- Author, Leandro Prazeres
- Role, Da BBC News Brasil em Brasília
Cautela, pragmatismo e paciência. É assim que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá lidar com o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, segundo quatro integrantes do governo brasileiro com quem a BBC News Brasil conversou após a vitória do ultraliberal sobre o peronista e ministro da Economia, Sergio Massa, no segundo turno das eleições presidenciais, no domingo (19/11).
O clima de aparente tensão apreensão após o anúncio da vitória de Milei deve-se, em parte, pelas diferenças políticas entre o argentino e Lula e também por conta das declarações de Milei sobre Lula que foram consideradas ofensivas por integrantes do governo brasileiro.
Politicamente, Lula é considerado um político de esquerda que defende a atuação do Estado para induzir o crescimento econômico e em políticas assistenciais para beneficiar a população mais pobre.
Milei, por outro lado, se autointitula como um adepto do “anarcocapitalismo”, uma corrente filosófica que defende um modelo de capitalismo praticamente sem regulação do Estado.
Além das diferenças políticas, nos últimos meses, declarações de Milei sobre Lula causaram mal-estar junto ao governo brasileiro.
Em 2022, Milei declarou seu apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PL) e chamou Lula de “presidiário”.
“Javier Milei aos brasileiros: votem em Bolsonaro e não deixem avançar o presidiário Lula”, disse Milei em uma postagem no X, antigo Twitter.
Em setembro deste ano, Milei disse que Lula não entraria no grupo de “defensores da liberdade” durante uma entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson.
“Eu sou um defensor da liberdade, da paz e da democracia. Os comunistas não entram aí. Os chineses não entram aí. [Vladimir] Putin não entra aí. Lula não entra aí”, disse o então candidato.
Lula não rebateu diretamente o político argentino, mas na segunda-feira, o ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, disse que o petista só deveria ir à posse de Milei, no dia 10 de dezembro, se o argentino pedisse desculpas ao presidente brasileiro.
Pragmatismo
Um dos termos mais utilizados por diplomatas que acompanham as repercussões da vitória de Milei sobre o governo brasileiro é “pragmatismo”.
Eles avaliam que há fatores domésticos e internacionais que deverão “modular” a ação de Milei quando assumir o poder, o que poderia ser benéfico ao Brasil.
Apesar da declaração de Pimenta, diplomatas e assessores políticos com quem a BBC News Brasil conversou disseram que o momento não é de tensionar as relações com o governo argentino e que é preciso aguardar os próximos passos de Milei. .
Segundo eles, os canais com a equipe de Milei estão funcionando desde a campanha, e os contatos foram feitos, primordialmente, pela embaixada do Brasil na Argentina.
Reuniões entre diplomatas brasileiros e pessoas ligadas à campanha foram realizadas nos últimos meses, mas nenhum encontro está agendado para os próximos dias, segundo apurou a BBC News Brasil.
Um primeiro contato entre membros da equipe de Milei após a vitória poderia ocorrer no Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 7 de dezembro, durante a Cúpula do Mercosul, que reunirá chefes de Estado do bloco.
Entretanto, segundo o protocolo, a equipe de Milei só poderia comparecer ao evento se fosse convidada pela delegação oficial argentina, que ainda será comandada pelo atual presidente, Alberto Fernández.
Além das declarações polêmicas sobre Lula e outros líderes mundiais, Milei também ficou conhecido por propostas consideradas por analistas como radicais na área econômica, algumas delas com possíveis efeitos sobre o Brasil.
Entre elas estão a dolarização da economia, a extinção do Banco Central e a saída da Argentina do Mercosul, bloco econômico que também inclui o Brasil, Uruguai e Paraguai.
Entre esses fatores estão: a conexão econômica do Brasil e a da Argentina, que são importantes parceiros comerciais um do outro; a necessidade de Milei formar uma maioria no Congresso para conseguir aprovar suas propostas.
Para o Brasil, a Argentina é o terceiro principal destino de suas exportações, atrás da China e dos Estados Unidos.
Nos últimos anos, as vendas brasileiras para os argentinos foram…
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