Pesquisadores da Embrapa se reuniram com os diretores e cotistas da Fundação Cerrados no último dia 14 para a apresentação dos resultados do programa de melhoramento genético de soja conduzido pelas instituições parceiras e a discussão de perspectivas e novas oportunidades. O encontro foi realizado na Embrapa Cerrados (DF) e também contou com participações por videoconferência. Sebastião Pedro, chefe geral da Embrapa Cerrados, comentou sobre a mudança de cenário do mercado de soja, atualmente marcado pela falta de chuvas e por diversas incertezas. “Esses problemas, associados à podridão de vagens no Mato Grosso, nos preocupam muito. O melhoramento genético que fazemos na Embrapa é preventivo e nunca deixa de ser útil porque a cada ano um novo problema se apresenta, seja relacionado a estresses abióticos, como esta seca fora de época aqui no Centro-Oeste, seja o desafio de novas doenças que podem aparecer e retirar parte do lucro e da viabilidade do negócio”, explicou, lembrando que os materiais lançados pelo programa foram testados em ambientes de estresse hídrico e obtiveram bom desempenho. Por videoconferência, Alexandre Nepomuceno, chefe geral da Embrapa Soja (PR), e o pesquisador Carlos Lásaro Pereira falaram sobre novas biotecnologias na cultura da soja e as perspectivas da tecnologia Intacta – i3X para o programa de melhoramento genético da parceria com a Fundação Cerrados. Nepomuceno explicou que a decisão da Embrapa de estabelecer um acordo com a Bayer para o licenciamento da terceira geração da tecnologia Intacta se baseou numa nota técnica elaborada pelos pesquisadores da unidade de pesquisa. No momento, a Intacta – i3X está em fase de liberação comercial pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Nepomuceno destacou que diversas revoluções tecnológicas como a digital e a genética vão impactar o dia a dia das pessoas, quebrando paradigmas e mudando relações em vários níveis da sociedade. Ao fazer um histórico da biotecnologia no agronegócio, ele relembrou o surgimento, na década de 1990, da primeira planta transgênica com resistência ao herbicida glifosato (RR) e a Lei de Biossegurança (11.105/2005), que limitou a transgenia às commodities. Em plantas, os eventos de transgenia autorizados no País estão associados à resistência a herbicidas e a insetos. “Graças às plantas RR, resistentes a herbicidas, conseguimos ter hoje o Plantio Direto em 70% da área de produção do Brasil. E isso faz termos números de sequestro de carbono que mostram a sustentabilidade da cadeia produtiva da soja”, afirmou, acrescentando que o advento das plantas Bt reduziu a aplicação de inseticidas. Novas tecnologias via transgenia para soja foram citadas pelo chefe geral da Embrapa Soja, como plantas resistentes a nematoide de cisto, plantas com alto oleico (plenish soybean) e plantas com tolerância à seca – todas já estão liberadas para uso comercial no País. Outros eventos de transgenia estão em fase de pesquisa e têm potencial para liberação para uso comercial, como o de resistência à ferrugem asiática da soja. Ele também comentou sobre novas empresas no mercado de plantas geneticamente modificadas, como as chinesas DBM e a LongPing High Tech, que têm feito solicitações à CTNBio, e a necessidade estratégica, no contexto da economia verde, de alterar a qualidade do óleo da soja para a produção de biocombustíveis e outros bioprodutos. “A Embrapa Soja tem desenvolvido materiais que alterem a qualidade do óleo já pensando em variedades. E aí veremos se o mercado vai querer ou não”, disse. Enquanto os eventos de transgenia se concentraram nas mãos de poucas empresas, a edição gênica, que permite alterações precisas no genoma do organismo alvo, adicionando ou removendo determinada característica, imitando muitas vezes mutações naturais, tem seguido um caminho diferente, permitindo a participação de mais players no mercado. “Os países que estão regulamentando essa nova tecnologia estão analisando caso a caso, e em muitos dos casos estão considerando-a como não transgênica. Isso faz toda a diferença. Se fosse transgênica, haveria toda aquela regulamentação que eleva o custo de maneira absurda”, disse. Quanto à soja Intacta – i3X, Nepomuceno informou que foi feito um acordo com a Bayer para a transferência de materiais para acelerar o processo de incorporação da tecnologia. O pesquisador Carlos Lásaro Pereira lembrou que os objetivos do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa são buscar materiais com alta produtividade e estabilidade, resistência a doenças e nematoides, resistência ou tolerância a insetos e estresses abióticos, elevado teor de proteína (acima de 40%) e qualidade de óleo. São atendidas as cinco macrorregiões sojícolas e 20 regiões edafoclimáticas (RECs) que abrangem os mais de 44 milhões ha de produção no Brasil. Para isso, foi estabelecida uma rede de ensaios de valor de cultivo e uso (VCU) para avaliação dos materiais em diferentes ambientes com o apoio de parceiros como a Fundação Cerrados. O programa conta atualmente com cinco plataformas em andamento –convencional (desde 1973), RR1 (de 1997 até 2017, podendo ser lançadas cultivares 2027, se houver demanda do mercado), Intacta RR2 Pro (de 2010 até 2032, se houver demanda; poderá ser paralisada em 2024 com a entrada da Intacta – i3X), Intacta Xtend (desde 2016) e Intacta 2 Xtend (desde 2016). Está em negociação a entrada na plataforma Intacta – i3X na safra 2024/2025 ou 2025/2026. Segundo Pereira, 86% do mercado de soja brasileiro é ocupado pela tecnologia Intacta RR2 Pro, enquanto a Intacta 2 Xtend responde por 4%, a RR1 por 8% e a soja convencional por 2%. Ele explicou que a Intacta – i3X é a que reúne, numa mesma cultivar de soja, a tecnologia Insect Protect de terceira geração (IP3), composta pelas moléculas Bt Cry1Ac (primeira geração/IPRO); Cry1a.105 e Cry2AB2 (segunda geração/IP2); e Cry1A.2 e Cry1B.2 (terceira geração/IP3), e mais cinco moléculas para tolerância aos herbicidas glifosato (RR2), Dicamba, glufosinato, 2,4-D e HPPD-Mesotriona (HT4). A nova plataforma foi apresentada à Embrapa pela Bayer em maio deste ano. Os pesquisadores da Embrapa Soja emitiram parecer favorável à assinatura de contrato de licenciamento com a multinacional entre junho e agosto e, entre setembro em outubro, definiram os 10 genótipos BRS para iniciar a conversão completa e repasse à Bayer, contemplando as cinco macrorregiões sojícolas brasileiras. O contrato de pesquisa deverá ser assinado no ano que vem, e a previsão de aprovação completa da tecnologia no País é até 2025. O lançamento da tecnologia está previsto para 2028. “A Bayer já está realizando todo o processo de conversão. A ideia é que eles nos devolvam os materiais até o início de 2026 para iniciarmos as avaliações nas diferentes macrorregiões com o apoio de parceiros para podermos chegar junto com outras empresas no lançamento da tecnologia tendo algumas cultivares BRS competitivas lançadas no mercado entre as safras 2028/2029 e 2029/2030”, finalizou o pesquisador. Rogério Borges, supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, informou que o contrato de cooperação com a Bayer já está em tramitação, o que permitirá a realização das pesquisas, enquanto o contrato comercial será tratado futuramente. Resultados promissores Os resultados das atividades realizadas na safra 2022/2023 e perspectivas do programa de melhoramento de soja no Centro-Norte do Brasil (macrorregiões 3, 4 e 5) foram apresentados por Sebastião Pedro, com a participação dos pesquisadores André Ferreira e Geraldo Carneiro, da Embrapa Cerados, e Roberto Zito e Odilon Lemos, da Embrapa Soja. Entre os lançamentos, o chefe geral da Embrapa Cerrados falou sobre as cultivares BRS 7881IPRO, BRS 8383IPRO e BRS 7080IPRO. A BRS 7881IPRO se destaca pela elevada sanidade quanto aos nematoides, elevada produtividade e estabilidade, bem como consistência de resultados. O material foi bem sucedido em testes nas macrorregiões 3 e 4, envolvendo o Oeste baiano, Sul de Mato Grosso e Sudoeste goiano e Leste goiano e Noroeste mineiro. De grupo de maturidade 7.8, a cultivar tem ciclo de 107 a 110 dias, crescimento indeterminado e resistência ao acamamento. Apresenta moderada resistência ao nematoide de galhas Meloidogyne javanica e resistência ao nematoide de cisto (Heterodera glycines) raça 3. Por ser muito produtiva, é exigente em fertilidade de solo, sendo recomendada para áreas de sequeiro e irrigado. Em ensaios conduzidos por consultores em fazendas no Oeste da Bahia na safra 2021/2022, a produtividade variou de 65 a 89 sc/ha em sistema de sequeiro. No Agro Rosário, em Correntina, a BRS 7881IPRO foi a primeira colocada em produtividade (81,2 sc/ha) naquela safra entre todos os materiais testados em plantio de sequeiro. Já na safra 2022/2023, a produtividade da cultivar na região variou de 67,9 a 78 sc/ha em sequeiro, e de 93,8 a 98,4 sc/ha em sistema irrigado. Em faixas comerciais de empresas de consultoria agronômica do Oeste baiano, a produtividade variou de 75,2 a 98,8 sc/ha, alcançando 84 sc/ha no sistema irrigado. “Além da arquitetura de planta fantástica, é um material que pode ser usado na abertura de plantio no sistema irrigado e, devido ao ciclo, traz a possibilidade de se fazer o…
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