Entre as mesas de almoço e as salas de reunião da Faria Lima, o que não faltam são discursos recheados de expressões em inglês.
Valuation, bull market, default, hedge, spread… e por aí vai.
Para quem está envolvido nesse mercado ao menos oito horas por dia, cinco dias na semana, tudo parece tão simples quanto ensinar um bebê a falar.
Contudo, você e eu sabemos que não é bem assim para os “não-viventes” desse mercado.
Lembro quando comecei a me interessar pelo mercado financeiro. Estava cursando o segundo ano de engenharia e a bolsa de valores parecia muito mais interessante do que as aulas de cálculo e estruturas de concreto.
Por mais chamativos que fossem os gráficos de altas e baixas das ações no meu home broker (olha aí, mais uma palavra apropriada do inglês), eu precisava entender o que movia essa engrenagem, então passei a acompanhar grandes nomes do mercado nas minhas redes sociais.
Caramba… aquilo era muito mais complexo do que eu esperava.
Descobri o que hoje me parece óbvio: comprar uma cesta de boas ações e mais alguns títulos de dívida envolve realmente entender o que acontece na economia, no Brasil e no mundo.
Não basta só comprar a ação de uma empresa por simplesmente gostar do que ela vende. Nem mesmo adquirir o CDB de um banco só porque ele me parece sólido.
É preciso compreender o contexto em que o negócio está inserido e avaliar se adquiri-lo naquele momento faz sentido de fato.
‘É a melhor empresa do brasil’: ação já decolou 4.200% desde o ipo, é líder de mercado e está barata
Por mais distante que pareça, muitas das discussões giram em torno das decisões tomadas pelo banco central norte-americano, o Fed (Federal Reserve) — o que acontece lá influencia diretamente o nosso mercado.
Isso tem a ver com a estabilidade financeira dos países desenvolvidos contra emergentes e os efeitos nas taxas de juros do Brasil e no valor do real perante o dólar.
Após o fim da pandemia, pela população ter passado bastante tempo em casa, as reservas das famílias cresceram consideravelmente, aquecendo a economia dos Estados Unidos.
Com as pessoas gastando mais, houve o aumento dos preços de produtos e serviços, pressionando os índices americanos de inflação – tão conhecida por nós brasileiros, mas pouco discutida entre os países desenvolvidos nas últimas décadas.
Para tratar do problema, o Fed precisou aumentar as taxas de juros do país (Fed Funds Rates, similar a nossa taxa Selic).
As altas começaram em março do ano passado e, atualmente, a taxa chegou ao patamar entre 5,25% e 5,50% ao ano – maior nível em mais de 15 anos. O mercado ainda precifica a possibilidade de mais uma alta por lá, mas o final do ciclo atual já está próximo.
Dentro desse cenário, muito se discute sobre a trajetória da economia até esse final de ciclo e alguns termos são utilizados para designar as principais possibilidades – todos em inglês, obviamente.
“Hard landing“, “soft landing” e “no landing” são as expressões mais utilizadas e o objetivo é que você saia daqui sabendo exatamente o que significam – e para onde possivelmente estamos caminhando.
Hard Landing, que na tradução livre para o português seria algo como “pouso forçado”, ocorre quando há a convergência da inflação à meta com significativo prejuízo para o crescimento econômico.
Imagine um avião que precisa pousar forçadamente em algum lugar no meio do nada. Não seria nada fácil, não é? Esse tipo de “pouso econômico” também não é.
Nessa situação, a economia entra em recessão, com aumento no desemprego e queda nos retornos dos investimentos mais sensíveis a ciclos econômicos – geralmente, os bancos centrais evitam esse cenário ao máximo.
Um caso clássico de hard landing nos EUA ocorreu na época em que Paul Volcker era presidente do Fed, entre 1979 e 1983 (ele ficou no comando até 1987).
No período, a inflação alcançou o patamar de 11% no acumulado de 12 meses até meados de 1980 e,…
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