade de exigir do governo Lula o rompimento das relações com Israel também marcou a Plenária. O atual posicionamento do Planalto frente ao genocídio praticado por Israel foi criticado por todos. Em conjunto, as entidades concordaram que uma exigência imediata é a expulsão do embaixador israelense.
“A situação palestina hoje é a mais importante expressão da luta de classes mundial. O massacre que Israel está fazendo precisa ser repudiado por todos, mas o governo do PT prefere ficar em cima do muro. O mesmo se faz com o povo ucraniano que enfrenta o poderoso exército russo”, afirmou Wilson Ribeiro, representante do Movimento Nacional da Oposição Bancária.
Chamado à luta
Finalizando a plenária, houve a apresentação e aprovação de um texto elaborado em conjunto entre as entidades. Você confere abaixo:
- Construir a independência e a unidade na luta da classe trabalhadora
As organizações políticas, sindicais e populares reunidas na Plenária Nacional Sindical e Popular de Oposição de Esquerda, que nos pautamos pela defesa da independência de classe e, portanto, estamos na oposição de esquerda ao governo Lula/Alckmin, reafirmamos mais uma vez que não será esperando a boa vontade desse governo, mas lutando contra ele (e também contra a ultradireita) que nossa classe poderá defender seus direitos e interesses.
Por outro lado, defendemos e vamos desenvolver todos os esforços no sentido de unir as lutas e a nossa classe em torno delas, pois a unidade dos trabalhadores na luta é a sua maior força. Essa plenária é um primeiro passo para tratar de assegurar a existência de um espaço onde se possa concretizar a unidade de ação que fortaleça todas as lutas da nossa classe (lutas salariais em curso, revogação das reformas da previdência e trabalhista, contra as privatizações e cortes na saúde e na educação etc).
Nos dias de hoje, essa exigência também se coloca mais que nunca em torno a uma obrigação internacionalista de todos e todas nós: o apoio incondicional à luta do povo palestino, barbaramente atacado pelo Estado fascista de Israel. Nos comprometemos a fortalecer todas as manifestações de apoio ao povo palestino em curso e aprovamos o manifesto que vai abaixo:
Manifesto em apoio ao povo palestino
Nós, organizações de Oposição de Esquerda ao governo Lula, declaramos nossa solidariedade irrestrita ao legítimo direito de resistência do povo palestino contra o regime de apartheid e terrorismo genocida do Estado Sionista de Israel. Repudiamos a postura vacilante do governo Lula frente ao regime colonial sionista e as declarações do governo que definem como “terrorismo” a luta revolucionária de libertação do povo palestino contra a ocupação colonial israelense.
Isso ocorre apesar de o Brasil sequer reconhecer oficialmente o Hamas como grupo terrorista, o que não impediu o governo brasileiro de proferir inúmeras declarações que estabelecem uma falsa simetria entre as partes beligerantes e uma invisibilização das diversas forças populares palestinas que lutam contra a ocupação colonial e o regime de apartheid israelense. Enquanto condena os combatentes palestinos, silencia sobre o cerco genocida israelense à Faixa de Gaza, com incontáveis crimes de guerra e privação das populações civis locais de água, eletricidade e até mesmo tratamento médico, uma vez que já diversos hospitais foram bombardeados por Israel.
Isso mais uma vez evidencia a capitulação do governo Lula diante dos interesses da burguesia imperialista e a insuficiência de seu suposto apoio ao povo palestino.
É por isso que, quando o Ministro dos Esportes, Fufuca, declara abertamente seu apoio a Israel, não é repreendido pelo governo: para além das palavras sobre “paz” e “cessar-fogo”, o governo brasileiro atua na verdade, por sua condescendência, com cumplicidade com Israel. A pretexto da proteção aos cidadãos brasileiros, o governo Lula endossou a proposta de criação de um corredor humanitário para fuga de civis de Gaza para o Egito – uma medida que, em sua aparência pode parecer justa, mas, em sua aplicação prática pode resultar no deslocamento massivo da população palestina para fora de seu território, favorecendo os objetivos sionistas de ocupação total das terras palestinas.
Tudo isso porque, de fato, a classe capitalista brasileira à qual este governo serve tem laços íntimos com a classe dominante de Israel – as armas israelenses matam o povo pobre e não-branco tanto no Brasil quanto na Palestina.
Em um esforço ativo de internacionalismo proletário em nosso país, exigimos do governo brasileiro a imediata suspensão de todos os acordos comerciais, militares e diplomáticos com Israel e suas empresas, expulsando do país o embaixador de Israel, bem como exigimos sanções internacionais ao estado sionista e o reconhecimento exclusivo do autogoverno palestino sobre toda a região, do rio ao mar!
Todas e todos às ruas no dia 20/10 e em todas próximas manifestações em defesa da emancipação do povo palestino!
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