Uma das principais identidades da cultura negra é a ancestralidade. As histórias dos orixás, dos reis e rainhas africanos, da formação dos quilombos e dos terreiros são a marca de uma cultura que pulsa pelas ruas de Salvador. Nesta quarta-feira (22), a abertura da 2ª edição do Festival Salvador Capital Afro teve a presença da contadora de histórias afro-brasileiras Egbomi Cici de Oxalá, ou Vovó Cici.
Sentada nas escadas que levam ao palco do Espaço Cultural da Barroquinha, a mulher que aos 83 anos recebeu da Universidade Federal da Bahia (Ufba) o título de Doutora Honoris Causa, silenciou a plateia que ouviu com atenção a história da formação dos terreiros mais antigos de que se tem registro oficial em Salvador. Ela citou também a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, e relatos de negros trazidos de África à força para o Brasil.
É esse recorte cultural e histórico que deve atravessar o festival. O evento terá painéis, apresentações musicais, oficinas, rolês afros e rodadas de negócios com foco no afroturismo, artes visuais e música (confira a programação). O prefeito Bruno Reis (União) frisou que o objetivo do evento é celebrar a cultura negra e ao mesmo tempo estimular a economia criativa, o empreendedorismo negro e o afroturismo com novas ideias e estratégias de mercado.
“O objetivo é que, através da geração de emprego e renda, a gente reduza desigualdades sociais e fomente políticas de equidade racial. Fazer reparação através da criação de oportunidades. Sem sombra de dúvidas, potencializar ainda mais esse grande ativo que a nossa cidade tem, que é a nossa negritude”, afirmou o prefeito.
Os eventos começaram nesta quarta-feira e seguem até sábado. Uma das oficinas, por exemplo, vai discutir a construção de candidaturas fortes para editais financiados por bancos internacionais. Outra vai apontar os impactos e desafios na era digital e destacar o papel dos criadores de conteúdo nas estratégias das marcas. Nesta quarta, uma das discussões foi sobre precificação e autovalor dos produtos dos empreendedores. A secretária municipal de Reparação, Ivete Sacramento, é quem explica.
“No início, vimos que os negócios voltados para o turismo não tinham a participação de negros. E mesmo quando o negócio era feito por negros, o resultado monetário não ficava com eles. Por exemplo, no artesanato as pessoas negras construíam as peças, vendiam a um atravessador por um preço inferior, que revendia por um valor dez vezes maior. A capacitação e as rodadas de negócios são para que os negros possam entender as engrenagens desses negócios e se desenvolver”, explicou.
A programação terá shows todos os dias no fim da tarde, no Pátio da Barroquinha, e no sábado (25) haverá uma homenagem às baianas, desfile de blocos afros e o desfile do Afro Fashion Day, evento de moda promovido pelo CORREIO, com 70 modelos negros e 53 marcas e estilistas, no Terreiro de Jesus.
O secretário de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, contou que a Prefeitura encomendou um estudo sobre o impacto econômico do turismo afro em Salvador, o levantamento está em andamento, mas adiantou que a taxa de ocupação dos hotéis e pousadas da cidade, por exemplo, está acima de 90%.
“No turismo, na área da economia criativa, no audiovisual e na música. A gente só vai ter uma cidade mais justa quando as pessoas pretas da cidade também se beneficiem desse setor de serviços. Então, esse projeto Salvador Capital Afro vem para potencializar, capacitar a população negra de Salvador, conectar com empresas, com outros grupos do mundo para gerar mais renda, mais potência, mais sucesso e mais prosperidade”, disse.
Além do Festival Salvador Capital Afro, está ocorrendo em Salvador, como parte da programação do Novembro Negro, outros eventos como o Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil (Fianb), aberto na última terça-feira (21), no Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. No domingo (26), será a vez da Caminhada do Samba, com saída do Campo Grande. E o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) está com a exposição ‘Um defeito de cor’, premiada e considerada um sucesso.
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