- Author, Mariana Sanches
- Role, Da BBC News Brasil em Washington
Às vésperas de viajar para a 28a Conferência do Clima da ONU em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, adiantou à BBC News Brasil que a instituição que ele dirige será o primeiro banco multilateral a triplicar os recursos investidos em projetos de financiamento de combate às mudanças climáticas, atendendo a um chamado feito pelos líderes do G-20 em setembro último.
Segundo o brasileiro Goldfajn, o montante destinado pelo banco à sustentabilidade passará de US$ 50 bilhões, nos últimos dez anos, para US$ 150 bilhões, na próxima década.
Na carta de beneficiados, há variedade: serão US$ 1,2 bilhão para a conservação do arquipélago de Galápagos, no Equador, e US$ 350 milhões para Recife reformar seu sistema de drenagem e contenção de encostas.
Serão US$ 400 milhões para a descarbonização da República Dominicana e US$ 750 milhões de dólares para pequenos e microempreendedores sustentáveis na Amazônia brasileira.
Em meio a questionamentos e pedidos de reforma de líderes globais, entre os quais o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, os bancos multilaterais como o BID ou o Banco Mundial têm sido questionados sobre seu empenho em garantir investimentos em sustentabilidade econômica e ambiental.
Goldfajn admite a necessidade de reformas, mas as atrela ao processo de entendimento dos governos e da sociedade sobre a urgência da discussão climática.
“É verdade que há um amadurecimento sobre a questão do aquecimento global, já está muito claro que a região (das Américas) está enfrentando uma quantidade de choques climáticos”, diz ele, citando o recente e devastador furacão Otis em Acapulco.
Eleito para a presidência do banco depois que seu antecessor, Mauricio Claver Carone, indicado por Donald Trump, foi retirado do posto por escândalos corporativos, Goldfajn fez campanha defendendo que o BID fosse mais técnico e menos ideológico.
Ele próprio, porém, quase foi alvejado politicamente na transição entre o governo Bolsonaro e o governo Lula.
Ex-presidente do Banco Central de Michel Temer, Goldfajn viu sua candidatura ao BID ameaçada por uma declaração do ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, Guido Mantega, sugerindo que a escolha do brasileiro, o primeiro a ocupar a presidência do banco, fosse postergada.
Então presidente eleito, Lula desfez o mal-estar mais tarde ao mandar recados de que não se opunha ao nome de Goldfajn.
Prestes a assumir a presidência do grupo de bancos multilaterais globais, Goldfajn tenta manter um perfil politicamente discreto e se recusou, por exemplo, a comentar as possíveis reformas monetárias – como a dolarização – que o recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, prometeu fazer.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil na sala da presidência do BID, na sede do banco, em Washington D.C.
BBC News Brasil – Em setembro, os líderes do G-20 pediram aos bancos multilaterais que financiam projetos sustentáveis e para superação da pobreza. Há uma noção de que os bancos não têm servido ao seu objetivo primordial de desenvolvimento e que precisaria de respostas. Como o BID quer responder a isso?
Ilan Goldfajn – Eu acho que cada um tem que fazer sua parte. O que está claro é que o desafio é grande, que precisa levar em conta os vários aspectos do desenvolvimento, como a sustentabilidade social, a questão da pobreza, a questão do clima, a sustentabilidade econômica. E os bancos multilaterais são um reflexo de todo mundo, de todos nós, dos governos, da nossa capacidade de enfrentar o desafio.
Quando se fala em reformas dos bancos, eu diria que é uma nova visão global do que a gente quer fazer em relação ao clima, porque obviamente muitas vezes os recursos você tem disponível depende da capacidade que você tem na capitalização, de poder trabalhar, dos limites que te dão, na capacidade de risco que você tem para tomar. Obviamente tem muita coisa para melhorar nos…
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