O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, tem dado sinais de que vai cumprir o compromisso de campanha de acabar com o Banco Central do país e dolarizar a economia. A medida é considerada extrema por economistas.
“Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar (a economia) é uma maneira de nos livramos do Banco Central”, declarou Milei, na última segunda-feira (20).
- O presidente eleito propôs, no entanto, que a moeda adotada por seu governo “seja aquela escolhida pelos indivíduos”.
- No discurso da vitória, no fim de semana, ele não mencionou essas ações, mas disse que a crise exige medidas drásticas, “sem gradualismos”.
O fechamento do Banco Central argentino significa que o país não poderia mais fixar sua taxa básica de juros, instrumento tradicional para tentar conter a disparada dos preços em várias nações, e nem emitir moeda (quantidade de recursos disponíveis na economia).
Com o fim do BC, em tese, o governo também estaria abdicando de uma instituição que emprestasse recursos aos bancos no fim do dia para fechar o seu caixa, e que regulasse o sistema financeiro, evitando operações irregulares, prejuízo aos clientes e eventuais crises de confiança bancárias.
Em sua página na internet, o BC brasileiro, que conta com autonomia operacional, diz que sua missão institucional é “assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda [controle da inflação] e um sistema financeiro sólido e eficiente”.
O g1 entrou em contato com ex-diretores da autoridade monetária brasileira. E perguntou quais poderiam ser as consequências de não ter um Banco Central, e como seriam levadas adiante as políticas que não serão mais executadas pela instituição (veja mais abaixo nessa reportagem).
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O novo presidente argentino assume o governo em meio a um cenário adverso, com inflação em torno de 120% — a maior em cerca de 30 anos.
Ao todo, aproximadamente 11,8 milhões pessoas estão abaixo da linha da pobreza, o que representa 40,1% da população do país.
Além disso, a nação vizinha conta com uma dívida externa bilionária, problema que é agravado pela falta de reservas internacionais.
Desde 2019, vigora na Argentina um sistema de controle de câmbios, e vários tipos de câmbio funcionam em paralelo ao oficial.
Para atacar esses problemas, Milei propõe, além da dolarização, reduzir o tamanho do Estado com corte de gastos públicos e venda de empresas estatais — medidas tradicionais do receituário liberal.
“O pressuposto para outros passos, no sentido de dolarização, é que você tenha superávit fiscal [nas contas públicas]. Porque você perderá a capacidade de emitir moeda [sem o BC]. Se conseguir controlar os gastos, vai reduzir o ímpeto inflacionário”, disse Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC entre 1999 e 2003.
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Dolarização da economia
Se for plena, a dolarização da economia representaria a substituição do peso argentino pelo dólar, mas economistas indicam que outra alternativa poderia ser indexar o peso à moeda norte-americana. Ainda não há detalhes sobre o que será feito.
Com a dolarização, o temor é que haja escassez de moeda para pagamentos por cidadãos comuns e empresas. E que isso também possa gerar dificuldades de exportação, dependendo da cotação do dólar e de outras moedas, como o Real, além da perda de atração do setor turístico local.
Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC em 2015 e 2016, explicou que, antes de dolarizar a economia, a Argentina teria de apresentar um plano para “estocar” dólares e tornar isso possível. Um caminho seria uma desvalorização adicional do peso, que contribuiria para aumentar as exportações.
“O ajuste seria sem dúvidas recessivo. Contrai a demanda interna para ter um saldo de exportação mais alto. Teriam de reestruturar a dívida deles, parte chinesa e parte do FMI, para ter uma estocagem efetiva. É…
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