Na primeira Conferência do Clima das Nações Unidas do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil voltará a pautar sua atuação na ciência nos esforços para conter o aquecimento global, afirma, em entrevista exclusiva à Agência Pública, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Na tentativa de estabelecer papel de liderança para a conferência que deverá ser realizada em Belém em 2025, o país levará à COP28 um chamado para que o mundo se una em torno da meta de limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 1,5°C em relação aos níveis pré-Revolução Industrial.
Esse é um dos objetivos do Acordo de Paris, mas análise recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que o estado atual da ação climática nos coloca muito longe disso, numa trajetória de 2,5ºC a 2,9ºC de aquecimento global, o que teria efeitos devastadores para a saúde humana, a economia e os ecossistemas.
:: Lula retoma viagens internacionais e vai à COP28 tentar captar recursos para florestas ::
A principal decisão a ser tomada pelos países na COP28, que ocorre de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, se dará em relação ao primeiro balanço global do Acordo de Paris – o Global Stocktake, em inglês. O processo, que durou dois anos e será concluído agora, avalia o progresso coletivo na implementação das metas do acordo.
“Na nossa opinião, não se pode fazer um balanço do Acordo de Paris sem incorporar a última ciência”, afirma Corrêa do Lago, que comandará a equipe de negociadores brasileiros em Dubai. Ele atuou como negociador-chefe do Brasil para mudança do clima de 2011 a 2013, incluindo na Rio+20, que marcou o aniversário de duas décadas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. De 2019 a 2022, serviu como embaixador brasileiro na Índia.
Uma decisão sólida sobre o balanço global, que reconheça o quanto o mundo está atrasado no combate à crise climática e traga propostas para corrigir a rota, é considerada essencial para o sucesso da COP30– a confirmação da capital paraense como sede do evento deve acontecer em Dubai. Isso porque é na COP30 que ocorrerá uma etapa fundamental do Acordo de Paris: a apresentação, pelos países, da segunda rodada de metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito estufa, as Contribuições Nacionalmente Determinadas – ou NDCs, na sigla em inglês.
Para que o mundo se coloque no caminho de conter o aquecimento do planeta a 1,5°C, são necessárias novas NDCs mais ambiciosas, ou seja, que proponham cortes maiores e mais sustentados de emissões. Mas isso só será possível, segundo o embaixador, se os países ricos aumentarem o financiamento climático aos países em desenvolvimento. “Todos temos consciência de que não vamos poder acelerar e ter NDCs mais ambiciosas em Belém se os recursos financeiros não vierem de maneira muito mais clara, transparente e efetiva”, destaca.
:: Ruralistas temem repercussão na COP28 e adiam análise de vetos do marco temporal ::
A atuação em relação ao financiamento é “ponto absolutamente central” da atuação do Brasil como “destravador de negociações difíceis”, aponta Corrêa do Lago. A diplomacia brasileira quer ser propositiva. “O Brasil está procurando chegar a soluções. Não basta denunciar que esses recursos não estão vindo, o essencial é analisar por que”, diz.
O embaixador falou também sobre o instrumento global de conservação de florestas que o Brasil deve anunciar junto a cerca de 80 nações florestais na COP28. A ideia, de acordo com ele, é que o mecanismo funcione sob “uma nova lógica”, proposta de baixo para cima, ou seja, a partir dos países detentores de florestas. A iniciativa “traz uma visão muito mais ampla do que é uma floresta”, pois ela “é mais do que o carbono”, pontua. “É a biodiversidade, são as populações locais, vários elementos extremamente importantes que têm que ser levados em consideração.”
O primeiro balanço global do Acordo de Paris,…
Read More: COP28: De olho em Belém, Brasil quer união global