Daqui a algumas décadas, talvez seja difícil lembrar que houve um tempo no qual a única maneira de conseguir um diamante era extraindo-o da natureza. Aperfeiçoados ao longo dos últimos anos e possuindo a exata mesmíssima composição das gemas mineradas, os diamantes cultivados em laboratório (também conhecidos como lab-grown diamonds, ou LGD) já representam 7% das vendas de joias nos Estados Unidos, de acordo com pesquisas da Edahn Golan Diamond Research.
Essa porcentagem é mais do que o dobro de dois anos atrás e promete seguir aumentando em progressão geométrica, graças a aderência de pesos-pesados da indústria, como o grupo LVMH e a De Beers. É que, enquanto as pedras de origem natural muitas vezes são extraídas em zonas de conflito e costumam gerar contaminação do solo, os LGDs despontam como uma resposta sustentável e tecnológica para uma clientela preocupada com a pegada ambiental e social dos diamantes minerados. No Brasil, a pioneira neste universo é a Gaem (fala-se “gá-êm”), marca paulistana fundada há um ano pela joalheira Julia Blini e pela stylist Luna Nigro, que utiliza exclusivamente diamantes cultivados em laboratório e acaba de ser certificada pelo Sistema B, única marca brasileira de joias chancelada com o selo (por ainda possuir um ano, trata-se do selo “Pendente”, que mostra que, apesar de a empresa ser recente, tem interesse nas boas práticas e está caminhando para um dia conseguir a certificação efetiva).
Amigas há quase duas décadas, Julia e Luna se conheceram enquanto estudavam moda no Studio Berçot, em Paris, em 2005. Luna seguiu carreira como stylist e despertou pela primeira vez para a importância da sustentabilidade ao ter aulas sobre o tema na Central Saint Martins. Já Julia ingressou na indústria da moda trabalhando com design de sapatos na Jimmy Choo (em Londres) e na Alexandre Birman. Após cursar gemologia no conceituado Gemology Institute of America (GIA), desde 2014 comandava uma marca de joias batizada com seu nome, cujas atividades foram encerradas para dar início à Gaem. “Com os anos, passou a me incomodar profundamente não saber a procedência exata do meu ouro, da pedra. Como eu poderia conversar sobre valores em casa com minhas filhas sem saber se a matéria-prima devastava a Amazônia, enchendo um rio de mercúrio”, diz Julia.
No fim de 2019, a dupla resolveu se unir e ressignificar suas carreiras. “Estávamos inquietas, queríamos recalcular a rota e encontrar um caminho que trouxesse um impacto positivo para o planeta”, diz Luna. A primeira ideia foi criar uma espécie de Goop da beleza, mas, após muita troca, pesquisas e estudo, chegaram ao formato dos lab-grown diamonds. “Com eles, há a certeza de que há não trabalho infantil ou escravo, contrabando ou outras práticas ilícitas envolvidas; nem que milhões de toneladas de terra serão removidas e fontes de abastecimento de água contaminadas, implicando na destruição dos habitats selvagens que estão em torno das minas de diamantes. Queremos minimizar o impacto ambiental e humanitário causado pela extração de diamantes no Brasil e no mundo.”
Diamantes naturais e de laboratório compartilham a mesma composição química e estrutura física e são opticamente idênticos. Enquanto os naturais se formam abaixo da superfície da Terra ao longo de milhões de anos, os LGDs “crescem” em laboratório em poucas semanas. Ao replicar o processo natural da terra dentro de um laboratório, é possível criar diamantes idênticos aos extraídos do solo. “Costumo comparar o lab-grown ao gelo formado dentro do freezer: é gelo assim como o da água que congela na natureza, só muda a sua origem”, explica Julia. Tudo começa com átomos de carbono, que, dentro de uma câmara vedada, é submetida a pressão e calor extremamente altos, semelhantes aos que os diamantes naturais experimentam na terra. Uma outra maneira de realizar o processo é por meio de uma câmara de gás, usando temperaturas moderadas (700°C a 1.300°C) e pressões mais baixas. Cerca de sete semanas depois, um diamante bruto está formado. Ele é então lapidado e polido exatamente…
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