O mar não está para peixe para os investimentos em renda variável, com a bolsa de valores voltando a amargar quedas em meio à tensão geopolítica e os movimentos nos juros nos Estados Unidos.
E até mesmo os tubarões do mercado têm dificuldades para nadar nesse cenário. Afinal, de um lado a renda fixa oferece o conforto de taxas altas — mesmo com o processo de corte da Selic em curso — e baixo risco.
Mas a tentação de nadar nas águas revoltas da bolsa é grande. Afinal, as ações brasileiras estão baratas e perto dos menores níveis históricos quando se considera a relação entre o preço e o lucro das empresas.
Para saber como os investidores estão encarando o atual momento do mercado, eu conversei com grandes gestores e estrategistas que estiveram no 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada nesta semana.
Bolsa x renda fixa
As aplicações em renda fixa seguem sendo as preferidas dos investidores, especialmente quando se fala de um tipo de investidor que traz muito dinheiro para o mercado de capitais no Brasil, os fundos de pensão e previdência, disse Gabriela Santos, estrategista de mercados globais do JP Morgan Asset Management.
Recentemente, a estrategista disse que as mudanças nas alocações dos fundos de pensão ainda foram no sentido de reduzir riscos, mas buscando diversificar opções dentro da renda fixa e de olho em ativos que possam se beneficiar de uma inflação mais alta.
Porém, isso não exclui a possibilidade de os fundos voltarem a olhar investimentos de maior risco e que tenham apetite por ações, principalmente a partir do ano que vem.
Bolsa: cautela no curto prazo e otimismo no médio prazo?
Para os peixes grandes do mercado financeiro, o momento ainda pede cautela, mas não dá para ignorar que há ações brasileiras já muito descontadas e que a trajetória da Selic é de queda.
“O cenário ainda é muito nebuloso e faz diminuir o risco, traz uma cautela de curto prazo, mas, por outro lado, há taxas de retorno muito atrativas na bolsa”, disse Marcos Kawakami, responsável por renda variável da BNP Paribas Asset Management.
Kawakami acredita que o momento “é bem atrativo” para a bolsa, principalmente se o investidor comprar ações pensando em um horizonte um pouco mais longo, de três a cinco anos, já que há perspectiva de valorização do mercado acionário conforme cai a Selic.
Completando a visão do head de renda variável, o diretor de investimentos (CIO) da asset do BNP, Gilberto Kfouri Júnior, reforçou que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem indicado que deve manter o ritmo de queda da Selic mesmo com a piora no cenário externo.
“O juro real está elevado e existe espaço. Acredito que nas próximas duas, três reuniões do Copom o ritmo de que não vai mudar”, afirmou.
Kfouri também segue acreditando que a Selic pode cair para em torno de 9% ao fim do ciclo, apesar de parte do mercado já apostar que ela vai parar antes, perto dos 10%.
Um dos mais otimistas com as perspectivas para a bolsa e que também destaca a influência da Selic é Luiz Alves Paes de Barros, sócio-fundador e chairman da Alaska Asset Management, umas das gestoras mais conhecidas do país.
Para o lendário investidor da bolsa brasileira, agora não é o momento de migrar o portfólio para ações com a Selic ainda em 12,75% ao ano, mas essa hora vai chegar em apenas algumas semanas ou meses.
“Quando ficar claro para o mercado que os juros vão cair, a bolsa vai subir rápido, ela antecipa movimentos”, afirmou.
Preparando o terreno para a demanda em renda variável
Apesar de algumas alocações mais defensivas nas estratégias de gestoras e assets agora, uma demanda por investimentos em renda variável já começou a ser sentida e tem gestoras preparando o terreno para aproveitar o potencial de melhora.
É o caso da Galapagos Capital, que acabou de investir na ampliação da equipe e produtos da área, com oito pessoas e dois produtos.
“Na semana passada, começou uma nova equipe de renda variável na Galapagos. Uma das motivações foi que sentimos o interesse do varejo com o início da queda de juros”, disse Fabio Guarda, sócio e gerente de portfólio…
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