Dos 21 pregões da Bolsa brasileira em outubro, 12 sessões foram de baixa, contra apenas nove pregões de alta. O Ibovespa fechou o mês com uma queda acumulada de 2,94%, aos 113.143,67 pontos, consolidando o índice como o terceiro pior investimento do período, atrás de empresas pagadoras de dividendos (representadas pelo IDIV) e Small Caps (empresas de baixa capitalização). O levantamento foi feito pelo consultor financeiro Einar Rivero.
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Por trás do cenário amargo, há três fatores determinantes que explicam a performance do principal indicador de ações da B3: o avanço dos títulos do Tesouro Americano, considerado o principal driver para a queda do IBOV, a guerra em Israel e os ruídos em relação ao fiscal no Brasil.
Sobre o Tesouro Americano, os “treasuries”, como são conhecidos os papéis de dívida, se mantiveram em patamares elevados durante todo o mês. O título americano de prazo para 10 anos, uma das principais referências desse mercado de dívida, viu seus rendimentos subirem de 4,18% para o patamar recorde de 4,89%, segundo dados de Rivero e Investing. A escala dos “T-Notes” no mês ocorre na esteira da percepção de que os EUA terão juros altos por mais tempo.
Para conter a inflação no país, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) passou a subir os juros, hoje entre 5,25% e 5,5% ao ano, maior nível em 22 anos. E a expectativa é de que a autoridade monetária continue a elevar as taxas, já que a economia americana não dá sinais de desaquecimento.
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“A economia americana ainda está acelerando e os dados de emprego também estão fortes”, afirma Bruce Barbosa, sócio-fundador e analista de ações da Nord Research. “O Fed foi claro e sinalizou que precisaria manter os juros mais altos por mais tempo, até ameaçou subir a taxa um pouco.”
Por aqui, entretanto, juros altos nos EUA significam diminuição da atratividade do mercado acionário. Isto porque as treasuries são consideradas os ativos mais seguros do mundo e, quando as taxas desses papéis sobem, os investidores globais engatam um movimento de evitar riscos, principalmente em países emergentes, e voarem para a renda fixa americana.
De acordo com a B3, entre 1 e 26 de outubro, o fluxo de investimento estrangeiro na bolsa brasileira estava negativo em R$ 2,5 bilhões. “Outubro foi mais um mês em que o ambiente fora do Brasil deu as cartas”, afirma José Cataldo, head de research da Ágora Investimentos. “Houve uma preponderância global sobre o ambiente local.”
Essa também é a visão de Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club. “Só vai ocorrer uma virada nesse fluxo de capital estrangeiro na B3 e no Ibovespa quando a situação nos EUA se acalmar. Enquanto as treasuries estiverem com uma volatilidade muito grande, não sabemos o que vai ser do Brasil e dos demais mercados emergentes”, afirma. “As taxas nos EUA precisam estabilizar, mesmo que em um patamar mais alto.”
Em paralelo, a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, iniciada em 7 de outubro, também intensificou a aversão a risco no mês. No primeiro pregão após o início dos conflitos (9 de outubro), os barris de petróleo Brent e WTI avançaram 4,22% e 4,34%. Contudo, os impactos sobre os ativos devem se restringir ao curto prazo.
“Nos primeiros dias havia o receio de que o conflito escalasse e tomasse uma proporção maior, envolvendo outros países do Oriente Médio, como o caso do Irã (produtor de petróleo)”, afirma Bassotto. “Como vimos, o conflito não escalou e até o temor que tínhamos em relação ao impacto no petróleo, já está se dissipando.”
Já para Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, se a escalada do conflito está saindo do radar, as altas recentes do petróleo podem…
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