Apesar das apostas do mercado financeiro, a projeção de que o início do ciclo de cortes na taxa de juros poderia refletir em uma alta expressiva na Bolsa de Valores não se concretizou. A primeira e tão sonhada redução da Selic em mais de dois anos foi confirmada pelo Banco Central no dia 02 de agosto, no entanto, contrariando as projeções, o Ibovespa cedeu 0,23% no pregão seguinte.
Leia também
Na decisão do dia 20 de setembro, o mesmo movimento. Mais um corte de 0,5 ponto percentual nos juros e uma queda de 2,15% no pregão seguinte do Ibovespa. Com o sobe e desce dos últimos dois meses, a Bolsa brasileira já devolveu boa parte dos ganhos do primeiro semestre do ano, quando o mercado viveu um rali à medida que precificava o início do ciclo de afrouxamento monetário.
O que ficou fora dos cálculos das projeções foi a piora no cenário dos Estados Unidos, aponta Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. Para o especialista, a possibilidade de que a taxa de juros americana permaneça mais alta por mais tempo tem penalizado os mercados globais.
Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.
Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!
No último encontro do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), também no dia 20, o tom mais duro da instituição chamou a atenção do mercado e levou a uma piora do sentimento de aversão a risco de investidores globais. Um cenário que tem se sobressaído à melhora dos indicadores econômicos e queda da taxa de juros no Brasil. “Esse movimento negativo que estamos vendo está ligado ao comunicado muito duro do Fed, que está estragando a festa no Brasil”, diz.
E-Investidor – A taxa básica de juros sofreu mais um corte em setembro, mas a reação imediata da Bolsa e do dólar contrariou a expectativa dos analistas. Por que as projeções de que a queda da Selic faria o mercado subir não se concretizaram?
Paulo Gala – Quem está estragando a festa no Brasil é o Fed, o Banco Central dos Estados Unidos. Esse movimento negativo está ligado ao comunicado muito duro da instituição, falando que eles podem subir mais a taxa de juros neste ano. Claro que aqui no Brasil há certa preocupação fiscal, com a arrecadação um pouco pior e o governo com mais dificuldade para chegar no déficit zero para o ano que vem; isso também impacta. Se tivesse que atribuir pesos, colocaria dois terços no Fed e um terço só nas questões fiscais. O que está segurando a Bolsa brasileira e os ativos emergentes no geral é o juro americano mais alto por mais tempo.
Os juros mais longos e por mais tempo nos EUA já está no preço das ações brasileiras?
Depois do Fed ser um pouco mais duro do que se imaginava, vimos uma reprecificação na Bolsa brasileira. O cenário base do mercado ainda é o término da alta de juros nos EUA e a convergência da inflação ainda no meio do ano que vem. É isso o que está nos preços. Mas, por exemplo, se a Fed Funds tiver que ir a 6%, aí sim teremos uma correção mais forte. Se houver só mais uma alta ou até nenhum ajuste nos juros até o meio do ano que vem, isso ainda é tolerável.
A China voltou a anunciar medidas para estimular a economia e afastar as ameaças de crise no mercado imobiliário. Isso poderia ser um contrapeso para segurar os mercados globais, especialmente aqueles ligados à commodities como o Brasil?
A China ajuda, mas ela não vai ter capacidade de sobrepor más notícias que venham dos EUA. Na melhor das hipóteses, a China não vai atrapalhar. Se ela conseguir continuar crescendo nesse nível de 4%, eventualmente 5%, mesmo com todos os problemas no mercado imobiliário e com a quebra das construtoras, já está de bom tamanho. Mas não vejo praticamente nenhuma chance da China crescer mais do que 5%, até porque ela está endividada, muito alavancada e acumulou uma série de desequilíbrios nesses últimos 10 anos. Se a…
Read More: “Quem está estragando a festa no Brasil é o FED”, diz Paulo Gala