O Banco Central realizou na última quarta-feira (13) um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, que encerrará o ano a 11,75%, depois de passar oito meses no patamar de 13,75%. Em entrevista ao E-Investidor, Daniel Leal, que é estrategista de Renda Fixa da BGC Liquidez e foi analista licenciado do Tesouro Nacional durante 9 anos, afirmou que mesmo com as novas reduções esperadas para 2024 a Selic não voltará tão cedo ao nível pré-pandemia, quando estava na casa dos 4,5% a 5%.
Embora os juros altos favoreçam os investimentos em renda fixa, Leal também ressaltou que a Selic mais baixa estimula o crescimento da economia real, oferecendo oportunidades de maiores retornos para as aplicações na renda variável.
Para o estrategista, o investidor deve ficar atento ao comportamento dos juros nos Estados Unidos nos próximos meses, cuja movimentação ajudará a traçar os limites para a queda das taxas no Brasil.
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E-Investidor – Os cortes nas taxas de juros no Brasil e nos EUA podem levar a uma busca maior pela renda variável ano que vem?
Daniel Leal – O Brasil já vinha com uma onda de otimismo em razão do arcabouço fiscal, que se refletiu na bolsa de valores e se reverteu no ciclos de cortes, que vai continuar no Brasil. Nos Estados Unidos, existem apostas de que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, comece a cortar os juros logo no início do ano. O call da casa é que seja mais para o terceiro trimestre. Mas isso já é uma notícia positiva, tendo em vista que a sinalização é de que seriam taxas longas por mais tempo. E isso acaba impactando não só a velocidade do nosso ciclo de corte de juros, mas também até onde ele pode ir. Quando o BC começou a cortar os juros, o mercado estava bem otimista e se falava até em Selic abaixo de 9%. Hoje, você vê a mediana das expectativas em 9,5%. Alguns mais pessimistas veem a Selic terminal em 10%.
O que explica o otimismo atual do investidor na Bolsa?
Estamos saindo um pouco desse ciclo de aperto monetário que tirou muita gente da bolsa e jogou para a renda fixa, pois é difícil competir com taxas tão restritivas. Ano que vem é um ano de inflexão e muitas pessoas vão voltar para a bolsa. Mas eu teria muita atenção com a reforma tributária também. Em geral, ela será positiva para o País e para as empresas, ao descomplicar esse arcabouço tributário. Mas da forma como ela vai ser feita, vai haver um aumento da carga tributária para alguns setores. O mercado de renda fixa vai continuar robusto ainda para o ano que vem. Que pese essa redução de juros que a gente deve observar, você ainda está com retornos historicamente bons.
A taxa Selic pode voltar ao patamar de 2%?
Acredito que não vamos ter uma taxa baixa como vimos antes da pandemia. A Selic vai rondar ali perto dos 9,5% em um primeiro momento. Só quando o exterior voltar com taxas mais baixas é que vamos ter uma compreensão maior sobre a possibilidade de voltar a um patamar próximo de 8%. As questões lá fora são desafiadoras. Não só as geopolíticas que ainda impactam, como a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio, mas também porque os Estados Unidos ainda vão iniciar um ciclo de corte de juros. Vamos ver a curva de treasuries um pouco mais inclinada do que observamos em um passado mais recente, até porque não está com uma demanda tão expressiva de tradicionais investidores que são Japão e China. E os treasuries deixaram de ter um dos maiores compradores de título longo, que era o Fed. Isso acaba impactando todas as economias do mundo.
Para o investidor, é melhor ter a Selic mais baixa?
Um patamar de juros mais baixos e inflação controlada gera um ambiente de negócios mais favorável, com mais investimentos na indústria e na economia real. Isso significa mais…
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