Esqueça CDI ou Ibovespa, os títulos do Tesouro IPCA+ pagando juros reais de 6% batem qualquer investimento em janelas de tempo mais longas, de 10 a 20 anos. De outubro de 2003 para cá, o IPCA+6% rendeu 999,51%, contra 895%do Ibov e 816,94% do CDI, segundo os dados da Economática. (ver quadro mais abaixo).
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Agora, com a escalada mais forte dos juros americanos, os títulos IPCA+ – que são ajustados pela inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – voltaram a rodar próximos dos 6%, num nível de retorno que marca um ponto de entrada bastante valorizado pelo mercado.
“Essa rentabilidade de 6% acima da inflação acabou virando um parâmetro. É um ponto de entrada e grande parte dessa demanda vem de fundos de pensão”, diz Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos. Os fundos têm cálculos atuariais para bater cuja a referência é, justamente, o IPCA+6%.
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Nesta segunda-feira (23), o site do Tesouro Direto marcava o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029 a 5,79%. Títulos mais longos, como o Tesouro Renda+, com vencimentos a partir de 2040 já superavam o retorno de 6%.
Movimento de alta nos EUA
Este movimento acontece depois de um breve recuo. Nos últimos meses, os títulos do governo indexados à inflação perderam um pouco da atratividade, com as taxas de juros futuros caindo e chegando próximas aos juros reais de 5%. O movimento de alta nos juros nos Estados Unidos, contudo, terminou contaminando o cenário brasileiro, mesmo com o Banco Central (BC) em ciclo de corte da Selic.
Além do cenário externo, Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do Grupo SWM, cita as pautas fiscais como outro motivo de atenção em relação aos ativos longos. “A consolidação de uma visão mais conservadora sobre a manutenção de um aperto monetário por mais tempo lá fora e de uma menor probabilidade de um déficit zero em 2024 aqui no Brasil tendem a continuar ditando a performance dos juros longos”, diz.
O gestor de carteira da Criteria Investimentos, e colunista do E-Investidor, Vitor Miziara, lembra que o IPCA+6% não é uma referência apenas para os investidores. Muitos gestores usam a marca como benchmark para suas performances. “A maioria dos gestores vai atrás e tenta bater, mas quase nenhum consegue, 96% dos fundos não batem esse valor”, diz.
Quando os títulos começam a pagar este nível de juros reais, há uma tendência de realocação de carteira, com os fundos reduzindo exposição em Bolsa e CDI para comprar os títulos do governo.
Perpetuação de patrimônio
Miziara diz que, num corte temporal de 30 anos, o CDI consegue bater os juros reais de 6%, mas ele lembra que este período é distorcido pelos juros do Plano Real, quando as taxas chegaram a alcançar os 45% ao ano, em março de 1999. “Este é um cenário totalmente diferente de hoje”, afirma.
O IPCA+6% também aparece como uma estratégia eficiente de perpetuação de patrimônio. Os títulos atrelados à inflação têm característica defensiva nos ciclos mais pessimistas da economia – ou seja, quando a inflação está maior – e também nos ciclos otimistas. “Com os juros caindo você consegue negociar esse título no mercado secundário com um bom prêmio”, diz Sueishi.
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