Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC) e economista-chefe da Asa Investments, Fabio Kanczuk avalia o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da última quarta-feira, 20, como pouco informativo.
“A impressão que tive foi a de que, como as projeções (de inflação) deles subiram um pouquinho, se fossem explicá-las, significaria que não poderiam cortar juros tanto quanto as pessoas estão querendo”, afirmou em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Ele admite estar alinhado ao mercado em relação ao nível da taxa Selic ao fim do ciclo, falando em 9% ao ano, conforme a pesquisa Focus. Mas diverge quanto à inflação em 2024 que, nas suas contas, deverá ficar entre 4,5% e 5%, enquanto as estimativas do mercado indicam 3,86% (Focus). “Eu manteria os juros altos até afundar a economia e poder reancorar as expectativas.”
Kanczuk considera que a redução do diferencial de juro interno e externo, à medida que as taxas nos Estados Unidos apontam para cima e a Selic cai, deve retirar recursos do País, desvalorizar o real e provocar mais inflação. Ele projeta um déficit de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que o sr. achou do comunicado do Copom?
O mercado reagiu ao comunicado um pouco diferente do que eu esperava. Veio com poucas informações e não foi claro. Tem umas frases aqui e acolá. É difícil de ler o que exatamente eles estão querendo explicar. Imagino que expliquem melhor na ata.
Por quê?
O comunicado ficou meio misterioso. A impressão que tive é que as projeções do BC subiram e, se fossem explicar estas altas, teriam que admitir que não poderiam estar cortando os juros tanto quanto as pessoas estão querendo. Mas eles não falaram nada. Só colocaram as projeções e ficaram quietos. Eu não sei se as pessoas entenderam a implicação disso. Em geral não entendem.
Depois de retirar do comunicado anterior a citação sobre o cenário fiscal, o BC voltou a mencioná-lo. Como o sr. vê?
Essa é outra coisa que não ficou clara. Tentaram dizer que o governo precisará entregar um déficit primário perto de zero no ano que vem para não desancorar as expectativas, mas não disseram qual a importância disso para a política monetária. Não sei se escreveram isso para ajudar o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad, para que o ministro possa dizer o BC está preocupado com isso. Ficou meio largado. É um comunicado que lemos e ficamos com dúvida. Não entendi o que eles estão querendo dizer com fiscal. Tem alguma implicação ou é só para ajudar Haddad?
Será que não foi intenção do BC, de não dar pistas do que vai fazer?
É papel do BC explicar sua função de reação. É importante isso como parte da política monetária. Você toma decisão de juro e fala como vai agir no futuro, dependendo do que está acontecendo. Pode até não saber o que vai fazer, mas explique as condicionais.
O sr. acha que houve um retrocesso na comunicação do BC?
Não acho que chega a ser retrocesso. Às vezes é sucinto, como um comunicado tem que ser, e deixa para a ata expandir.
De volta ao fiscal, o sr. acha que o BC está preocupado?
Chama atenção para o fiscal não por estar preocupado, mas porque o presidente do BC, Roberto Campos Neto está ligando o fiscal à desancoragem das expectativas no ano que vem.
Houve uma piora na visão do mercado em relação ao fiscal?
O mercado nunca acreditou nessa conversa de déficit primário zero. Trabalhava com déficit de 0,8% do PIB e quando o governo soltou o arcabouço falando em déficit zero o mercado ignorou.
Qual a projeção da Asa Investments para o primário em 2024?
Esperamos um déficit primário de 1,2% do PIB.
Então não dá para esperar aceleração do ritmo de corte da Selic, correto?
Que os cortes seriam de 0,50 ponto porcentual por reunião já se sabia. Mas a ata da reunião passada explica as restrições à aceleração dos cortes para 0,75 ponto. Ora, se ele coloca estas condições para acelerar o passo, eu posso entender que ele está em dúvida entre…
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