“A exploração de jazidas não convencionais requer tecnologia avançada. Antes de perfurar um poço de petróleo ou gás no fundo do mar, a área precisa ser mapeada, e a forma mais precisa de fazer isso é por meio de um processo chamado exploração sísmica. Para isso, um navio atravessa lentamente a zona de aquisição (expressão usada no jargão da indústria para se referir ao local que está sendo mapeado), arrastando atrás de si canhões pneumáticos e geofones, às vezes em linhas de 10 quilômetros de extensão”. A reflexão é de Timothy Erik Ström, publicada em New Left Review e reproduzida por Brecha, 06-10-2023. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Em meio ao verão mais quente já registrado até esta data, dia 1º de agosto, dois conjuntos de microfones estavam gravando no nordeste da Escócia. O primeiro se encontrava diante do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, que discursava na parte externa de um terminal de processamento de gás de propriedade da Shell, localizado no extremo leste da Escócia, por ocasião da apresentação do plano de autorização para 100 novas licenças de perfuração concedidas para pesquisa de combustíveis fósseis no Mar do Norte. A certa distância da costa e longe da atenção da mídia, um segundo conjunto de microfones estava sendo arrastado para baixo da água, conforme orientação da empresa de geofísica SAExploration, com sede no Texas, para sondar o fundo do mar em busca de combustíveis fósseis.
Essas prospecções fazem parte de uma indústria em plena expansão. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas deixa claro que não podemos iniciar novos projetos de exploração de combustíveis fósseis se quisermos evitar um aquecimento global catastrófico. No entanto, segundo a Offshore Magazine, publicação especializada na prospecção de combustíveis fósseis marítimos, “o futuro parece promissor” para este setor.
O setor deverá crescer 14% somente neste ano. Atualmente, estão sendo feitas prospecções em grande escala nas águas da Argentina, Brasil, Costa do Marfim, Colômbia, Coreia do Sul, Estados Unidos, Grécia, Malásia, México, Namíbia, Noruega, Reino Unido, Rússia e Turquia. Esta expansão deve-se, em parte, aos distúrbios provocados pela guerra na Ucrânia, aos novos avanços tecnológicos e a uma indústria alimentada por lucros hipertrofiados, ansiosa por defender e expandir a sua posição. A procura de combustível no fundo do mar também é impulsionada pela sua crescente escassez. Grande parte do fornecimento “convencional” de petróleo e gás já está superexplorado, forçando as empresas do setor a optarem por soluções não convencionais.
A exploração de jazidas não convencionais requer tecnologia avançada. Antes de perfurar um poço de petróleo ou gás no fundo do mar, a área precisa ser mapeada, e a forma mais precisa de fazer isso é por meio de um processo chamado exploração sísmica. Para isso, um navio atravessa lentamente a zona de aquisição (expressão usada no jargão da indústria para se referir ao local que está sendo mapeado), arrastando atrás de si canhões pneumáticos e geofones, às vezes em linhas de 10 quilômetros de extensão.
Os canhões pneumáticos disparam rajadas regulares de som na água, enquanto geofones gravam o eco refletido no fundo do mar – Timothy Erik Ström
Os canhões pneumáticos disparam rajadas regulares de som na água, enquanto geofones gravam o eco refletido no fundo do mar. Para penetrar no subsolo, onde pode haver petróleo e gás, as explosões têm que ser extremamente fortes. Com inimagináveis 240 decibéis, estão entre os sons mais altos que os humanos conseguem produzir. Para uma comparação relevante, esses sons são mais altos que o ruído produzido pela explosão de uma bomba atômica.
Centenas de milhares dessas explosões são necessárias para mapear a área de aquisição. Os canhões disparam a cada dez segundos, 24 horas por dia, durante meses. Nesse ritmo, o número de explosões aumenta rapidamente. Enquanto o primeiro-ministro britânico Sunak fazia o seu anúncio, o navio SAExploration no Mar do Norte já tinha disparado quase um milhão de tiros apenas nos primeiros 108 dias da sua missão.
Numa reportagem do semanário australiano The Saturday Paper, uma bióloga marinha que se tornou uma denunciante das práticas na sua área profissional e está preocupada com as…
Read More: Indústria petroleira vasculha fundo do mar com tecnologias hostis aos