As transações de fusões e aquisições no setor de óleo e gás minguaram no ano passado, para o menor nível de atividade desde 2008, mas estão recuperando o fôlego neste ano. Depois da aquisição por US$ 60 bilhões da Pioneer pela Exxon, há uma semana, outras transações estão por vir, afirma J.P. Hanson, chefe global de óleo e gás do banco de investimento Houlihan Lokey.
“Toda vez que há uma movimentação de M&A no setor de óleo e gás ela é guiada por uma grande transação, que desencadeia outras. Tivemos uma onda entre 2015 e 2017, após a fusão da Shell e BG, saindo do primeiro ano de covid, em 2020, a Chevron discutiu uma fusão com a Exxon, que acabou não saindo, e a ConocoPhillips comprou a Concho”, diz Hanson ao Pipeline. “E agora vimos essa bastante relevante da Exxon com a Pioneer, que mostra o desejo de aumentar as métricas de produção e estoque.”
Segundo o executivo, em passagem pelo Brasil para encontrar clientes, essa onda de transações até pode ser desencadeada após um negócio relevante em tempos de preço baixo, mas faz sentido quando os preços estão em alta também, uma vez que é indicativo de demanda.
A demanda, aliás, é o principal vetor dos preços e da volatilidade atual da commodity – e não o cenário de guerras, avalia. “Mesmo antes das guerras na Ucrânia e Israel, já havia preocupações do lado do suprimento, com a demanda superando a oferta e isso aumenta a volatilidade de preços, com pressão para cima”, diz.
O volume global de investimento em exploração e produção, que chegou a quase US$ 1 trilhão no pico, em 2014, atualmente é pouco mais da metade disso, segundo a consultoria Wood Mackenzie. A Opep projeta uma demanda de US$ 14 trilhões em investimentos em óleo e gás até 2045 para assegurar a oferta da commodity diante de maior demanda principalmente na Índia e na China – visão oposta a da Agência Internacional de Energia, que vê o pico de consumo antes de 2030 e o começo do fim da era de combustíveis fósseis.
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Uma das questões que afetam a oferta é que as petrolíferas reduziram o volume de investimentos nos últimos anos na busca de novos campos, seja por política com acionistas para distribuir mais dividendos ou mesmo por foco em transição energética – voltando investimentos a projetos eólicos onshore e offshore, energia nuclear, solar e biocombustíveis.
“O setor de óleo e gás subinvestiu e vimos um declínio do ritmo de produção. Petrolíferas eram consideradas, há 10 anos, 15 anos, empresas de crescimento, com a maioria do capital gerado transformado em capex, e passaram a ser empresas de dividendos, com 50% ou menos do lucro reinvestido”, diz Hanson, que também é co-head de energia, em geral, no banco. “Novas alternativas de energia terão espaço crescente mas estão longe de ser suficiente hoje.”
Ele não acredita que o que atraiu a Exxon na aquisição da Pioneer seja a descarbonização (já que a companhia é forte produtora de gás de xisto, com menor emissão que óleo) ou que a transação seja um indicativo dessa estratégia, e sim a clara noção de finitude de reservas.
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“Vemos esforços na indústria, de companhias grandes às pequenas, para limitar a pegada de carbono, seja na captura ou na redução das emissões, mas acho que os M&As como esse são mais guiados por essa forte demanda por óleo e gás”, diz.
Hanson elenca outros dois fatores para a volatilidade atual de preços e eventuais transações: os ajustes da macroeconomia, já que havia uma expectativa de desaceleração global e possibilidade de recessão em mercados como o americano, mas a atividade se manteve acima das projeções. Aí sim ele adiciona as guerras.
“Não há um ativo mais afetado pelo fator geopolítico que o petróleo. Petróleo e produtos agrícolas são os mais suscetíveis a mudanças geopolíticas”, destaca.
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