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Sempre destaco que o volume de negócios nos mercados futuros de títulos do Tesouro, renda fixa, moedas, commodities e ações é tão grande – por vezes superando, de longe, as transações da economia real (a soma dos PIBs) – que os movimentos para cima ou para baixo dos juros pelos bancos centrais (visando controlar a inflação) atuam como gangorra. Sendo o dólar a moeda de maior reserva do mundo e referência das cotações, os movimentos do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, são os mais importantes.
Os mercados andaram de lado até setembro/outubro. E que o Fed, que tinha elevado o piso de flutuação dos “fed funds” da faixa de 4,50%-4,75% ao ano, em dezembro de 2022, para o patamar de 5,25%-5,50% em setembro, mantinha a ameaça (como fazem todos os BCs de “elevar os juros sempre que as condições macroeconômicas exigirem”). Mas a verdade é que o Fed pausou a escalada desde 26 de julho. Para, finalmente, chancelar a parada na reunião de 13 de dezembro, quando anunciou que haveria queda de 0,75 ponto percentual nos juros do “overnight” em 2024 (para a faixa de 4,50%-4,75%).
Isso desanuviou o temor dos investidores de verem suas apostas futuras nos mais variados ativos serem atropeladas por nova escalada dos juros (como os contratos são feitos a futuro, há implicitamente embutido a expectativa dos juros e da inflação e, portanto, do ganho real). Quando o Fed anunciou sua visão futura, houve uma reversão geral de expectativas e forte aceleração das cotações (exceção do petróleo e das commodities).
Advertência de Williams, dá susto
O Ibovespa chegou a bater ontem o recorde de pontos -131.190 pontos. Mas, a fala do presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams (que executa a política monetária traçada pelo Federal Open Market Committee – o FOMC), advertindo que o corte dos juros ainda não está sendo cogitado, por enquanto [só aconteceria a partir do 2º trimestre], esfriou os ânimos. Sobretudo, porque os dados do mercado de serviços mostraram forte aquecimento em novembro. Como lucro nunca deu prejuízo a ninguém, houve movimento de vendas e o Ibovespa recuou 0,44% a 130.260, após o meio-dia.
O Brent caiu mais 0,60%, com o contrato para entrega em fevereiro baixando para US$ 76,15 por barril. A soja baixou 0,68% na Bolsa de Chicago. O Boi Gordo baixou 0,12% (em dólar), também em Chicago. O milho, que estava em alta, caiu 0,04% e o minério de ferro, 0,19% (ambos em dólar). O ouro, como costuma acontecer, seguiu avançando como garantia em crises geopolíticas.
Tirando a freada de arrumação de hoje, o balanço era positivo até ontem:
OLM
As revisões do mercado
A Genial Investimentos projeta que “o FED começará a cortar juros a partir de maio de 2024; e reduzirá sua taxa de referência em 125 pontos-base até o final de 2025”, com a consolidação do processo de desinflação. Para a Genial, o principal impacto na sinalização do Fed, “reforçada pelas decisões do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra e pelas declarações mais duras de seus respectivos presidentes” foi gerar aumento do diferencial de juros esperado entre os países, forte queda nas taxas de juros dos títulos do tesouro americano e desvalorização do dólar frente às moedas de países desenvolvidos.
No Brasil, a decisão do Copom de reduzir a Selcic em 0,50 ponto percentual, e de manter o anúncio de novas reduções iguais nas próximas reuniões (janeiro e março) também teve o efeito de aumentar o diferencial de juros esperado entre o Brasil e os EUA. Isso atraiu recursos do exterior para a B3 (R$ 850 milhões no dia 12), a maior parte de capitais brasileiros em “off-shores”.
Selic volta a um dígito
Para o economista-chefe da Genial, José Márcio Camargo, “esta combinação de um Banco Central americano mais agressivo e um Banco Central brasileiro mais conservador, gera pressão por valorização do real frente ao dólar, acentuando os efeitos desinflacionários no Brasil, e reduz a taxa de juros terminal no atual ciclo de queda. O que traz de volta ao cenário a possibilidade de SELIC de um dígito no final deste processo”, sublinha. Vale lembrar que a Genial esperava até novembro que a Selic fechasse 2024 em 10,50%.
O Itaú esperava 9,50%, mas já admitiu, após as decisões conjuntas do Fed e do Copom, que pode revisar sua projeção para baixo. O Bradesco segue apostando em 9,25%. Outra mudança foi feita pelo…