De um lado o atual ministro da Economia, Sergio Massa, candidato do tradicional grupo peronista de centro-esquerda e que foi o mais votado no primeiro turno – causando surpresa – com 36,68% dos votos.
Do outro lado, o economista libertário Javier Milei, que ficou conhecido por propostas polêmicas como extinguir o Banco Central e dolarizar a economia argentina. Apesar de liderar as principais pesquisas de intenção de voto, Milei ficou em segundo, com 29,98%.
E de um outro lado da fronteira, no Brasil, o processo eleitoral na Argentina é acompanhado com atenção, tanto por motivos políticos quanto econômicos.
Apesar da crise econômica vivida pelo país nos últimos anos, a Argentina ainda é um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que a Argentina é, há anos, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos (2º) e China (1º).
Em 2022, por exemplo, o Brasil exportou US$ 15,3 bilhões em produtos. Isso é o equivalente a 4,5% de todas as exportações brasileiras.
No mesmo ano, o Brasil importou US$ 13,09 bilhões, o que gerou um saldo positivo para o Brasil de US$ 2,21 bilhões.
Além disso, a Argentina é um dos membros fundadores do Mercosul, junto com Brasil, Uruguai e Paraguai.
Diante das incertezas sobre o resultado das eleições no país, especialistas brasileiros e argentinos ouvidos pela BBC News Brasil tentam apontar o que o Brasil teria a ganhar ou a perder no caso de uma vitória tanto de Massa quanto de Milei.
Propostas antagônicas
Analistas avaliam que a disputa eleitoral na Argentina tem como pano de fundo um grande tema: a crise econômica vivida pelo país nos últimos anos.
O país sofre com uma das piores taxas de inflação do mundo: 138% ao ano.
A inflação fora de controle, por sua vez, é apontada como um dos elementos responsáveis pela taxa de pobreza no país.
De acordo com os dados mais recentes, divulgados em setembro deste ano pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), vinculado ao governo argentino, 40% da população do país vive em situação de pobreza.
A título de comparação, um estudo produzido pela Universidade de São Paulo (USP) estima que, no Brasil, 21% da população viva na pobreza. Nesse cenário, parte importante do debate em torno das eleições se travou no campo econômico. Os dois candidatos prometem recuperar a economia argentina, mas usando caminhos diferentes.
Sergio Massa é um político ligado à corrente política peronista, fundada pelo ex-presidente Juan Domingo Perón nos anos 1940. O peronismo é, ainda hoje, considerada a principal força política argentina.
Ao longo de sua trajetória, ele chegou a ser próximo da família dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner, que também fazem parte do campo peronista. Nos últimos anos, porém, Massa se afastou do chamado “kirchenrismo” e se aproximou do atual presidente Alberto Fernández, também peronista.
Em 2022, ele assumiu o comando do Ministério da Economia.
Durante as eleições, Massa prometeu combater o avanço da inflação, gerar empregos, usar o estado como uma das forças de indução para o crescimento econômico, obter superávits fiscais (gastar menos recursos públicos do que arrecadar) e implementar políticas de assistência à população mais pobre.
No campo da política externa, Massa é visto como alguém próximo ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem já se encontrou. Essa proximidade, aliás, já foi alvo de críticas de Milei depois que uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo indicou que o governo brasileiro teria usado sua influência para liberar um empréstimo à Argentina e ajudar a candidatura de Massa.
O governo brasileiro, no entanto, negou que tivesse feito isso.
Do outro lado da disputa, Javier Milei se apresenta como representante do “anarcocapitalismo”, uma filosofia política e econômica que busca reduzir o papel do estado na economia e em outros aspectos da sociedade.
Ele defende, por exemplo, que as pessoas poderiam ter o direito de vender seus próprios órgãos.
Ele se formou em Economia na Universidade de Belgrano,e fez mestrado no Instituto de Desenvolvimento Econômico e…
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